sábado, 27 abril 2024

Dias de luta, suor e dignidade

Quem se aproxima da roda, ouve a conversa. São relatos de desemprego por meses seguidos, dificuldades para sobreviver, falta de dinheiro para despesas básicas. Ali, algumas até passaram fome.

Mas o cenário começou a mudar em novembro do ano passado, quando entrou em funcionamento a Cooperativa de Trabalho de Recicláveis “Juntos Somos Fortes”, localizada no Parque Industrial II, Jardim dos Cedros, em Santa Bárbara d’Oeste.

Hoje há 15 cooperados. A maioria de mulheres, negras, moradoras de periferia e arrimo de família. Elas estão envolvidas em um projeto de inclusão social e geração de emprego. Conseguem manter as famílias e pagar as contas.

APOIO
A cooperativa existe no papel desde 2016, desde quando houve a transferência das famílias que moravam precariamente na favela Zumbi dos Palmares, no Parque Zabani, para o Residencial Bosque das Árvores, no Parque do Lago.

Como alguns eram catadores de recicláveis e no apartamento não tinham condições de armazenar os materiais coletados, surgiu o empreendimento. A Prefeitura cedeu o terreno e a empresa Camargo Corrêa construiu o barracão através do projeto social Dia do Bem Fazer.

Em outra parceria com a Vinagre Castelo foram estabelecidas metas de produção. A empresa repassou à cooperativa um veículo, uma balança eletrônica de 1,5 mil quilos e uma prensa para as atividades.

Mas o espaço ainda é pequeno. O Rotary Internacional aprovou a liberação de recursos no valor de U$$ 34 mil para a compra de equipamentos (prensa e balança), materiais de escritório e refeitório e outros necessários para o desenvolvimento de suas atividades.

A cooperativa sonha até em instalar um galpão ao lado da Prefeitura, com verbas do clube de serviço. Para isso, até se inscreveu em um processo de chamamento público.

COMO FUNCIONA
Atualmente, a cooperativa é abastecida com materiais dos ecopontos do Parque Olaria e do Jardim Gerivá e também dos PEVs (Pontos de Entrega Voluntária), localizados nas avenidas Santa Bárbara e Corifeu de Azevedo Marques.

Segundo os cooperados, Santa Bárbara tem um potencial enorme para coleta seletiva. Dados da Secretaria de Meio Ambiente para o Programa Verde Azul, em 2016, informavam que a média mensal de volumes coletados no período de outubro de 2015 a setembro de 2016, foi de 31,7 mil quilos/mês.

Em seis meses de atividades, a cooperativa fez a triagem de mais de 150 toneladas de material, evitando que essa quantidade de resíduos sólidos fosse para o aterro sanitário, preservando o meio ambiente, dando destinação correta ao descarte dos resíduos, evitando a poluição dos rios, das áreas de preservação permanente e das vias públicas.

CRISE ECONÔMICA REDUZ A REMUNERAÇÃO
Apesar de todo o esforço, as cooperadas dizem que os materiais recicláveis dos ecopontos estão minguando, em decorrência do grande número de desempregados na cidade, o que aumenta a quantidade de catadores nas ruas.

Chega menos material à cooperativa, e isso se reflete diretamente na remuneração das trabalhadoras. Hoje, cada uma ganha em média meio salário mínimo por mês. Já houve “mês bom”, quando se ganhou mais que o dobro disso.

O esquema de adminsitração é simples: todo dinheiro que entra é rateado entre todos os participantes.

HISTÓRIAS DE VIDA
Elisabete Matos diz que o trabalho na cooperativa faz com que ela consiga pagar as suas contas em dia. “Quando saí da favela e fui para o apartamento, as contas aumentaram. Mas mas eu e meu marido estamos pagando em dia”, comemora, afirmando que a situação mudou da água para o vinho.

Ela sonha em ver a cooperativa com 40/50 mulheres trabalhando e quer voltar a estudar. “. “A cooperativa me devolveu a dignidade.”

 
Elisabete tem as contas em dia e mais qualidade de vida. Foto: Divulgação

 
Para Maria do Socorro, 42 anos, mãe de cinco filhos, moradora no Bosque das Árvores, a cooperativa lhe garantiu trabalho. “Entreguei muitos currículos nas empresas, mas não consegui emprego”, conta. “Hoje, deito a cabeça no travesseiro sem me preocupar se amanhã terei o pão e o leite para dar para as crianças. Estando aqui sei que não terei mais essa dificuldade”.

Mãe de um menino de três anos, a ex- recepcionista Camila Pereira de Assis, 23 anos, trabalha no local desde o início. “Estava desempregada e espero que a cooperativa possa crescer, oferecendo oportunidade para mais pessoas e, consequentemente, dar uma vida melhor para meu filho”, afirmou.

 
Camila Assis tem a esperança de um futuro melhor

 
Para Marta Pereira Gama, 19 anos, solteira, moradora na Vila Linópolis, a cooperativa foi sua primeira oportunidade de trabalho. “Completei o ensino médio, fiz muitas entrevistas, mas não consegui um emprego formal”, conta ela, filha gêmea de pais separados.

“Se não fosse a cooperativa, provavelmente estaria desempregada, não teria nenhuma expectativa. A gente vive à mercê de uma sociedade que julga, mas não abre as portas. A cooperativa representa nosso ganha-pão, um sonho realizado, uma pequena conquista que só tem a crescer”, diz ela, que sonha em cursar uma faculdade de recursos humanos ou fazer curso para tratamento de beleza.

 
Para Marta Gama cooperativa é só a a primeira conquista. Foto: Divulgação

 

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