O medo de contaminação por metanol em bebidas falsas que imitam marcas conhecidas de destilados tem se espalhado pelo país nas últimas semanas. Em Hortolândia, a Vigilância Sanitária e o Procon vêm intensificando o combate ao comércio de bebidas ilegais e possivelmente falsificadas.
As fiscalizações são realizadas diariamente, mas o risco de contaminação por produtos inadequados para o consumo, ou fabricados com substâncias tóxicas como o metanol, ainda preocupa as autoridades e os consumidores.
Prejuízo social e econômico
Um estudo da consultoria Euromonitor International, publicado pela Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) em setembro, revelou que 28% das bebidas destiladas vendidas no Brasil são ilegais.
Segundo o levantamento, o país deixou de arrecadar cerca de R$ 28 bilhões em impostos apenas no último ano. Nesse percentual estão incluídas bebidas contrabandeadas, sem registro, com sonegação fiscal e também as falsificadas.
Os crimes de falsificação e adulteração representam 4,7% das bebidas destiladas comercializadas no Brasil, entre elas vodka, gin e uísque. O estudo, divulgado antes da atual onda de intoxicações e mortes por metanol, já indicava um aumento de 26% nas falsificações em relação ao levantamento anterior. A falsificação de bebidas, inclusive, é apontada como uma das principais fontes de receita de organizações criminosas no país.

“Água, álcool (ou metanol) e corante”
Essas bebidas falsas são produzidas com água, álcool etílico industrial (ou metanol), aromatizantes e corantes vendidos online na forma de “xaropes” destinados à falsificação.
As garrafas utilizadas geralmente são originais e reaproveitadas. Lacres, tampas e rótulos quase idênticos aos das grandes marcas podem ser facilmente comprados pela internet, o que dificulta a identificação visual dos produtos falsificados.
Duas ocorrências recentes em Hortolândia
Nos últimos dias, duas operações policiais resultaram em apreensões na cidade. Em 6 de outubro, policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Americana encontraram em uma casa no Jardim São Sebastião um local usado como “lavanderia” de garrafas. Os vasilhames de vodka, gin e uísque eram lavados com soda cáustica. O número total de garrafas apreendidas ainda não foi contabilizado, mas são milhares.
Já em 10 de outubro, a Polícia Militar descobriu uma fábrica clandestina no Jardim São Bento. Um homem foi preso e os agentes apreenderam 1.258 garrafas cheias, mais de 8.800 vasilhames prontos para uso e insumos de produção. No local, havia ainda 110 tambores de 50 litros com bebida falsa estocada.

Não é adulterção, e sim falsificação
Para entender as ações do poder público municipal no combate à venda de bebidas falsas, a reportagem da TV TODODIA conversou com o chefe da Vigilância Sanitária de Hortolândia, Uilson Ferreira Malheiros.
Segundo ele, “em nossas fiscalizações, a gente percebe que são bebidas falsificadas. Não tem nada de ‘adulteração’: são bebidas feitas com componentes químicos, como corantes. Mas eles não pegam uma bebida real e adicionam uma quantidade de álcool para ‘fazer render’, e sim falsificam mesmo”.
Malheiros destacou ainda que há sinais de atuação criminosa organizada. “A constatação, diante dessas duas apreensões que foram feitas na cidade, é que tem um cartel: tem um local que recebe as garrafas, que faz limpeza com outros produtos tóxicos, principalmente soda cáustica, e já tem outro pessoal que recebe essas garrafas e faz o envasamento, provavelmente com álcool de posto de gasolina e algum tipo de corante.”
Ele orienta os consumidores a evitarem bebidas sem procedência comprovada. “Na dúvida, não tomar. E se na eventualidade de tomar e sentir alguma reação adversa, procurar as unidades de saúde.”
Segundo Malheiros, os fiscais solicitam notas fiscais durante as vistorias e reforçam que comerciantes devem desconfiar de preços muito baixos. “No momento da fiscalização destes estabelecimentos, a gente solicita ao comerciante a nota fiscal. E orientamos todos a ficarem atentos aos valores: bebidas de valores agregados muito altos vendidas por preços milagrosos, eles devem desconfiar.”

Procon intensifica operação “De Olho no Copo”
O Procon de Hortolândia também intensificou a Operação “De Olho no Copo”, voltada à orientação de comerciantes e consumidores sobre os riscos das bebidas adulteradas.
“As equipes de fiscalização estão nas ruas orientando comerciantes e consumidores sobre como identificar e prevenir casos de bebidas adulteradas. O objetivo é proteger a saúde da população e garantir o consumo seguro. Fiquem atentos: comprem bebidas exclusivamente de fornecedores idôneos, com CNPJ ativo e endereço conhecido. Desconfie de preços muito baixos. Bares, restaurantes e adegas têm responsabilidade solidária mesmo que não saibam da adulteração. Em caso de suspeita, não consuma e denuncie ao Procon”, afirmou a diretora do órgão, Eliane Daluio.