quinta-feira, 1 maio 2025
ACESSIBILIDADE COMPROMETIDA

Cidades da região têm calçamento irregular e obstáculos que dificultam mobilidade, aponta IBGE

Melhor estrutura é de Nova Odessa e pior é de Hortolândia
Por
Felipe Gomes


Mais da metade das calçadas nos municípios da região de cobertura da TV TODODIA apresentam obstáculos que dificultam a mobilidade de pedestres. É o que mostra o último Censo Demográfico, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). De acordo com o levantamento, em média, 55,76% das calçadas de cidades como Americana, Hortolândia, Limeira, Nova Odessa, Paulínia, Santa Bárbara d’ Oeste e Sumaré possuem barreiras, como postes, desníveis, buracos ou lixeiras mal posicionadas que atrapalham a circulação de pedestres e aumentam o risco de acidentes. 

Santa Bárbara d’Oeste se destaca como o município com mais ruas com o dispositivo: 98% do território urbano. No entanto, 53,9% desse total possui calçamento com algum tipo de obstáculo ou irregularidade. Já Nova Odessa, que conta com 95,91% de ruas com calçadas ou passeios, é a cidade com melhor estrutura, apenas 35,76% do calçamento possui problemas que dificultam a mobilidade de pedestres.

Santa Bárbara d’Oeste se destaca como o município com mais ruas com o dispositivo: 98% do território urbano |Foto: Felipe Gomes/TVTODODIA

Em Americana, 97,74% do território possui estrutura de calçadas ou passeios, mas 46,27% dessas apresentam obstáculos. Limeira conta com 97,24% do território com calçadas, sendo que 62,99% delas têm obstáculos.

Paulínia, por sua vez, tem 97,84% do território com calçadas, sendo que 72,42% delas apresentam obstáculos. Já em Sumaré, 94,74% do território tem calçadas ou passeios, mas 47,48% delas têm irregularidades que dificultam a locomoção. Por fim, Hortolândia apresenta 97,47% de ruas com calçamento, mas é o município com o maior percentual de obstáculos entre as cidades analisadas: 77,6%. Em Piracicaba, 95,69% do território possui estrutura de calçadas e passeios, mas 57,94% dessas apresentam obstáculos.

Para o especialista em urbanismo Thiago Amin, docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Campinas, os dados escancaram um problema estrutural da realidade brasileira quando o assunto é planejamento urbano.

“A cidade ‘caminhável’ é aquela pensada para que as pessoas possam circular com segurança, fazer seus trajetos do dia a dia, como levar os filhos à escola ou ir ao mercado, de forma confortável. Mas nosso modelo de urbanização ainda prioriza o carro e marginaliza o pedestre.”, afirma Amin.

O especialista destaca que a fragmentação da responsabilidade pela construção e manutenção das calçadas contribui para o problema. “Nos bairros novos, por exemplo, muitas vezes não há calçadas no início porque elas acabam sendo destruídas pelas obras. Então, elas são construídas aos poucos, conforme os lotes vão sendo ocupados. Isso gera uma verdadeira colcha de retalhos, um faz, outro não faz, e cada um faz de um jeito”, ressalta.

Amin destaca ainda que áreas periféricas e bairros mais antigos, especialmente aqueles construídos nas décadas de 1980 e 1990, sofrem ainda mais com essa precariedade. O urbanista afirma que, embora algumas cidades atualmente imponham mais regras a novos loteamentos, os reflexos desse modelo, que classifica como desarticulado, ainda são visíveis em quase todas as regiões urbanas do país.

“A responsabilidade compartilhada entre prefeitura, secretarias de transporte, de meio ambiente e moradores complica ainda mais a articulação de uma rede contínua de ‘caminhabilidade’. A calçada pode estar na frente de uma casa, mas quando atravessa a rua ou passa por uma praça, ela já depende de outro órgão público. Tudo isso deveria ser visto como uma rede única de mobilidade”, completa Amin.

O docente destaca ainda que áreas periféricas e bairros mais antigos, sofrem ainda mais com essa precariedade |Foto: Felipe Gomes/ TVTODODIA

FALTA DE MOBILIDADE: PROBLEMA NACIONAL

Apesar de avanços nos últimos anos, a acessibilidade e qualidade das calçadas nas cidades brasileiras ainda enfrentam grandes desafios. O IBGE constatou que 68,8% dos moradores em áreas urbanas, o equivalente a 119,9 milhões de pessoas, vivem em vias sem rampas de acessibilidade para cadeirantes. Em 2010, esse percentual era ainda mais alarmante em 95,2%.  

O levantamento mostra ainda que apenas 18,8% dos brasileiros em áreas urbanas, cerca de 32,8 milhões de pessoas, moram em ruas com calçadas livres de obstáculos, indicando a baixa qualidade e falta de segurança da infraestrutura para pedestres.

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