segunda-feira, 10 fevereiro 2025

Mães realizam denúncias contra Ala da Maternidade do Hospital Municipal de Americana

Em entrevista à Rede TODODIA, a moradora de Americana, Talita Lopes, conta tudo que vivenciou durante o parto de seu filho; relatos foram publicados pela ex-vereadora Maria Giovana Fortunato, após receber diversas mensagens em seus perfis nas redes sociais

Por Nayara Lourenço

Por Nayara Lourenço

O parto é um dos momentos mais importantes na vida de algumas mulheres. De acordo com denúncias publicadas nas redes sociais da ex-vereadora Maria Giovana Fortunato, esse momento tem sido traumático para as mães que têm seus filhos na Maternidade do Hospital Municipal “Dr. Waldemar Tebaldi”, em Americana.

Os relatos graves sobre falta de higiene e diversos problemas na estrutura chegaram à Maria Giovana através de mensagens enviadas para os seus perfis. “Giovana, olha a condição que a gente tá ganhando nenê aqui em Americana. Gasta com um monte de propaganda pela cidade, mas olha como a gente tá aqui, vou mandar foto. Absurdo e revoltante. Aí fica com essa postando shopping e propaganda, e a gente pior que bicho”, diz um dos comentários, em crítica ao prefeito da cidade, Chico Sardelli.

“Por favor, ajude. Maternidade de Americana. Minha amiga teve bebe na terça, está traumatizada”, afirma uma das mães.

Nos comentários da publicação, as denúncias não param. “Absurdo é pouco, não tem travesseiros, cobertores para os pacientes, temos que levar de casa”; “Banheiro sem apoio nenhum para tomar um banho decente depois de uma cesárea. Deus que me livre passar por isso de novo”; “Infelizmente, isso está horrível mesmo, nem sala de parto tem mais, ganhamos o bebê na sala de pré-parto. Lamentável”; “E tem mais coisas acontecendo nos bastidores…”; “Fiquei de acompanhante lá e está nojento assim mesmo”.

Uma das mães que tiveram seus relatos publicados, a moradora de Americana, Talita Lopes, descreve o parto de seu filho, realizado no local na última terça-feira (18), como um ‘filme de terror’ e ‘tortura psicológica’. Em entrevista à Rede TODODIA, Talita relatou problemas na estrutura, diagnósticos errados para seu filho e também para ela, alimentação inadequada, falta de medicamentos e não realização da laqueadura durante a cesárea, apesar de ter apresentado os documentos com a solicitação do seu médico e assistência social.

“Quando eu chego para fazer o ultrassom, já começa ali a tortura. Ele [o médico] falou ‘seu nenê vai nascer com problema, a cabeça está de 41 semanas e o corpinho de 37 semanas’ […] e eu não estava entendendo, realmente não entendia, e ele falou ‘vou ser mais claro com você, seu filho vai nascer com problema mesmo, e você vai ter que internar agora, porque você está tendo contração’ […] o médico olhou meu cartão do pré-natal e falou que eu tinha diabetes também. A gravidez inteira eu fiz o pré-natal muito certinho, e falou que eu tinha diabetes. Ele me internou por volta das 14h20, não tinha almoçado, eles me deram um pãozinho integral e um pouquinho de chá, e falaram que eu não poderia comer porque era diabética. Comecei a ficar com tontura, mediram a glicemia e tinha dado 43, uma glicemia super baixa, eu não sou diabética, e não trouxeram comida pra mim. Uma outra moça, que estava se recuperando, me deu um pacote de bolacha e eu comi, quando a enfermeira voltou para medir estava 96. Se eu não tivesse comido, era perigoso até eu ter caído”, afirma Talita.

O filho de Talita nasceu sem nenhuma deficiência, apesar do diagnóstico médico de hidrocefalia. Durante a entrevista, Talita contou que um medicamento solicitado no pós-parto não estava disponível na farmácia do hospital. Além disso, a mãe também afirmou que foi impedida de realizar a laqueadura durante a cesárea, mesmo apresentando documentos de solicitação do seu médico e da assistência social.

É importante ressaltar que, em março de 2023, entrou em vigor a Lei 14.443 de 2022, que prevê a realização da laqueadura no momento seguinte à cesárea, evitando que a mulher seja submetida à duas cirurgias.

A mãe também expôs alguns problemas nas áreas estruturais da Maternidade. “A parte do forro está caindo, na parte do banheiro, onde fica a luz, tem buracos, se você for tomar banho e olhar pra cima, você não toma, parece que vai sair bicho, é perigoso, o chão está cheio de buraco, e não tem a escadinha para subir nas camas. Não tem uma estrutura que a gestante e a mãe pós-parto precisam”, acrescenta Talita.

O marido de Talita, Jânio Lopes, também relata a angústia durante o parto, e conta que sua esposa ficou sem amamentar seu filho das 11h até 17h30, pois, de acordo com eles, o hospital perdeu um dos exames e disse que ela só poderia amamentar seu filho após realizar outro. “A preocupação aumentou bastante, muito mesmo, foi complicado demais. A gente não via a hora de chegar em casa, estávamos muito ansiosos para vir embora e sair daquele lugar, não era decente […] foram muitas questões, é exame de sangue que some, ela ficou sem amamentar o filho das 11h até 17h30, porque perderam o exame dela, onde foi parar? Tiveram que coletar de novo e só liberaram para amamentação às 17h30”, explica Jânio.

A ex-vereadora, Maria Giovana Fortunato, explica por que essas questões devem ser resolvidas imediatamente, e afirma que a Maternidade deveria estar fechada pela Vigilância Sanitária. “Parir e nascer com dignidade é um direito de todas as mães e crianças. A garantia ou não desse direito, passa por um conjunto de ações de gestores e profissionais no atendimento às gestantes e bebês. No caso de Americana, tivemos relatos específicos sobre as péssimas condições da maternidade, falta de higiene, medicamentos, e até mesmo a falta de alimentação no pós-parto. São questões que devem ser sanadas imediatamente, enquanto a obra de reforma da maternidade não sai. Uma coisa não justifica a outra. Aquele local deveria estar fechado pela Vigilância Sanitária, em prol da segurança e do respeito à vida de todos”, conclui Maria Giovana.

Segundo informações, o valor estimado para obra na Maternidade é de R$3 milhões. Em 2022, o deputado federal Carlos Zarattini (PT) destinou R$300 mil, através de uma emenda parlamentar, para a construção de uma unidade de parto, pré-parto e pós-parto no local. O prefeito Chico Sardelli respondeu, em um comentário em rede social, que estão elaborando o projeto de reforma para a maternidade.

A reportagem questionou à Prefeitura sobre todos os fatos relatados, e por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que a reforma da maternidade do Hospital Municipal está no planejamento da pasta e encontra-se em fase de projeto.

“Será feita a revitalização de todo o espaço, inclusive com a aquisição de novos equipamentos e mobiliários”, explicou a nota.

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