O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Campinas divulgou nesta semana dados sobre a indústria da região, incluindo as percepções do setor quanto ao momento vivido por cada uma delas, além do desempenho regional no comércio exterior. Na sondagem realizada no mês de maio, o cenário apontado é de estabilidade.
A maioria das empresas respondeu que os volumes de produção, número de funcionários, faturamento, endividamento, custos trabalhistas e lucratividade permaneceram inalterados. No entanto, ao menos em um aspecto houve mudança: 60% das empresas relataram aumento no custo das matérias-primas.
Diretor titular do Ciesp Campinas, José Henrique Toledo Corrêa comentou sobre a estabilidade observada na indústria regional. “As empresas continuam produzindo. Temos vivido uma inércia produtiva considerável já há alguns anos, e isso ajuda a manter a produtividade”.
Possíveis problemas
Em relação à balança comercial, o cenário é considerado positivo. A região de Campinas, por não exportar commodities, costuma apresentar déficits comerciais — ou seja, importa muito mais do que exporta — devido à necessidade de insumos para suas indústrias. A região exportou cerca de US$ 300 milhões, valor 1,25% superior ao registrado em abril do ano passado. Já as importações somaram US$ 1,1 bilhão, montante 10,4% maior em comparação ao mesmo período de 2024.
Os principais produtos exportados foram reatores nucleares, caldeiras, máquinas e aparelhos; produtos farmacêuticos; e itens da indústria química. Já entre os produtos importados, destacam-se produtos químicos orgânicos; máquinas, aparelhos e materiais elétricos (e suas partes); além de diversos produtos da indústria química.
Anselmo Riso, diretor de Comércio Exterior do Ciesp Campinas, comentou os dados. “Em resumo, eu diria que os resultados foram extremamente positivos. Mantivemos uma certa estabilidade, com tendência de crescimento, inclusive. Então, para nós, na região, a tendência tem sido estável, com uma leve melhora”.
Destacaram-se na balança comercial regional as cidades de Campinas, com 30,2% das exportações e 24% das importações, e Paulínia, com 23% das exportações e 44,1% das importações.
Balança comercial
A indústria da região vive um momento de estabilidade, mas alguns problemas preocupam, como a greve da Receita Federal, o “tarifaço” de Donald Trump e, olhando para o futuro, questões relacionadas à geração e transmissão de energia elétrica.
“Para você poder, inclusive, honrar seus compromissos de exportação, acaba dependendo de alguns itens importados, prejudicados quando há esse tipo de paralisação. Lamentavelmente, parece que os acordos firmados com os auditores não foram cumpridos, o que intensificou esse momento de paralisação. Nós, aqui, procuramos não tomar partido; pelo contrário, tentamos sensibilizar as autoridades para evitar que isso ocorresse. Esse tipo de situação prejudica todo o processo econômico do país”, afirma Riso.
Ainda não há certeza sobre os efeitos do ‘tarifaço’ na indústria regional, e a questão da geração e transmissão de energia foi alvo de reclamação por parte de uma empresa instalada na região, diante das perspectivas para os próximos anos. No entanto, outros fatores mais concretos já preocupam no curto prazo.
“O custo aumentou: insumos, energia, transporte, carga tributária direta e indireta, custo da greve da Receita… Estivemos em São Paulo, em reunião com o Ciesp, e conversamos com empresários de todo o estado. Todos estão reclamando. E do que estão reclamando? ‘Estou vendendo, mas já sinto que haverá uma queda’. Seja por falta de matéria-prima, seja por retração do mercado, ou pela inflação. A inflação atrapalha muito. A taxa de juros precisa cair, porque o industrial toma dinheiro no mercado, e essa taxa, que na realidade não é 14%, é muito maior. Ele está pagando para trabalhar”, afirma Corrêa.