sexta-feira, 26 abril 2024

O concreto ecologicamente correto

O desenvolvimento sustentável é assunto da moda no planeta. E o reaproveitamento de materiais promete mudanças até no setor da construção civil. Três professores da Unicamp desenvolveram, em laboratório, um concreto sem usar água potável. Pisos intertravados foram feitos com água de reuso, proveniente do tratamento do esgoto. 

A pesquisa envolveu três professores da FEC (Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo): a arquiteta e urbanista Mariana Ribeiro dos Santos, o engenheiro químico Adriano Luiz Tonetti e o engenheiro civil Gustavo Henrique Siqueira. 

O projeto interdisciplinar une estética, cálculo estrutural e preservação ambiental. E o resultado não podia ser melhor. 

Se comprovou nos testes que os corpos de prova feitos com água de reuso tinham a mesma resistência que os convencionais. Os pisos intertravados foram assentados há 18 meses no estacionamento da FEC. E ninguém notou a diferença. 

O resultado mostra que o setor tem uma nova alternativa para a produção do concreto. Principalmente nas regiões superadensadas do País. 

Apesar de o Brasil possuir a maior reserva de água doce do planeta, a distribuição é desigual, e os grandes centros urbanos (como no Estado de São Paulo) sofrem com o estresse hídrico em determinadas épocas do ano. Economizar água é essencial. 

RECEIOS 

Mas nem tudo é simples como parece. Um questionário aplicado a professores, alunos e funcionários verificou sim a aceitação do produto feito com água de reuso em residências. Mas houve ressalvas. 

A aprovação do uso em áreas externas foi enorme (85% dos entrevistados), mas mais da metade deles rejeitou o uso em dependências internas. Surgiram as dúvidas: o material não seria nocivo à saúde? Qual será sua durabilidade? 

Os pesquisadores garantem que tais receios não se justificam. Mas os testes seguem. 

Também é necessária, antes da produção em série dos blocos, que existam normas legais para o uso do esgoto no concreto. Não se sabe, por exemplo, qual a reação do concreto feito com água de reuso em uma estrutura armada com barras de aço, por exemplo. 

QUESTÃO SOCIAL 

O professor Adrianao Tonetti enfatiza. “No futuro, caso não utilizemos a água de forma inovadora e consciente, ela não estará suficientemente disponível para atender populações e empresas, o que pode gerar problemas sociais. 

Cada vez mais urge buscar alternativas sustentáveis que venham a garantir água para todos”. 

Para ele, no entanto, destinar as águas menos nobres para a produção de concreto é uma tendência irreversível, já que o setor é um dos que mais demandam o uso de recursos naturais. E é preciso reduzir os impactos ambientais. 

FUTURO CERTO 

Os professores sabem. A sustentabilidade será encarada como obrigação entre os novos formandos. “Grande parte dos cursos de engenharia não incorpora essa necessidade, e neles prevalece ainda a ênfase na produção tradicional. Nosso estudo ajuda os profissionais de engenharia a pensar em alternativas”, diz a professora Mariana. “A questão ambiental deve permear a formação do engenheiro do futuro: ele precisa estar preocupado com os materiais que vai usar, de onde eles vêm, quais suas características e que impactos ambientais provocam.” 

Em relação à preocupação com à saúde, o grupo de pesquisadores deixa claro que não pretende que essa água de reuso seja utilizada nas reformas ou construções residenciais. 

O objetivo do estudo é incentivar seu emprego nas usinas de concreto, onde não exista contato direto dos trabalhadores com o líquido. Certo é que o concreto ecologicamente correto está chegando. 

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