Onze pessoas foram indiciadas pelo caso de intoxicação de clientes que consumiram as cervejas da marca Backer, fabricadas em Belo Horizonte. A polícia indiciou sete por homicídio culposo, lesão corporal e intoxicação de produto alimentício, um ex-funcionário por prestar falso testemunho e obstruir investigações e três sócios por não terem feito recall do produto colocado à venda.
Os consumidores se contaminaram devido a presença de dietilenoglicol, substância tóxica, de uso comum na indústria, como resfriador, na cerveja fabricada em Minas Gerais. Pelo menos 29 pessoas foram atingidas– sete morreram.
A conclusão do inquérito foi apresentada nesta terça-feira (9). A polícia descartou a possibilidade de sabotagem e afirmou que a contaminação ocorreu dentro da fábrica, por acidente.
O delegado responsável diz que os técnicos não atuaram com dolo (intenção), mas houve imperícia. Seis pessoas, entre técnicos e gestores, respondem dolosamente pela contaminação, devido à responsabilidade que tinham na linha de produção.
A investigação foi concluída confirmando contaminação pelo dietilenoglicol em sete mortos e 22 vítimas ainda vivas – dez casos foram descartados no decorrer das investigações por questões investigativas e médicas.
Outros 30 casos estão em análise. O número de vítimas pode aumentar, de acordo com o delegado Flávio Grossi. Elas poderiam retardar a conclusão do inquérito, caso fossem consideradas agora, diz ele.
“Os fatos investigados aqui delimitam duas condutas; uso incorreto do equipamento e descontrole [do uso] dessa substância. Se houvesse alguém para interromper, isso não aconteceria”, diz ele.
O delegado afirmou ainda que a Backer não tinha conhecimento do uso do dietilenoglicol na fábrica, já que usava o monoetileno, ambos produtos são tóxicos e têm propriedade similares de anticongelante. Para a investigação, a questão porém não é relevante para o caso, já que qualquer um dos dois poderia ter causado danos às vítimas. Grossi diz que o ponto importante é que a empresa estava usando um produto tóxico onde não poderia.
O delegado afirmou que devido a um problema na solda de um cano de um tanque, a substância tóxica foi despejada diretamente dentro da cerveja, que era engarrafada para venda. O líquido ficava 14 dias dentro do tanque para maturar.
Entre os pontos em comum identificados nas vítimas, segundo a polícia, estão sintomas compatíveis com a síndrome nefroneural –com danos aos rins e ao sistema neurológico. Todos consumiram a cerveja Belohorizontina.
O caso começou a ser investigado em janeiro, depois de várias pessoas, a maioria delas do bairro Buritis, em Belo Horizonte, começarem a aparecer com sintomas similares, no que foi inicialmente identificado como uma doença misteriosa. Duas famílias levantaram a suspeita de que a cerveja, único produto consumido em comum por seus familiares que ficaram doentes, poderia ser a origem.
Segundo a investigação da Polícia Civil, os níveis de dietilenoglicol identificados na análise da bebida apontam que uma garrafa poderia ser suficiente para matar uma pessoa, enquanto outros poderiam ingerir, sem sentir efeitos.
As festas de fim de ano e uma promoção na chamada Black Friday teriam levado várias das vítimas a consumirem a cerveja em altas quantidades a partir de dezembro.
Por meio de nota, as vítimas do caso dizem que a conclusão do inquérito reforça a responsabilidade da cervejaria e afirmam que estão desamparadas, sem auxílio da empresa para tratamentos de saúde.
“A conclusão do inquérito demonstra o completo descontrole da Backer diante dos produtos oferecidos à população, manchando a imagem de Minas Gerais e principalmente do setor cervejeiro-artesanal. O que se espera é justiça para as vítimas, suas famílias e toda a sociedade mineira. Não existem mais desculpas para que a Backer deixe de prestar auxílio aos envenenados”, diz o texto.
A Backer diz que irá honrar com suas responsabilidades com a Justiça, com as vítimas e com consumidores. A empresa completou que irá se posicionar sobre o inquérito depois que seus advogados analisarem o relatório.