A distribuição mais justa das vacinas contra Covid-19 entre países ricos e pobres é fundamental para a recuperação econômica e pode fazer com que a renda global cresça US$ 9 trilhões até 2025. Essa é a avaliação de Kristalina Georgieva, diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional), que acredita que o crescimento mais fraco de nações em desenvolvimento após um ano de pandemia está, em parte, ligado ao acesso desigual aos imunizantes.
Em discurso nesta segunda-feira (5), primeiro dia das reuniões virtuais de primavera da entidade, Kristalina disse que políticas de vacinação são a política econômica mais importante do mundo hoje e fez um apelo para que países que têm excedente de imunizantes, como os EUA, doem doses para as nações que mais precisam.
“Neste momento, as políticas de vacina são a mais importante política econômica. Nós precisamos colocar tudo à disposição para aumentar a produção de vacina e garantir uma distribuição justa, incluindo realocar as doses excedentes para os países deficitários”, afirmou a economista. “Nosso trabalho indica que o rápido progresso no fim da crise de saúde pode aumentar a renda global cumulativamente em US$ 9 trilhões entre agora e 2025, com benefícios a todos os países”, completou.
Kristalina fez a fala de abertura antes de um painel com a participação de Aurélia Nguyen, diretora representante do Covax Facility, consórcio global de vacinas dirigido pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que tem feito a distribuição de imunizantes pelo mundo.
“Não podemos nos recuperar da crise em nenhum lugar a menos que derrotemos a pandemia em todos os lugares”, disse Kristalina.
Segundo a diretora do FMI, as perspectivas de recuperação “estão divergindo perigosamente entre países e regiões” por causa dos degraus no acesso à vacina, concentrada nos mais ricos.
“Há países que têm mostrado recuperação mais rápida, como os desenvolvidos e os mercados emergentes, mas países em desenvolvimento correm o risco de um crescimento fraco. Em parte, devido a um acesso desigual às vacinas”, disse Kristalina. “Se você pensar no que precisamos para atingir esses US$ 9 trilhões em termos de financiamento, o custo da política de vacinas é uma fração minúscula. Temos que fazer tudo o que podemos para aumentar a produção de vacina, e não brigar sobre dividir a torta de vacinas disponíveis, mas expandir essa torta para que todos tenham acesso.”
A Casa Branca tem sido pressionada a doar excedentes de vacina desde que reportagem do jornal The New York Times revelou, em 11 de março, que países haviam pedido doação de milhões de doses da AstraZeneca que não estão em uso nos EUA porque ainda não foram liberadas pela agência de saúde americana.
De acordo com a publicação, o governo Biden estudava enviar doses para nações fortemente atingidas pela pandemia, como o Brasil, mas auxiliares do presidente americano saíram a público para dizer que, primeiro, é preciso resolver a pandemia internamente para, somente depois, pensar em doações.
Representante da Covax no encontro do FMI, nesta segunda, Aurélia Nguyen também estimulou a doação de vacinas de países com excedente de imunizantes, mas, assim como Kristalina, não citou os EUA ou nenhuma outra nação como exemplo concreto.
Ela disse que há países que “compraram mais doses do que vão precisar” e precisam “estar dispostos a doar e compartilhar suas doses” via Covax.
Segundo Nguyen, “ninguém está seguro até todo mundo estar seguro.”
“Precisamos nos certificar que os suprimentos estarão nos lugares certos”, afirmou. “Ter as vacinas é só uma parte, é preciso investir na logística, no treinamento de quem vai aplicá-las.”
Os EUA doaram US$ 4 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões) para o Covax, e Nguyen disse que novos aportes serão anunciados em breve para que mais de 2 bilhões de doses sejam entregues até o fim do ano aos países associados, priorizando os 92 mais pobres.
Até agora, explica, 32 milhões de doses foram entregues a 70 países via consórcio.
“É um investimento que estamos fazendo para todos nós. As vacinas são a chave para fazer o mundo voltar aos trilhos.”