sexta-feira, 14 novembro 2025
SAÚDE

‘Já tive vontade de ir embora. E o que me segura aqui é minha neta e meus filhos’, afirma José, portador da diabetes tipo 2

Dia Mundial do Diabetes reforça importância da prevenção e do cuidado contínuo: 'Diagnóstico não é sentença'
Por
Nicoly Maia
José Roberto Mometti, morador de Limeira, tem 64 anos e convive com o diabetes tipo 2 há 18 anos. Foto: Reprodução

O Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, busca conscientizar a população sobre prevenção, diagnóstico precoce e tratamento contínuo. A doença, considerada silenciosa e em expansão, representa um desafio crescente aos sistemas de saúde.

Segundo a SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), o Brasil tem mais de 13 milhões de pessoas vivendo com diabetes, o equivalente à cerca de 6,9% da população. Entre as principais formas de prevenção estão alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e redução do consumo de álcool, tabaco e outras drogas — medidas que também auxiliam na prevenção de outras doenças crônicas.

Histórias de quem convive com a doença
José Roberto Mometti, morador de Limeira, tem 64 anos e convive com o diabetes tipo 2 há 18 anos. “Falando da diabetes, eu acho que, sem ser o câncer, é a pior doença que existe. Porque tudo você não pode, tudo. Até a água, se tomar demais, faz mal. A diabetes atinge tudo que você imaginar. Ela vai te matando no dia a dia”, relata.

O diabetes tipo 2 ocorre quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida e está relacionado a sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e hábitos alimentares inadequados. No Brasil, cerca de 90% dos pacientes diabéticos possuem esse tipo. A médica de família Mayara Motta Melo, especialista em Endocrinologia, Saúde da Família e Nutrologia, explica que “o diabetes tipo 2 é uma doença que acontece de forma silenciosa. Aos poucos, o paciente vai apresentando sintomas, porque há uma resistência à insulina. É uma doença multifatorial, com componente genético, mas fortemente relacionada aos hábitos de vida.”

Complicações e desafios no tratamento
A falta de controle da glicose pode causar doença arterial periférica, reduzir o fluxo de sangue nos pés e provocar perda de sensibilidade, o que facilita úlceras e infecções graves, além de risco de amputação. É a realidade de João Bizarra da Silva, de 90 anos, diagnosticado com diabetes tipo 2 aos 25. Hoje acamado e com a visão comprometida, ele mora em Americana e recebe cuidados da família. “Depois que eu descobri, foi que eu fui me cuidar, quando já não tinha mais jeito. Eu já passei bem perto da morte, mas Deus tem me ajudado”, afirma.

A esposa, Maria Francisca da Silva, acompanha toda a trajetória do marido e relata a dificuldade dos avanços da doença ao longo dos anos. “No nosso tempo de juventude ele era sadio, trabalhava. A diabetes foi se agravando com a idade. É uma doença quase incurável e, mesmo com muitos medicamentos, não melhorou.” Ela também tem diabetes, mas conseguiu estabilizar o quadro por ter descoberto a doença no início.

Juventude, disciplina e adaptação
Breno Prezoto, de 22 anos, tem uma experiência diferente. Diagnosticado com diabetes tipo 1 aos 8 anos, lembra do impacto inicial na família. “Para minha família foi um pouco de desespero. Pra mim, nem tanto, porque eu era novo e não entendia o que estava acontecendo. Minha mãe ficou muito desesperada e acabou largando o emprego pra cuidar de mim, ter mais controle e cuidado. Foi um período complicado de adaptação.”

Ele relata que a adaptação alimentar foi difícil devido à falta de produtos destinados a diabéticos na época. “É aquela situação: você tem que ter disciplina. Pra cuidar do diabetes, é preciso disciplina. Não é que você não possa nada, mas se souber controlar, se souber regular, você pode de tudo.” Hoje, Breno vive com rotina regrada, leva insulina com ele e afirma: “Isso não impede a gente de seguir nossos sonhos. A gente consegue fazer o que tem de melhor, que é viver.”

A médica Mayara Motta Melo esclarece que “o diabetes tipo 1 é autoimune. O pâncreas, que produz a insulina, para de funcionar, e o corpo não consegue transformar a glicose em energia. O tratamento com insulina é indispensável.”

Família como rede de apoio
Nas trajetórias de José, João e Breno, a presença familiar aparece como elemento central de cuidado e suporte emocional. “Pra ser sincero, eu já tive vontade de ir embora. E o que me segura aqui é minha neta e o Fernando. Com a minha mulher ela me apoia em tudo. Esses dias fiquei internado e foi ela quem ficou comigo, me ligou e foi na ambulância comigo”, conta José.

Para a médica Mayara, a principal mensagem é de prevenção e esperança: “A principal chave para contornar o diabetes é a prevenção. Mesmo quem não tem fatores de risco precisa se alimentar melhor, evitar alimentos ultraprocessados, comer mais frutas, verduras e legumes, e praticar atividade física. Mas, mesmo quando o diagnóstico já existe, isso não é uma sentença. É uma oportunidade de olhar para a própria saúde, se cuidar e buscar ajuda profissional. O diabetes não é o fim — é um convite à mudança.”

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