quarta-feira, 24 abril 2024

Passageira acusa motorista de app de racismo

Um motorista de transporte por aplicativo que atua em Santa Bárbara d’Oeste está sendo acusado por uma cozinheira de ter cometido preconceito e discriminação racial contra ela. O caso foi parar na Delegacia, por meio de um boletim de ocorrência. 

O fato que motiva a denúncia ocorreu na tarde do último sábado (6). 

Ananda Santos Rocha, de 23 anos, residente no bairro São Joaquim, relata ter feito uma chamada pelo Aplicativo 99 para uma corrida do Jardim São Francisco, onde ela trabalha, até sua casa. 

A cozinheira diz, porém, que o motorista teria negado o transporte por ela ser negra. Ele nega as acusações e diz que o que houve foi um grande mal entendido (leia abaixo). 

Segundo a denúncia, quando o motorista chegou a bordo de um Renault Kwid, cor laranja, ela de longe já acenou para ele parar. 

“Eu parei perto da janela do carro e ele falou: ‘não pega, não ponha a mão’. Não transporto pessoa da sua cor. Meu carro é novo, você vai encardir”. 

Ananda diz ter questionado o motorista e teria recebido como resposta: “Olha na sua cor. Você acha que vou colocar pessoas da sua cor dentro do meu carro?”. Depois, o condutor teria pedido a ela que cancelasse a corrida. 

Após o episódio, Ananda disse ter chamado outro motorista e ligado na Central de Atendimento do aplicativo 99 para fazer a denúncia. 

“Entrei em contato com a empresa, que se desculpou e informou que não aceitava situação assim e que iria tomar providências. Eu nunca imaginei na minha vida passar por uma situação dessa. Fiquei chocada. O que ele fez comigo não quero que faça com mais ninguém. Quero que essa pessoa seja punida e que sirva de exemplo para quem pratica esse crime”, desabafou. 

EXCLUSÃO 

Contatada pela reportagem, a empresa 99 respondeu que está apurando o caso e esclareceu que repudia qualquer forma de preconceito e tem uma política de tolerância zero em relação a casos de discriminação racial. 

A 99 informou que possui um canal de atendimento exclusivo para incidentes de segurança que podem ser relatados no telefone 0800-888-8999. 

MANIFESTO 

A Associação Cultural e Beneficente Carolina Maria de Jesus e o Coletivo de Mulheres Negras da entidade divulgaram um manifesto repudiando o suposto ato envolvendo o motorista e cobrando providências por parte da empresa do Aplicativo 99. 

A LEI 

Os crimes de racismo estão tipificados na Lei nº7.716, de 5 de janeiro de 1989, (alterada pela Lei nº9.459, de 15 de maio de 1997), que define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor.  

O artigo 20 estabelece que “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou precedência nacional”, sujeita os infratores a uma pena de reclusão de um a três anos e multa.  

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, diz que racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. 

ACUSADO SE DEFENDE: ‘JAMAIS FARIA ISSO’ 

O motorista Valdir Pereira Cardoso, 42 anos, afirmou que está sendo vítima de calúnia e difamação. “Tenho cunhado e sobrinhos negros, já tive namoradas negras, meu pai tem descendência da raça negra. Racismo é uma coisa terrível e quem pratica isso não é uma boa pessoa. Jamais faria isso com qualquer pessoa nesse mundo. Sou honesto, tenho caráter e estou sendo vítima de uma situação”, disse. 

Segundo ele, no sábado à tarde recebeu uma chamada para fazer uma corrida do Jardim São Francisco até o bairro São Joaquim. 

Valdir comprou um carro novo com a indenização trabalhista de 17 anos como operador de máquinas e há três meses trabalha por conta própria como motorista de aplicativos. 

Ele disse que já aconteceu de passageiros sujarem o banco do carro e ele teve que parar para limpar. 

“Quando fui apanhar a Ananda, vi que sua calça estava suja, tinha umas manchas, não sabia que ela era cozinheira. Falei que poderia sujar o carro e que era para cancelar a corrida. Quando ela virou, vi que era somente na frente, voltei atrás falei que ia fazer a corrida, mas ela não quis mais”, comentou Valdir. 

Em seguida, a jovem foi para a calçada, ele encostou o carro e diz ter pedido desculpas. “Mas ela ficou magoada com minha pergunta e chamou outro carro”, disse o motorista. 

Valdir contou que, no momento seguinte, recebeu uma chamada de uma moça do Jardim Santa Inês para levá-la até o Jardim Laudissi e ela é da raça negra. 

“Esse fato prova que não sou racista. Vou procurar um conselho jurídico e ver se posso fazer uma visita à Ananda para esclarecer os fatos, caso contrário, vou entrar na Justiça, porque estou sendo vítima de crime contra honra, calúnia e difamação”, concluiu. 

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