Com a piora da pandemia e o aumento de restrições a atividades, o setor de serviços amargou queda em março. Na comparação com fevereiro, o segmento registrou baixa de 4% no volume de negócios no país. Foi a primeira redução após dois avanços mensais e a maior desde abril de 2020.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o resultado nesta quarta-feira (12). Com a contração, o setor de serviços voltou a ficar abaixo do nível pré-pandemia, que havia sido recuperado no último mês de fevereiro. Está em patamar 2,8% inferior ao do segundo mês do ano passado.
Três dos cinco grupos de atividades contempladas pela pesquisa ficaram no vermelho em março. A maior baixa foi sentida pelos serviços prestados às famílias, que desabaram 27%. Dentro desse grupo, a queda mais intensa foi a de alojamento e alimentação, que recuou 28%.
Para Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE, os números refletem o impacto da pandemia em atividades que dependem da circulação de consumidores, incluindo hotéis, bares e restaurantes. Em março, devido ao avanço da Covid-19, governos estaduais e prefeituras elevaram restrições para tentar conter o coronavírus, o que afetou a atividade econômica.
“A pandemia impôs perdas importantes para empresas que têm perfil presencial de serviços”, pontuou Lobo.
Na comparação com março de 2020, o setor subiu 4,5%. Em igual mês do ano passado, a economia vivia os primeiros efeitos da crise sanitária.
O IBGE também informou que o segmento fechou o primeiro trimestre com retração de 0,8%. No acumulado de 12 meses, a baixa foi mais intensa, de 8%.
Entre as atividades, o grupo de transportes, serviços auxiliares e correio teve a segunda maior queda em março. Frente a fevereiro, houve baixa de 1,9%.
Na outra ponta da lista, o ramo de outros serviços cresceu 3,7%, a maior alta entre as atividades. Informação e comunicação também ficaram no azul, com elevação de 1,9% frente a fevereiro.
“Setores de serviços tradicionais, como restaurantes, hotéis e transporte de passageiros, estão sofrendo bastante com a crise. Por outro lado, temos atividades ligadas à área de tecnologia da informação em uma situação melhor”, diz o economista Gustavo Inácio de Moraes, professor da Escola de Negócios da PUC-RS.
Após desabar no começo da pandemia, a prestação de serviços teve sinais de melhora. Engatou seis altas consecutivas de junho a novembro do ano passado. A questão é que a piora da pandemia voltou a preocupar na largada de 2021.
“Não há como negar, a queda de serviços em março está muito ligada aos efeitos da crise da Covid-19. Esse é o setor que foi mais prejudicado pela pandemia”, sublinha a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
O agravamento da crise também impactou os outros dois grandes setores pesquisados pelo IBGE. Na semana passada, o instituto confirmou que tanto a produção industrial quanto o comércio caíram em março, na comparação com fevereiro. Enquanto a produção das fábricas teve baixa de 2,4%, as vendas do varejo recuaram 0,6%.
Além do recrudescimento da Covid-19, a paralisação de programas de estímulo freou a economia após a virada do ano. O auxílio emergencial, por exemplo, só foi retomado em abril, com redução nos valores pagos e corte no número de beneficiários. Em 2020, o programa serviu para proteger a renda de trabalhadores e incentivou o consumo em parte das famílias.
Para Cristiane, a volta de medidas como o auxílio emergencial pode beneficiar a atividade econômica, incluindo serviços, nos próximos meses. Contudo, a inflação em alta ameaça a tentativa de reação, frisa a analista.
Moraes acrescenta que a retomada consistente de serviços depende do avanço da vacinação contra o coronavírus. “O setor precisa muito da circulação de clientes”, destaca.
No terceiro mês de 2021, a economia foi impactada por medidas mais duras para tentar conter a epidemia do novo coronavírus. O governo de São Paulo, por exemplo, ampliou restrições a serviços e atividades comerciais ao longo de março.
Belo Horizonte seguiu o mesmo caminho. À época, a prefeitura da capital mineira determinou o fechamento de serviços considerados não essenciais e lojas diversas. Já o Rio Grande do Sul, um dos estados mais impactados pela pandemia neste ano, interrompeu atividades presenciais entre fevereiro e março – incluindo operações de bares, restaurantes, salões de beleza e eventos.