A Polícia Federal vai apurar interferências na investigação do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em março deste ano. O Ministério Público e a polícia civil estaduais seguem na apuração do homicídio em si que, depois de quase oito meses, ainda não tem nenhum responsável identificado.
O anúncio da atuação da PF foi feito pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em entrevista coletiva ontem, em Brasília. Segundo ele, o Ministério Público Federal obteve dois depoimentos com denúncias de que uma organização criminosa teria atuado para desviar as investigações e dificultar a identificação dos autores e mandantes do assassinato. A PF entra no caso, depois de um pedido da Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge.
De acordo com as informações obtidas, que o ministro classificou como “gravíssima denúncia”, a organização criminosa envolveria a atuação de criminosos, contraventores, milícias e agentes públicos de diversos órgãos, inclusive relacionados ao caso. Perguntado se as testemunhas teriam apresentado provas, Jungmann disse que os indícios de práticas de corrupção, ocultamento e compra de agentes públicos para impedir a descoberta dos mandantes do crime foram relevantes.
O ministro, contudo, não quis revelar mais detalhes quanto a quais agentes de que órgãos estariam envolvidos nesse grupo. Jungmann também não informou o que acondeceu com os denunciantes, apenas comentou que um dos depoimentos teria sido tomado no Rio de Janeiro e outro fora. As oitivas teriam ocorrido no último mês.
INVESTIGAÇÕES
Segundo o titular da Segurança Pública, o inquérito da Polícia Federal correrá paralelamente às investigações conduzidas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e não configura federalização do caso.
Contudo, Jungmann afirmou que as duas investigações podem cooperar e trocar informações. “Se o caso Marielle ajudar a desvendar quem está obstruindo e se, inversamente, a busca da investigação de quem está promovendo isso, segundo a testemunha, ajudar o caso Marielle, ótimo. Embora as responsabilidades sejam distintas, sem sombra de dúvida a cooperação deve ajudar mutuamente a elucidação tanto de um caso quanto de outro”.
Em agosto, o ministro afirmou que a Polícia Federal estaria pronta para assumir a investigação completa do caso se ele fosse federalizado. Mas para isso a PGR teria de entrar com um pedido junto ao Superior Tribunal de Justiça chamado Incidente de Deslocamento de Competência (IDC), o que não ocorreu até o momento.
A vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março deste ano. Ela levou quatro tiros e Anderson, três. Eles saíam de um evento político e foram assassinados quando estavam dentro do carro no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Qual a principal suspeita da polícia?O chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, admitiu que o crime pode ter sido uma “execução”, mas afirmou que a investigação está sob sigilo. Os indícios são fortes de que tenha ocorrido um crime de encomenda porque nada do carro foi levado, o que enfraquece a possibilidade de assalto.
Existe algum suspeito preso?Sim. Cinco suspeitos estão presos, mas cumprem penas por outros crimes. São eles: o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, apontado como chefe de uma quadrilha de milicianos que atua na zona oeste carioca; o ex-bombeiro Luis Claudio Ferreira Barbosa e outro ex-PM Alan Nogueira -a presença dele no carro que foi usado pelos criminosos para perseguir e matar Marielle ainda é investigada pela polícia. Os três estão detidos por envolvimento em um crime de 2017.
A vereadora tinha sido ameaçada?Segundo o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), ela não chegou a receber ameaças formalmente, mas sua militância, engajada na proteção de vidas de moradores de comunidades, principalmente contra mortes praticadas por policiais, pode ter sido uma das motivações.