De janeiro a dezembro de 2018, a Secretaria Municipal de Saúde de Americana atendeu a 484 vítimas de acidentes envolvendo escorpiões em toda cidade. O número de pessoas picadas é 18% maior que o registrado em 2017 – quando 409 casos foram notificados.
Ao contrário de Santa Bárbara d’Oeste, onde uma menina morreu em novembro vítima de duas picadas, em Americana nenhuma morte foi registrada, mas os números mostram um problema em evolução: em 2016, foram 339 vítimas.
Além desses números, outro chama a atenção: mais de 15 mil escorpiões capturados em Americana foram encaminhados durante o ano ao Instituto Butantan, em São Paulo, que recebe os animais para a fabricação de soro.
Na região, somente o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, em Americana, e o Pronto-Socorro Afonso Ramos, em Santa Bárbara, possuem o medicamento em estoque – por determinação do Ministério da Saúde.
A Prefeitura de Americana ainda estuda como fará o controle químico de baratas (tidas como principal alimento dos escorpiões) nas galerias e rede de esgoto da cidade.
A Administração do prefeito Omar Najar (MDB) vinha resistindo à ideia de adotar o controle químico do aracnídeo na cidade, já que o Ministério da Saúde sugere evitar a aplicação de veneno contra escorpiões diante de sua ineficácia e pelo risco de desalojar os animais.
Mas, em 11 de dezembro, Omar cedeu ao apelo popular e anunciou que o município fará uma ação de dedetização contra baratas na cidade, como forma de combater indiretamente a proliferação de escorpiões. O serviço será objeto de concorrência pública pelo DAE (Departamento de Água e Esgoto), de acordo com o chefe do Executivo, mas ainda sem previsão de prazo.
PRAGAS URBANAS
O biólogo, entomologista urbano e especialista em saúde pública André Luís Fernandes, de Americana, defende o controle químico preventivo das pragas urbanas, hábito que, segundo ele, não faz parte da rotina do brasileiro.
“O brasileiro não é preventivo. Nós gostamos de dar soluções rápidas para os problemas. Você vê poucas pessoas que vão ao dentista a cada seis meses e ao cardiologista a cada ano. Na minha visão, o fato de ter que gastar com controle de pragas de forma preventiva afasta o brasileiro”, avalia.
Há 33 anos atuando no controle de pragas urbanas, Fernandes afirma que a falta da prevenção fez com que os aracnídeos se adaptassem ao convívio no ambiente urbano. Para ele, a sociedade é solidariamente responsabiliza pelo aumento dos casos. “Nós não podemos em hipótese alguma culpar apenas o Poder Público. Precisamos de cada um faça sua parte como cidadão, na manutenção em nossas casas. É a mesma coisa da (prevenção da) dengue”, afirmou.
Fernandes garante que, apesar da cartilha do Ministério da Saúde não recomendar o controle químico, há produtos registrados pela área, que preconizam, em sua formulação, o combate aos escorpiões. “O importante é procurar empresas responsáveis que utilizam estes produtos no controle destes animais, que aprenderam a invadir (o ambiente) e conviver do nosso lado”, explicou.
FALTA DE INSETICIDA
A infestação de escorpiões dobrou a procura por inseticidas contra os aracnídeos em Americana, de acordo com lojistas do comércio de produtos agropecuários.
O crescimento na demanda, nos últimos dois meses, chegou a deixar fornecedores desabastecidos dos produtos registrados no Ministério da Saúde e na Secretaria de Defesa Agropecuária. “Campinas também enfrentou uma situação semelhante à de Americana e a demanda aqui, como lá e de outras cidades, levou o distribuidor a ficar sem estoque”, explica o diretor comercial Leonardo Padovani, da Padovani Pet.
A maioria das pessoas, no entanto, chegou ao balcão de atendimento sem conhecer a eficácia e as formulações dos inseticidas. “A orientação ideal é procurar lojas especializadas e produtos registrados, de preferência com tecnologia de microencapsulamento, que vai agir durante período residual”, afirmou.
Os inseticidas microencapsulados diferem dos aplicados via pulverização pelo efeito residual, mas é preciso cuidado em ambientes com animais domésticos, como felinos. “Gatos têm o hábito de lamber as patas e podem se intoxicar. Por isso é importante analisar a rotina da casa e dos vizinhos antes da aplicação ou, se for o caso, buscar uma empresa especializada”, explicou.
Dicas de como evitar escorpiões – Prevenção – Cuidados. Arte: Folhapress