Subiu para três o número de manifestantes mortos durante os protestos neste sábado (20) contra o golpe de Estado dado pelos militares em Mianmar em 1º de fevereiro. De acordo com serviços de emergência de Mandalay, a segunda maior cidade do país, mais de 20 pessoas ficaram feridas e duas morreram em decorrência de disparos feitos pelas forças de segurança que reprimem os atos.
“Um baleado na cabeça morreu no local. Outro morreu depois, com um ferimento a bala no peito”, disse um médico voluntário à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato. As duas vítimas, cujas identidades ainda não foram divulgadas, juntam-se a Mya Khaing, que teve a morte confirmada nesta sexta (19), dez dias depois de também ter sido baleada na cabeça durante protestos na capital do país, Naypyitaw.
O porta-voz da junta militar afirmou que o caso de Mya será investigado, mas as autoridades ainda não se manifestaram publicamente a respeito das duas mortes deste sábado.
Os incidentes corroboram relatos de que a polícia pode estar usando munição letal – além das balas de borracha, canhões de água e gás lacrimogêneo- contra os manifestantes, mas a repressão violenta não esmoreceu o ânimo das multidões que continuam indo às ruas diariamente há mais de duas semanas.
“Eles podem derrubar uma jovem, mas não podem roubar a esperança e a determinação de um povo determinado”, escreveu no Twitter o enviado especial da ONU para os direitos humanos em Mianmar, Tom Andrews.
Nesta sábado, grupos de jovens fizeram novas homenagens a Mya durante protestos em Rangoon e em Naypyitaw. “A tristeza pela morte dela é uma coisa, mas também temos coragem de continuar por ela”, disse o estudante Khin Maw Maw à Reuters. Nas redes sociais, a jovem, que completou 20 anos na quinta-feira (18) em coma, um dia antes de morrer, vem sendo chamada de heroína e mártir.
“Expressamos nossas mais profundas condolências à família dela e a todos os feridos durante os protestos pacíficos em Mianmar”, disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, nesta sexta. “Condenamos toda a violência contra o povo de Mianmar e reiteramos nossos apelos ao Exército para não recorrer à violência contra manifestantes pacíficos.”
Além de Naypyitaw, Rangoon e Mandalay, os atos deste sábado se espalharam por várias regiões do país. Os confrontos têm sido recorrentes: cenas de manifestantes lançando pedras contra os policiais que, por sua vez, respondem com gás lacrimogêneo e tiros -embora nem sempre esteja claro que tipo de munição eles estão usando- tornaram-se comuns desde o golpe de 1º de fevereiro.
Os atos pedem o fim da ditadura, a revogação da Constituição de 2008, considerada favorável ao Exército, e a libertação de presos políticos, como Aung San Suu Kyi, conselheira de Estado de Mianmar e, na prática, líder do governo civil deposto pelos militares. Desde a tomada de poder, 546 pessoas foram detidas pela junta que agora governa o país, de acordo com a Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos de Mianmar.