quarta-feira, 27 novembro 2024

Racionamento de água já afeta cidades do interior de São Paulo

Moradores de Itu (a 101 km de São Paulo) ouvidos pela reportagem temem que a cidade retorne ao drama de 2014, quando permaneceu por 10 meses no mais longo racionamento de água de sua história 

Falta de água | Cidade do interior já começam a fazer rodizio ( Foto: Agência Brasil)

Com a queda nos níveis dos reservatórios e o período de estiagem algumas cidades do interior de São Paulo já passaram a adotar algum tipo de racionamento de água.

Moradores de Itu (a 101 km de São Paulo) ouvidos pela reportagem temem que a cidade retorne ao drama de 2014, quando permaneceu por 10 meses no mais longo racionamento de água de sua história.

Desde a semana passada, a cidade, de 170 mil habitantes, entrou em rodízio, medida que, segundo a CIS (Companhia Ituana de Saneamento), foi necessária para enfrentar um deficit de chuva considerado severo e que pode ser o pior em 91 anos.

Segundo a CIS, os mananciais de Itu operam hoje com 32% da capacidade e não está descartada a possibilidade de o racionamento ser ainda mais amplo do que é hoje. A bacia do São José (Fubaleiro), um dos mais importantes mananciais da cidade, está praticamente seca.

O rodízio em Itu varia de acordo com a região. Em algumas, o corte se dá dia sim, dia não. Em outras, o abastecimento é interrompido às segundas e às quintas, por exemplo, mas em quaisquer circunstâncias, os transtornos têm sido enormes.

A dona de casa Maria Gervásio, 57, conta que apesar do rodízio da região onde mora prever abastecimento dia sim, dia não, as torneiras de sua casa, na Vila Santa Rosa, estão secas há cinco dias. “Estamos vivendo uma situação horrível. Tenho conseguido diminuir o problema, porque vou buscar água numa mina, que fica aqui perto de casa”, contou ela, na manhã de segunda-feira (12).

Mesma bica onde estiveram nesta terça-feira pela manhã (13) a operadora de caixa, Júlia Araújo Alves e o marido dela, James Carneiro.

Eles esperavam que haveria abastecimento no Parque das Rosas onde moram, mas isso não ocorreu. “Estamos sem água faz uma semana”, reclamou ela. “Pra beber, a gente está comprando água, mas para lavar roupa, tomar banho e todo o resto, a gente usa água da mina”.

Mas tem gente que vai até a bica em busca de água para consumo. É o caso, por exemplo, do contador João Fernando Franquini, que esteve na fonte pela manhã atrás de água para beber. “É boa”.

A auxiliar técnica de enfermagem, Rosana Aparecida dos Santos, também esteve na mina para pegar água para beber. “Acho que a água daqui é mais garantida que a da rua”, disse ela, que desde a semana passada convive com o problema de falta d´água no Parque América, onde mora.

Drama semelhante vive a auxiliar de produção Lucimary Pereira, que mora no bairro rural do Pinheirinho. “Estamos vivendo uma calamidade”, reclama ela. “Estou sem água desde o dia 5”, afirma. “Eu tenho de implorar para a prefeitura mandar uns caminhões-pipa. Pedi na segunda-feira cedo, mas até agora não chegou”, disse ela, nesta terça-feira, no final da manhã.

Lucimary tem um outro fator complicador. Ela e os dois filhos de 11 e 17 anos, foram infectados pelo vírus da Covid-19 e, assim, os três estão impedidos de sair de casa por conta dos protocolos sanitários.

“Sem água, a gente está tendo muita dificuldade em manter a higiene, por exemplo. Minha casa fede a cândida”, disse ela, referindo-se a água sanitária. “Quando alguém faz xixi, não damos descarga”, conta.

“Estamos diante da pior estiagem dos últimos 91 anos e sem registro ou previsões de chuvas até o momento”, explicou o superintendente da CIS, Reginaldo Santos. “Nota-se, portanto, que as barragens de captação estão operando cada vez mais abaixo de sua capacidade. Uma ampliação do rodízio já é avaliada internamente”, afirmou ele.

A aproximadamente 10 km de Itu, a cidade de Salto também entrou em rodízio no fornecimento de água. A cidade -de quase 120 mil habitantes- conta com duas estações de tratamento mas, nas duas, as captações têm sido menores que a demanda. A companhia de saneamento da cidade diz que não há prazo a duração do rodízio. “Dependemos de chuvas”, explica a empresa, em nota.

Rio Preto cava poços nos aquíferos Guarani e Bauru A 440 km a noroeste de São Paulo, São José do Rio Preto se debate com problemas de abastecimento de água já há quase dois meses. Segundo dados do Semae o volume de chuva no período de janeiro a julho deste ano é praticamente a metade do verificado no mesmo período de 2020.

O racionamento é feito das 13 às 20 horas, em 15 regiões da cidade. Atinge aproximadamente 100 mil pessoas.

“O racionamento é uma medida necessária para evitar a paralisação total da captação superficial no rio Preto”, diz o superintendente do Semae, Nicanor Batista Jr.

O superintendente garante que a companhia vem adotando medidas para evitar o racionamento nos próximos anos. “Perfuramos o 9º poço do Aquífero Guarani. O 10º está sendo perfurado e o 11º deve iniciar a perfuração ainda este ano. Além disso, no final do ano passado perfuramos sete poços no Aquífero Bauru”, garantiu.

Os aquíferos Guarani e Bauru formam um dos maiores reservatórios de água doce subterrânea do mundo.

Franca A cidade de Franca -a 400 km a nordeste do estado- estão de sobreaviso. A baixa pluviometria registrada no período de outubro de 2020 a março de 2021 ocasionou a maior queda da vazão dos mananciais que abastecem a cidade em duas décadas. A Sabesp informou que o abastecimento ainda é normal na cidade, mas a vazão vem diminuindo e, por isso, diz ter preparado duas novas fontes de captação. 

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