quarta-feira, 9 abril 2025

PF prende Joesley Batista na Operação Capitu

O empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, o vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB), o ex-ministro Neri Geller (PP-MT) e o deputado estadual João Magalhães (MDB-MG) foram presos ontem na Operação Capitu.

Deflagrada pela Polícia Federal (PF), a operação investiga suposto esquema de corrupção no Ministério da Agricultura em 2014 e 2015, quando Andrade e Geller foram ministros na gestão de Dilma Rousseff (PT).

Também alvo da operação, o executivo Ricardo Saud (ex-diretor da J&F, holding que controla a JBS) está na sede da PF.
A PF cumpre 63 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão temporária em cinco estados: Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso. Apenas em Belo Horizonte são cumpridos 26 mandados.

Os mandados foram expedidos pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) e mobilizam 310 agentes da Polícia Federal.
Seis foram presos em BH, cinco em São Paulo, dois em Brasília, um em Mato Grosso, um em Vazante (MG) e um no Paraná, o de Eduardo Cunha, que já está preso. A PF tenta localizar Odo Adão Filho e Florisvaldo Caetano de Oliveira. Waldir Rocha Pena é sócio da rede de supermercados envolvida na lavagem de dinheiro e estava de férias no Uruguai, mas irá se entregar, segundo a PF.

Em 2016, Odo Adão chegou a ser preso na Operação Aequalis -deflagrada na apuração de um esquema de desvio de recursos públicos de um centro de pesquisas da Fundação Hidroex, órgão do governo mineiro, em Frutal (MG).

Segundo a versão da PF, a operação é baseada na delação de Lúcio Funaro (apontado como operador financeiro do MDB), que disse que havia um esquema de distribuição de suborno pela JBS para políticos do MDB e servidores dentro do Ministério da Agricultura, na gestão de Antonio Andrade.

Em troca do dinheiro, eram aprovadas medidas que beneficiariam os empresários. Segundo a investigação, entre as medidas, estavam licenciamentos e normas do ministério que, na prática, eliminaram a concorrência da empresa no mercado de carnes.
“Todos esses fatos só são investigados porque Joesley entregou dados e documentos à Polícia Federal. A prisão merece ser reconsiderada”, disse Pierpaolo Bottini, um dos advogados de defesa.

Segundo a delação de Funaro, a JBS também teria repassado cerca de R$ 7 milhões ao MDB na Câmara. Esta propina, de acordo com a PF, era negociada com o então deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ) e entregue aos demais políticos e servidores da pasta por Funaro.

Em contrapartida, o ministério beneficiou a JBS com determinações como a regulamentação da exportação de despojos, a proibição do uso da ivermectina (remédio que combate verminoses e parasitas) de longa duração e a federalização das inspeções de frigoríficos. Pela primeira medida, foram pagos R$ 2 milhões e pela segunda, R$ 5 milhões.

O então deputado federal Manoel Junior (PSC-PB), atual vice-prefeito de João Pessoa, teria recebido, segundo a PF, R$ 50 mil pela tentativa de promover a federalização das inspeções sanitárias por meio de uma emenda em medida provisória de 2014 que tratava de assunto diverso, o licenciamento de farmácias.

O inquérito apurou ainda que a JBS financiou ilegalmente, com R$ 30 milhões, a campanha de Cunha para a presidência da Câmara. Metade da verba foi repassada a Andrade, que por sua vez redistribuiu parte dos recursos entre a bancada mineira.
O esquema de lavagem envolveu seis escritórios de advocacia, que intermediaram os pagamentos por meio de notas fiscais frias.

OMISSÕES LEVARAM A NOVA PRISÃO DE DELATORES DA EMPRESA
A prisão de três empresários da JBS, que são delatores da Lava Jato, foi necessária, segundo a Polícia Federal de Minas Gerais, responsável pela operação deflagrada ontem, porque os colaboradores omitiram informações.

“A Polícia Federal descobriu omissões intencionais e contradições graves que colocam em xeque a credibilidade da colaboração, isso caracterizou obstrução de justiça e prejuízo à instrução criminal do inquérito policial instaurado”, afirmou Mário Veloso, delegado responsável pela investigação.

“Mentiram e omitiram em alguns pontos. Há indícios muito fortes sobre isso. Por isso as prisões foram expedidas”, disse o delegado em entrevista coletiva na sede da PF em Belo Horizonte.

Em maio, a Polícia Federal de Minas instaurou um inquérito para apurar fatos narrados na delação da JBS, como um desmembramento determinado pelo próprio Supremo Tribunal Federal à época da homologação da delação. O objetivo era investigar pagamento de propina no Ministério da Agricultura e a políticos do MDB em troca de benefícios para a empresa.

Outro ponto omitido foi o pagamento de R$ 50 mil ao então deputado federal Manoel Junior (MDB-PB) para que ele promovesse a federalização das inspeções sanitárias por meio de uma emenda.

PRISÃO NÃO FAZ SENTIDO, DIZ ADVOGADO 
Segundo apurou a reportagem, os advogados vão argumentar que não há motivo para a prisão e, mesmo que houvesse, seus objetivos -ouvir os suspeitos e fazer busca e apreensão de documentos- já foram cumpridos.

Bottini diz que a prisão do empresário não faz sentido, porque os crimes investigados fazem parte de sua delação, e seu acordo de colaboração premiada continua válido. O advogado ressalta ainda que Joesley já prestou depoimento nesse inquérito.

Segundo a defesa, Joesley e Saud prestaram três depoimentos cada um no inquérito sobre essas investigações, apresentando planilhas, documentos e relatos escritos.

Outro advogado da defesa, André Callegari, diz que Joesley Batista tem cumprido à risca a função de colaborador da Justiça.

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