O número de mortes de motociclistas em acidentes de trânsito na região bateu recorde em 2020, conforme dados do Detran (Departamento de Trânsito do Estado de São Paulo), com 53 casos. Em um ano marcado pela crescente dos serviços de entregas de alimentos e outros produtos, o delivery, o fenômeno é tido como uma das razões do aumento no número de mortes no trânsito.
De acordo com dados do Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo), em 2020, somando-se números de Americana, Hortolândia, Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré, a quantidade de mortos em acidentes de moto é a maior desde 2015 – quando os dados começaram a ser compilados e divulgados. O total de mortes no trânsito na região em 2020 foi de 105, incluindo acidentes de moto, carro, atropelamentos e outros veículos.
Também de acordo com o Infosiga, em 2019, foram registradas 45 mortes de motociclistas em acidentes na região. Já em 2018, o número havia sido ainda menor: 37 óbitos.
Um dos acidentes que chamou a atenção em 2020 foi o que resultou na morte do motoboy Carlos Alberto Gomes, 30, no cruzamento da Avenida São Paulo com a Rua Gabriel Pereira de Brito. O caso ocorreu em setembro e fez com que colegas de profissão fizessem um protesto no local do acidente e seguissem em comboio até o cemitério. O mesmo cruzamento registrou outros dois acidentes envolvendo motociclistas depois desse, mas sem mortes.
A relação do aumento de mortes de motociclistas com a pandemia – e o aumento de motociclistas atuando em serviços de delivery – foi atestado pelo próprio Detran e é reconhecido pelos profissionais que atuam no dia a dia.
Para o motoboy Jouber Ricardo Câmara, que atua na profissão há oito anos, sendo quatro em São Paulo e quatro na região de Americana, existe uma soma de fatores que colaboram com o aumento de mortes, a pandemia é um deles.
“A pandemia aumentou e muito o número de motos espalhadas nas cidades onde tem delivery. Além do número maior de motos, temos os casos de pessoas que foram demitidas do emprego e pegaram a moto que tinham em casa e colocaram pra trabalhar. É uma pessoa que não tem uma experiência no trânsito, acaba causando acidentes. Nós temos o Condumoto, um curso pra se tornar apto a fazer entrega, e esse curso mostra os riscos, mas o Condumoto não é aplicado em todas as cidades, isso dificulta o acesso”, afirmou.
Ele destacou que os profissionais que fazem o curso costumam usar colete de sinalização, antena corta-linha, “mata-cachorro” na moto, e deixam a moto conservada, com manutenção em dia, práticas que podem ajudar a evitar acidentes.
Jouber acredita também que falta conscientização por parte de alguns motociclistas e, sobretudo dos motoristas. “Falta conscientização de ambas as partes, do carro e da moto. Falta muito pra ter um trânsito seguro, não existe o respeito entre motorista e motociclista, o motorista não gosta de motociclista. Outra parte é falta de conscientização do poder público, isso em todas as esferas, inclusive nas autoescolas, que não capacitam para o trânsito, só ensinam a pilotar. É um conjunto de fatores”, disse o profissional.
Pessoalmente, pela experiência, Jouber conta que tenta fazer o trabalho da maneira mais segura possível, e recomenda que colegas façam o mesmo. “Eu fico tranquilo, porque sei que não corro, não faço zigue-zague nas avenidas. Eu entendo que uma taxa de entrega não vale minha vida, vou consciente. Eu prefiro que o cliente reclame de eu atrasar cinco minutos, do que ele e minha família reclamarem que eu não cheguei e que eu não voltei”, concluiu.
Detran tem programa e faz campanhas
Diante do aumento no número de motociclistas atuando nos serviços de delivery por conta da pandemia, o Detran lançou em setembro do ano passado o programa “Motofretista Seguro” e diz que está realizando campanhas que abordaram a necessidade de uma condução segura, incluindo pit stops educativos em parceria com diversas prefeituras.
O objetivo do programa é auxiliar os motociclistas que desenvolvem atividade profissional com a moto no seu dia a dia viabilizando a compra de equipamentos de segurança e também regularizando o veículo. O programa é permanente e inscrições podem ser realizadas pelo site www.motofretistaseguro.sp.gov.br.