Repetindo medida adotada no governo de Donald Trump, o primeiro voo com imigrantes deportados dos Estados Unidos de volta ao Brasil durante a gestão de Joe Biden aterrissou na tarde desta sexta-feira (21), no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na região metropolitana da capital mineira -os passageiros vieram algemados nas mãos e nos pés.
O grupo que desembarcou é formado por 30 pessoas, conforme relatos dos imigrantes. Com o voo desta tarde, o total de brasileiros deportados dos Estados Unidos entre 26 de outubro de 2019 e esta sexta-feira é de 1.225. Foram 23 aterrissagens até agora.
Diferentemente da maioria dos voos fretados pelos EUA durante o governo Trump, o avião que aterrissou nesta sexta em Minas não trouxe famílias com crianças, e havia apenas uma mulher. Os deportados embarcaram na cidade de Florence, no Arizona.
Todos os voos com imigrantes regulares ao Brasil chegaram por Confins -Minas Gerais é um dos estados brasileiros com maior número de pessoas que tentam entrar nos EUA de forma irregular pelo México.
“É um sonho que ainda quero realizar”, disse Régis Paulo Pacheco, 31, um dos deportados. “Eu queria trabalhar, juntar dinheiro. Agora são cinco anos sem poder tentar voltar.”
Morador de São João do Manteninha, na região leste de Minas, onde trabalhava em uma fábrica de roupas íntimas e deixou uma filha de sete anos, Pacheco foi detido na fronteira no dia 5 de março.
De lá, ele foi enviado a um centro de detenção no Arizona, onde ficou até embarcar no voo de volta –quando se incomodou com as correntes usadas para prender punhos e tornozelos durante a viagem.
Ao contrário de deportados que chegaram ao Brasil ainda durante o governo Trump, no entanto, que reclamavam da comida e do tratamento dos agentes de imigração, Pacheco afirmou que a comida não era ruim e que não houve maus tratos por parte de funcionários do centro de detenção.
O ex-taxista Elias Dorneles Silva, 51, de Belo Horizonte, também reclamou apenas das correntes. “Isso é muito ruim. Chegar aqui assim.”
Silva foi preso no dia 21 de abril, também ao atravessar a fronteira do México, mas foi encaminhado primeiro para San Diego e de lá para o Arizona.
Ele disse que tentaria trabalhar no setor de construção civil americano. “Estava muito ruim aqui. Tentei ir para lá.”
A trabalhadora autônoma Dayane Oliveira, moradora de Betim, na Grande Belo Horizonte, chegou cedo ao aeroporto para esperar o irmão, Alexandre Oliveira, 36, mesmo sem saber se ele estaria no voo.
Ela conta que tinha falado com ele cinco dias atrás e que ambos imaginaram que a volta dele poderia ocorrer nesta sexta, mas ele não veio.
Alexandre Oliveira, que também é de São João de Manteninha, trabalhava na zona rural e viajou para os Estados Unidos deixando a mulher e dois filhos, de 6 e 11 anos. Foi preso na fronteira no dia 10 de março.
“Ele queria ganhar a vida lá”, diz a irmã.
Assim como ele, muitos brasileiros usam o esquema dos chamados coiotes, que cobram para tentar viabilizar a travessia irregular, muitas vezes prometendo facilidades maiores do que as que os brasileiros encontram quando já estão no meio da caminho.