No segundo episódio da nossa série de reportagens sobre abuso sexual infantil, a Rede TODODIA conversou com a psicóloga e especialista no tema, Jenefer Godoy, sobre os impactos dessa violência em crianças e adolescentes, além dos sinais que as vítimas geralmente demonstram.
TD: O que configura o abuso sexual infantil?
Jenefer Godoy: O abuso sexual infantil é configurado, principalmente, com o adulto se satisfazendo sexualmente, de alguma forma, com uma criança ou adolescente.
TD: Quais sinais as crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual infantil podem demonstrar?
Jenefer Godoy: Os sinais, além de lesões físicas, dependendo do tipo do abuso, também traz danos psicológicos. A criança pode ficar mais tímida, agressiva, deprimida, com dificuldade de aprendizado na escola e menos interesse nas atividades de lazer.
TD: Como é feito o acolhimento da vítima e o acompanhamento psicológico?
Jenefer Godoy: Com a criança, o ambiente escolar é o que mais recebe esse tipo de situação e realiza as denúncias. Geralmente, o acolhimento dessa criança é feito através de uma compreensão da fala dela, de uma denúncia, que precisa ser feita para o Conselho Tutelar ou Disque 100. Em primeiro lugar, é preciso tirar essa criança do ambiente de risco. Muitas vezes, a criança expressa o que ocorreu, o adulto faz a denúncia, mas ela se mantém na casa, na vizinhança, ou o abusador se mantém ali, ou seja, piora para a criança […] diversas questões são trabalhadas na psicoterapia para poder sanar os danos causados por essa violência.
TD: Quais sequelas um estupro pode deixar na vida dessas crianças e adolescentes?
Jenefer Godoy: Muitas mulheres ficam com dificuldades na questão da sexualidade, depressão, principalmente porque as cenas voltam, através de sonhos, por exemplo. Ainda existem os gatilhos de comportamentos emocionais, medos, pânico, crises de ansiedade e vários outros distúrbios, como culpa ou acusação interna. O leque se abre muito, os danos passam não somente pela questão da sexualidade, mas também da identidade. Muitas vezes, os abusadores falam que as crianças são culpadas, que ela não deveria ter deixado ele se aproximar ou ter ido até a casa dele, e esse padrão de culpa se arrasta, muitas vezes, para a vida adulta.
TD: De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 76,5% dos estupros de vulnerável acontecem dentro de casa, o que dificulta ainda mais a denúncia e o acolhimento. Nestes casos, a escola desempenha um papel muito importante, né?
Jenefer Godoy: Os abusos aparecem nas escolas através da fala da criança, ou de sintomas, como ficar mais deprimida, sem ânimo nas brincadeiras, e até mesmo em atividades, como um desenho, uma frase ou conversa. Quando isso ocorre, nós precisamos focar muito na questão do afeto que essa criança nutre pelo abusador. Muitos abusadores se vinculam primeiro emocionalmente com essa criança, quando não são parentes, e se são, a convivência gera ainda mais esse afeto. A mesma pessoa que abusa dela, as vezes é a que faz a comida, traz uma bala, faz um carinho, assiste a televisão junto, oferece a sensação de uma figura de força nessa família. A gente precisa entender quem é o abusador para essa criança, para entendermos, de fato, como fazer a intervenção e proteger a criança, inclusive, da retaliação.
TD: É possível prevenir o abuso sexual infantil?
Jenefer Godoy: Além de toda a questão do distúrbio social, um outro fator muito forte é a pornografia, que hoje é colocado de forma tão comum e banalizada. A pornografia tem incitado, cada vez mais, o abuso de crianças e adolescentes. Esse perfil da ‘novinha’, da ‘menina’, tem sido usado no meio pornográfico e vai criando, cada vez mais, essa demanda de desejo sexual para com essas meninas e meninos. A pornografia tem crescido e isso também influencia na questão do abuso sexual.
