quinta-feira, 23 outubro 2025
8 DE SETEMBRO

No Dia Mundial da Alfabetização, histórias da EJA mostram que nunca é tarde para aprender

Alunos de diferentes idades compartilham suas trajetórias de superação e mostram como a educação transforma vidas
Por
Nicoly Maia

O Dia Mundial da Alfabetização foi instituído em 8 de setembro de 1967 pela UNESCO, com o objetivo de destacar a importância da qualidade nos primeiros anos de estudo das crianças e de reforçar o combate ao analfabetismo adulto.

Sumaré é a cidade com o menor índice de população alfabetizada entre as cidades de cobertura da TV TODODIA. O município ocupa a 134ª posição no ranking do Estado de São Paulo, com 96,5% da população alfabetizada. Cosmópolis, Hortolândia e Limeira aparecem, respectivamente, nas posições 108ª, 75ª e 55ª. Os dados são do Censo Demográfico do IBGE.

Outras cidades da região estão entre os 50 municípios com maior índice de alfabetização. Santa Bárbara d’Oeste ocupa a 41ª posição, com 97,41% da população alfabetizada. Já Campinas, Piracicaba e Paulínia estão nas 28ª, 26ª e 19ª posições, com 97,59%, 97,62% e 97,81% de alfabetizados, respectivamente.

O Dia Mundial da Alfabetização foi instituído em 8 de setembro de 1967. Foto: Alessandro Araujo/TV TODODIA

Cidades que se destacam
Na liderança regional estão Nova Odessa e Americana, que figuram entre os municípios mais bem colocados no ranking estadual: a 15ª e a 4ª posição, com índices de 97,87% e 98,33% da população alfabetizada.

Educação de jovens, adultos e idosos
A rede municipal de Educação de Americana conta atualmente com 17 estudantes matriculados no programa de Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA), sendo que três ingressaram sem saber ler e escrever.

Já em Santa Bárbara d’Oeste, a EJA atende 27 estudantes: nove matriculados em uma sala multisseriada de 1ª e 2ª séries e outros 18 em uma sala de 3ª e 4ª séries.

Perfil dos alunos do EJA
Os alunos são, em sua maioria, pessoas que não tiveram a oportunidade de estudar na infância. “Eles voltam para a escola porque não tiveram a escolarização de primeira à quarta série na vida infantil. Agora, retornam para completar essa etapa do ensino fundamental”, explica Rosângela Strapasson Canali, diretora da Emefei Antônia Dagmar Rosolen, em Santa Bárbara d’Oeste.

Rosângela Strapasson Canali, diretora da Emefei Antônia Dagmar Rosolen, em Santa Bárbara d’Oeste. Foto: Raul Rodriges/TV TODODIA

Faixa etária variada
Segundo a diretora, a faixa etária é bastante variada, indo de 15 a 71 anos. “Temos alunos que chegam sem saber sequer segurar um lápis. Alguns são analfabetos, não conseguem ler nem escrever. Outros dominam a leitura e a escrita, mas não tiveram acesso ao conteúdo de português, matemática, história, geografia e ciências. Para quem ainda não sabe ler, usamos metodologias específicas que ajudam a avançar nesse processo”, afirma.

Alunos
Entre os estudantes está Deuzuita Marinho dos Santos, que cursa a 4ª série. Nascida no Amazonas, interrompeu os estudos ainda na 2ª série e só voltou à escola depois de 30 anos. “A oportunidade que não tive no Amazonas, encontrei aqui. Fazia muito tempo que eu queria estudar. É uma grande satisfação, porque aprendi muito. Hoje consigo resolver problemas de matemática e português. Sou apaixonada por leitura e isso me emociona, porque passei muito tempo sem estudar”, conta.

Outro exemplo é Euvaldo João de Oliveira, de 71 anos, aluno da 1ª série. Há um mês na EJA, decidiu voltar a estudar para poder ajudar na rotina de casa. “Minha esposa está com câncer de mama e eu quero conseguir ler as receitas e exames dela. Pensei: por que não começar a ler e escrever? Eu posso”, relata.

Euvaldo João de Oliveira, de 71 anos. Foto: Alessandro Araujo/TV TODODIA

Também na 1ª série está Cícero Rufino de Almeida, de 43 anos. Ele cresceu na área rural e começou os estudos em fevereiro. “Nunca tinha estudado. Depois de um problema de saúde, percebi o quanto faz falta o estudo. Aqui aprendi a ler e escrever. No começo foi difícil, mas agora já sei escrever palavras e até meu nome. É muito bom”, afirma.

Organização e avaliação
A escola atende alunos da 1ª à 4ª série. Ao ingressar, cada estudante passa por uma avaliação diagnóstica, já que muitos chegam sem histórico escolar. “Com essa avaliação, identificamos o nível de compreensão e decidimos em qual série ele será classificado. Em alguns casos, o aluno vem com registro de que está na 3ª série, mas ainda não sabe ler. Nessa situação, mantemos o aluno na série registrada e oferecemos todo o apoio para que ele avance”, explica a diretora.

A EJA funciona por semestres, em um sistema acelerado: em seis meses o aluno pode concluir o equivalente a um ano letivo. “Se o estudante não atingir os objetivos, pode permanecer mais tempo na mesma série até consolidar a aprendizagem. As avaliações são bimestrais e acompanhadas por conselhos de classe que analisam as dificuldades e traçam estratégias de apoio”, detalha Rosângela.

Deuzuita Marinho dos Santos cursa a 4ª serie. Foto: Alessandro Araujo/TV TODODIA

Diferenças no ensino
O trabalho dos professores também exige um perfil diferenciado. “Muitas vezes o aluno aprende hoje e esquece amanhã. O professor precisa estar próximo, retomar o conteúdo, andar pela sala e tirar dúvidas para trazer esse estudante de volta a um ritmo de ensino mais regular”, observa a diretora.

Histórias de superação
Euvaldo, que iniciou há pouco mais de um mês, já sente evolução. “Estou aprendendo devagar, mas acho que vou seguir até o final. Minha família me apoiou, até riram dizendo que depois de velho voltei a estudar, mas gostaram da ideia”, diz.

Para a diretora, cada conquista é motivo de orgulho. “Eles trabalham durante o dia e estudam à noite. Sonham em tirar a carteira de motorista, ler um rótulo no supermercado ou até pegar um ônibus sozinhos. Já tivemos alunos que concluíram a 4ª série, seguiram para o ensino médio e hoje estão na faculdade”, destaca.

Cícero Rufino de Almeida é um dos alunos. Foto: Alessandro Araujo/TV TODODIA

Deuzuita deixa um recado para quem ainda pensa em voltar: “Quem não teve oportunidade, volte a estudar. Nunca é tarde. É uma alegria muito grande e gratificante”. Já Euvaldo reforça: “Vale a pena, a gente só percebe quando sente falta. Nada é perdido, sempre é hora de aprender”.

Além dos estudos
A escola também promove atividades culturais e de integração. “Temos festa junina, desfile de 7 de Setembro, palestras sobre saúde, prevenção da dengue, diabetes e outros temas. Levamos os alunos ao teatro e realizamos saraus, nos quais eles recitam poesias. Pelo menos uma vez por semana, a turma frequenta a biblioteca, que tem mais de 7 mil livros. Também participam do projeto onde professores e alunos escolhem leituras para compartilhar. Assim, a EJA vai além das disciplinas tradicionais e se torna um verdadeiro laboratório de experiências”, conclui a diretora.

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