Desde março de 2023, uma mãe, moradora de Americana no Jardim da Paz, sofre um drama junto ao seu filho Wender Eduardo Severino Pereira, de 19 anos, após o jovem ter sido acusado de roubar e atirar em uma vítima, durante uma tentativa de assalto de caminhonete realizada no município de Itápolis (SP), a cerca de 236km de Americana.
Condenado a 13 anos e 8 meses de prisão, somando a tentativa de latrocínio e o roubo de uma motocicleta, Wender encontrou na Penitenciária de Taiúva – onde está preso –, o homem que diz ter sido o responsável pelo assalto realizado naquela noite. Mas, até o momento, a Justiça de São Paulo segue acusando o jovem pelo crime.
Segundo a mãe de Wender, Juliana Cristina, o rapaz estava na casa de sua avó, onde teria ido para levar remédios e posteriormente, quando voltava para a casa de bicicleta, teria sido abordado por policiais que o acusaram de ter cometido um crime. Juliana diz que Wender foi levado à delegacia sem saber o que estaria acontecendo.
“Subindo de bicicleta ele passou no mercado, comprou um leite e um creme. E subindo para casa, encontrou um casal de amigos, que até foram testemunhas na audiência. E ali eles combinaram de sair para comer”, explica Juliana. Na despedida aos amigos, foi o momento que Wender teria sido abordado e identificado por uma testemunha dentro de uma das viaturas.
Chegando à delegacia, sendo posto ao lado de pessoas com características opostas, uma das testemunhas – o motoboy, da moto utilizada para fuga do local do crime – identificou Wender, sendo o reconhecimento pessoal, o único método de prova utilizado para a determinação da prisão.
Segundo o advogado de defesa, Luiz Felipe Mendes, seres humanos podem produzir falsas memórias, portanto, o reconhecimento deve ser feito apenas uma vez.
“O Código de Processo Penal estabelece algumas regras para que esse reconhecimento seja um reconhecimento válido, para que seja uma prova que a gente possa considerar como lícita para que ao final nós possamos acreditar nesse reconhecimento. Ali o réu deve ser enfileirado com pessoas semelhantes fisicamente a ele, o que não aconteceu”, disse.
Testemunhas afirmam que o suspeito estaria usando calça, moletom, máscara e teria uma cor parda. Wender, homem negro, estava usando bermuda e camiseta no momento que foi preso. Segundo o boletim de ocorrência, junto a ele não foram encontradas a arma do crime ou qualquer substância ilegal, sendo apreendido apenas um creme, leite e R$100 em espécie.
A família também alega não haver esforços para investigar corretamente o caso, inclusive utiliza do fato de que imagens de câmeras de segurança nos locais próximo ao crime foram indeferidas pela condenação, tendo retorno apenas três meses depois da solicitação, alegando nos autos que “eventuais gravações não mais existem”.
“Eu fico com o meu coração triste porque eu não sou a primeira e também não vou ser a última. Tem várias mães sofrendo como eu. E eu, hoje, estou aqui por uma delas, que talvez esteja passando o mesmo. Às vezes, eu estou até desencadeando outras para falar, ‘eu também estou vivendo isso’”, diz Juliana.
Encontro na cadeia
Três meses após a prisão de Wender, o criminoso que assume ser o culpado do caso – não identificado para essa reportagem – foi capturado pela polícia após a realização de um outro furto. Ambos foram parar no mesmo pavilhão.
Ao questionar o motivo da prisão do jovem, o criminoso teria confessado a Wender ser o autor do delito em questão, avisando que se entregaria. Nos vídeos da audiência, do qual o TODODIA teve acesso, o homem relata o caso com detalhes e diz que não acharia justo que Wender pagasse por um crime que ele não teria cometido.
“Eu falei para a família dele que eu vou assumir porque não é justo ocorrer com ele o que ocorreu comigo. Ele tem uma filha de um ano, eu tenho uma filha de 13 anos, não vi minha filha nascer, não vi minha filha crescer, só comemorei o aniversário dela de 5 anos. O rapaz tem uma filha pequena, não cometeu um crime, vai pagar por um erro meu? Não acho justo isso, ele pagar pelo crime que eu cometi”, se acusa o homem.
O Juiz do caso afastou a credibilidade do depoimento da testemunha, mesmo que ela tenha assumido a autoria do crime. “Além de trazerem essa história à tona, o juiz não só não acreditou, como falou que estavam o ludibriando, e por isso, estava correndo em crime de falso testemunho”, explica o advogado de defesa.
Próximos passos
Após a determinação da pena, a defesa apresentou recursos de apelação que ainda estão pendentes de julgamento, que após recebidos, serão encaminhados ao Tribunal de Justiça de São Paulo, que julgará o recurso.
“Nós esperamos o provimento do recurso para absolver o Wender, mas ainda não há data para julgamento dessa apelação criminal […] o Ministério Público, que é o órgão da acusação, vai ter a oportunidade de contra-argumentar o que nós expusemos no nosso recurso antes do caso ser encaminhado para a instância superior. Então temos alguns meses pela frente e o réu enquanto isso aguarda preso”, afirma o Dr Luiz.
Sem ajuda do salário de ajudante de pedreiro de Wender, a família também enfrenta problemas para se manter. A mãe, funcionária em uma escola, ajuda a nora, que recém completou 18 anos a manter gastos com o filho e com a neta de um ano e sete meses.
Questionada sobre o que irá fazer agora, Juliana afirma que continuará lutando para ver seu filho absolvido. “Eu não posso esperar o ano que vem alguém olhar para o caso do Wender para julgar, para diminuir uma pena para seis anos, para cinco anos. Não, eu não vou esperar isso”, finaliza a mãe, em prantos.