A redução da demanda e a paralisação das obras contribuem para que empresários sintam os efeitos negativos da pandemia nos negócios da construção civil. O setor é o mais afetado pela crise: 94,3% das construtoras admitem que as vendas caíram, e apostam que a retomada dos contratos vai demorar pelo menos seis meses, mesmo se for decretado o fim da quarenta.
A maior parte das empresas – 70% delas – fazem a projeção pessimista de que a pandemia vai afetar o segmento pelo menos até o final de setembro.
As informações fazem parte de um relatório elaborado por técnicos do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da Fundação Getúlio Vargas, e são resultado de uma consulta a 2.987 empresas do segmento consultadas no Brasil todo.
O resultado de outro levantamento, divulgado no começo da semana pela Brain Inteligência Estratégica – especializada em consultoria para o mercado imobiliário – mostra que as construtoras que atuam no Estado de São Paulo enfrentam um momento particularmente difícil.
As vendas despencaram, os lançamentos foram adiados e os contratos precisam ser refeitos (leia texto ao lado).
A ironia maior da pesquisa Ibre – que aponta a construção civil como o setor mais afetado pela crise do conoravírus – é que teoricamente as obras não deveriam parar, já que, essencial, ele não seria afetado pela quarentena.
Acontece que os negócios não dependem só do canteiro de obras ativo. A Capital Research, consultoria especializada no setor, aponta que a construção civil vinha se recuperando de crises passadas, mas regrediu na pandemia.
IMOB
De acordo com o analista Felipe Silveira, aconteceu uma desvalorização do Imob (Índice Imobiliário), responsável por medir o desempenho das ações das companhias na Bolsa de Valores. Foi uma queda de 44% no ano.
“Com as medidas de prevenção contra a disseminação do vírus, os estandes de vendas permanecem fechados, o que gera impacto imediato na performance das empresas, mesmo que continue o trabalho virtual”, comenta.
Muitas empresas desaceleraram ou adiaram os próprios empreendimentos. As construtoras com foco nos imóveis de padrão econômica vivem um cenário mais favorável: o aporte de recursos públicos em programas habitacionais populares garante o fôlego de caixa.
LANÇAMENTO DE EMPREENDIMENTOS É ADIADO
Os empresários do setor da construção civil no Estado de São Paulo tiveram de se adequar para suportar os efeitos da crise inesperada. A Brain Inteligência Estratégica – que presta serviços ao Sinduscon e ao Secovi, importantes associações do segmento habitacional – revelou, ouvindo 150 empresários, que eles tiveram de adiar o lançamento dos empreendimentos previstos e renegociar contratos.
O economista Fábio Tadeu Araújo, a pedido da reportagem do TODODIA, disponibilizou os números da pesquisa inédita, que ele mesmo tabualva na manhã de segunda-feira.
NÚMEROS
E os dados são duros. Nada menos que 59% das empresas registraram pedidos de distratos parciais, e tiveram de renegociar acordos.
Para 33% deles, o lançamento do empreendimento projetado vai acontecer só a partir de 120 dias após o fim da quarentena. Mas outros 33% nem fazem projeções. Só 14% dos empresários ouvidos afirmaram que poderão cumprir a agenda previamente estabelecida.
Nada menos que 73% das empresas acusaram a queda na procura pelos imóveis, e metade delas ainda está insatisfeita com as medidas anunciadas pelo governo para manutenção dos empregos e dos negócios.
GASTOS SÓ COM O QUE É ESSENCIAL
A FGV comprovou que o faturamento também despencou nas empresas prestadoras de serviço e na indústria. A produção de tecidos e confecções – que interessam principalmente à região – foi particularmente afetada: 90% das empresas ouvidas pela pesquisa admitiram retração nas atividades.
Entre as exceções, relatam reflexos positivos empresas do setor de alimentos, os supermercados e indústria farmacêutica, que abastecem o mercado com gêneros de primeira necessidade.
Segundo a pesquisa, os consumidores tendem a controlar mais seus gastos diante do isolamento social e do aumento da incerteza em relação à economia e ao emprego nos próximos meses: 79,1% afirmam gastar apenas com o essencial, segundo a própria FGV.