quinta-feira, 16 maio 2024
NOVA VACINA

Vacina da Chikungunya é segura e protetora em 99% dos casos e estudo contra a dengue apresenta 80% de proteção

Vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan e empresa francesa Valneva gera resposta imune com apenas uma única dose
Por
Isabela Braz
Foto: Divulgação / Comunicação Butantan

Segundo resultados do ensaio clínico publicados na revista inglesa The Lancet, – a revista mais importante na área de ciências médicas no mundo – realizados na última segunda-feira (12), a vacina contra a chikungunya desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e a empresa de biotecnologia francesa Valneva é segura e gera alta resposta imune com uma única dose em quase 100% dos voluntários.

O estudo envolveu 43 centros de pesquisa dos Estados Unidos e mais de 4 mil participantes entre adultos e idosos.

O imunizante brasileiro-francês é o único no mundo contra a chikungunya que está em estágio avançado de pesquisa. Transmitido pelos mosquitos Aedes Aegypti e Aedes Albopictus, o vírus circula em mais de 110 países.

Segundo o Ministério da Saúde, entre 2021 e 2022, o Brasil apresentou um aumento de mais de 100% nos casos da doença; só no ano de 2023, já foram registrados 118 mil casos prováveis da doença.

Ainda não há datas de quando o imunizante será liberado para a população.

Resultados

A análise de imunogenicidade da vacina, que é quando uma substância provoca uma resposta imune ao nosso corpo, foi feita em um subgrupo de 362 voluntários – 266 do grupo vacinado e 96 que receberam placebo.

Após 28 dias da aplicação da vacina, foi registrado que o imunizante induziu produção de anticorpos neutralizantes em 99% dos indivíduos. Nesse período, os títulos de anticorpos aumentaram 471 vezes.

Após seis meses de aplicação, a proteção foi mantida em 96,3% dos participantes, com níveis de anticorpos neutralizantes aumentados em 107 vezes em comparação com o início do estudo.

A equipe de pesquisadores seguirá acompanhando os voluntários do estudo por cinco anos para avaliar a manutenção da resposta imune. Em relatório divulgado em dezembro de 2022, a Valneva afirmou que a soroconversão ficou em 99% após a imunização e que os títulos de anticorpos foram sustentados.

Segundo a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), as vacinas de dengue e chikungunya feitas pelo Butantan podem diminuir surtos das doenças nas Américas.

Efeitos Colaterais

Tanto em adultos jovens como em idosos, a maioria dos efeitos colaterais foram leves e passageiros. Segundo o Instituto Butantan, dor de cabeça, fadiga e dor muscular foram os efeitos constados, em grau leve. Somente dois eventos adversos graves foram registrados e ambos os participantes se recuperaram totalmente.

Como os Estados Unidos não têm uma população exposta frequentemente ao vírus como acontece no Brasil, ainda não se sabe o efeito da vacina em pessoas com imunidade pré-existente. Para avaliar o imunizante dentro desse cenário, um ensaio clínico paralelo está sendo conduzido no Brasil pelo Butantan em 750 adolescentes de 12 a 17 anos.

São dez centros de pesquisa de diferentes estados, nas cidades de São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR). As regiões foram escolhidas por apresentarem alta circulação do vírus da chikungunya.

Dengue

Foto: Rafael Simões e Renato Rodrigues/Comunicação Butantan

Em dezembro de 2022, o Butantan divulgou resultados preliminares referentes à fase 3 de ensaios clínicos da sua vacina contra a dengue. O imunizante apresentou 80% de proteção com uma única dose, resultado nunca alcançado em estudos passados.

O diferencial do produto, segundo o Instituto, é que a vacina utiliza a tecnologia de vírus vivo atenuado – diferentemente da vacina contra a influenza, carro-chefe do Butantan, que é feita com a técnica de vírus inativado.

“Quando pensamos em desenvolver uma nova vacina, geralmente a primeira opção são as de vírus vivo atenuado, que induzem uma ótima resposta imunológica por um tempo duradouro”, explica a gerente de projetos do Laboratório Piloto de Vacinas Virais, Neuza Frazatti, responsável por liderar os estudos para a produção do imunizante.

Popularmente chamados de “enfraquecidos”, os vírus atenuados mantêm todas as suas características, mas apresentam uma baixa capacidade de replicação. Ou seja, uma vez no organismo, eles até se multiplicam dentro da célula, mas geram uma baixa viremia – que é a quantidade de vírus circulante no corpo. “É como se o organismo fosse ‘enganado’ por uma doença bem branda, mas capaz de gerar a resposta imunológica semelhante à que teria frente ao vírus circulante que provoca a doença”, esclarece a cientista.

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