sexta-feira, 25 julho 2025
TRENS NAS CIDADES

Com acidentes frequentes, cidades da região buscam soluções para aumentar segurança viária em passagens de nível

Em municípios da região a convivência entre a malha ferroviária e a mobilidade urbana exige soluções estruturais, mas muitas ainda estão em andamento
Por
Andressa Oliveira

O transporte ferroviário de cargas tem papel estratégico na economia nacional. No entanto, nas cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), os trilhos que cruzam áreas urbanas também representam riscos, barulho e desafios diários para moradores e gestores públicos.

Em cidade como Americana, Sumaré, Hortolândia e Nova Odessa, a convivência entre a malha ferroviária e a mobilidade urbana exige soluções estruturais, muitas delas ainda não foram implementadas.

Cidades da RMC são cortadas por linhas ferroviárias. Foto:Reprodução/TV TodoDia

Acidentes reforçam urgência de medidas de segurança

Nos últimos anos acidentes graves ocorreram em pontos de passagem de nível na região:

  • Hortolândia (2025): Um carro foi atingido por um trem após tentar atravessar os trilhos.
  • Sumaré (2022): Jovem de 24 anos morreu ao ser atropelado.
  • Nova Odessa (2024): Um homem em aparente estado de embriaguez foi atropelado.
  • Americana (2025): Um homem caiu da passarela após tentar pular sobre um trem em movimento.
  • Americana (2010): Nove mortos em colisão entre ônibus coletivo e trem no centro da cidade.

Viadutos e passarelas: soluções em andamento

Para reduzir riscos e melhorar a mobilidade, obras de transposição estão sendo feitas ou já foram entregues em várias cidades:

  • Sumaré: Um viaduto no cruzamento entre a Rua Luiz Vaz de Camões e a Avenida Júlia Bufara foi inaugurado no primeiro semestre de 2024.
  • Hortolândia: Está em construção um viaduto de 240 metros na Vila Real, com previsão de entrega para o segundo semestre de 2025. O secretário de Mobilidade Urbana, Atílio André Pereira, destaca que esse era um dos pontos mais críticos da cidade. “Quando o trem passava ali, atrapalhava tudo. Agora o viaduto está em construção. Esperamos concluir até o fim do ano”, afirma.

Ainda em Hortolândia, outras passagens problemáticas foram resolvidas nos últimos anos com obras executadas pela prefeitura, governo do Estado ou consórcios viários. O investimento total, segundo o secretário, beira os R$ 200 milhões.

  • Americana: Em Americana, os impactos vão além da mobilidade. O barulho dos trens e buzinas afeta diretamente a vida dos moradores próximos à ferrovia. Dona Creusa Heleno, moradora há 50 anos, relata, “É um exagero. O trem por si já faz barulho. Agora estão buzinando demais. Dá eco dentro de casa!”, reclama.
Creusa Heleno mora no bairro Carioba há mais de 50 anos. Foto: Reprodução/TV TODODIA

O secretário de Planejamento de Americana, Diego Guidolin, afirma que já foram apresentados projetos para a concessionária Rumo Logística, responsável pela linha. “Temos dificuldades com o trecho central. A ampliação do viaduto Amadeu Elias, por exemplo, foi prometida pela Rumo, mas nunca executada. Buscamos alternativas com a prefeitura e o governo”, explica.

Outro morador, Artêmio Luchesi, reclama da rotina perturbada. “É buzina o dia inteiro, umas 400, 500 vezes. Quase ninguém dorme aqui no prédio”, conta o trabalhador rural.

Soluções dependem de acordos com a concessionária Rumo, explica o secretário Diego Guidolin. Foto: Reprodução/Tv TODODIA

Nova Odessa: Em Nova Odessa começaram as obras de duplicação do Viaduto do Pezão e a construção de uma nova passarela de pedestres. A previsão é de conclusão até março de 2026.

Santa Bárbara D’Oeste: Uma região na qual a linha férrea está sem operação há mais de 15 anos começa a ser transformada em áreas de lazer. O secretário de Meio Ambiente, Cléber Canteiro, dá mais detalhes. “Estamos criando ciclovias, pistas de caminhada e iluminação ao longo dos oito quilômetros do trecho urbano. A linha não tem mais viabilidade técnica para reativação e agora será aproveitada pela população”.

Trecho de linha férrea desativado será aproveitado para áreas de lazer em Santa Bárbara. Foto:Reprodução/TV TODODIA

Relação com a concessionária é alvo de críticas

Prefeituras da RMC apontam dificuldade de diálogo com a Rumo. Em Hortolândia, o secretário Atílio destaca a falta de continuidade nos contatos técnicos. “É sempre uma pessoa diferente, muitas vezes sem experiência. Já tratei com outras concessionárias e nunca foi tão difícil como com a Rumo.”

Atílio Pereira, Secretário de Mobilidade Urbana de Hortolândia. Foto:Reprodução/TV TODODIA

Concessionária se posiciona

A Rumo, por sua vez, afirma que o uso da buzina é obrigatório por segurança e que seus maquinistas são treinados e monitorados. Em nota, a empresa afirmou que mais de 140 obras já foram concluídas no estado de São Paulo, e que outras 255 estão previstas até 2032. A Rumo diz que as intervenções seguem critérios técnicos e são acompanhadas por agências e órgãos públicos, como a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), o TCU (Tribunal de Contas da União) e o MPF (Ministério Público Federal).

A concessionária também afirma que mantém diálogo com as prefeituras por meio de sua área de Relações Governamentais.

Convivência em construção

Seja com obras, diálogo ou mudanças operacionais, o desafio continua sendo o mesmo: fazer com que os trilhos e as cidades consigam conviver de forma mais segura, silenciosa e eficiente.

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