Entidades representativas dos estabelecimentos comerciais do Estado de São Paulo fazem uma projeção assustadora sobre as consequências da pandemia do coronavírus no setor. A previsão é de que as lojas encerrem o mês de março com uma queda entre 15% de 20% nas vendas, por conta da quarentena instituída pelo governo paulista.
Diante do quadro, os empreendedores negociam, junto ao poder público, a adoção de medidas emergenciais que lhes permitam continuar de portas abertas. E as próprias associações de classe adotam estratégias para difundir, entre os lojistas, novas estratégias de negócio, que não dependem da presença física do consumidor.
O “plano de guerra” foi detalhado à reportagem do TODODIA pela vice-presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo), Adriana Flosi.
Ela também ocupa outros cargos estratégicos no setor. É vice-presidente da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) e presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Campinas), entidade que reúne duas mil empresas, dos mais diferentes segmentos.
Adriana explica que os grandes magazines, por exemplo, já contam com canais virtuais para vender mercadorias, mas o e-commerce ainda não faz parte da cultura nacional. Representa uma parcela ínfima dos negócios. E os pequenos e médios empreendedores são os mais prejudicados.
O isolamento social, diz, também é trágico para os profissionais autônomos e informais (como as manicures e as doceiras, por exemplo), que da noite para o dia ficaram sem receita e, neste momento, precisam ser protegidos.
“Cabe ao governo federal esquecer um pouco a dívida pública e o equilíbrio fiscal e tomar atitudes emergentes”, disse.
Associações comerciais relacionaram as ações que precisam ser tomadas para que se estabeleçam linhas de crédito e isenção momentânea de tributos às empresas, assim como a expansão do amparo a trabalhadores que nesta fase venham a perder o emprego (leia acima a relação dos tópicos já apresentados pela Facesp ao ministro da Economia, Paulo Guedes).
ESTRATÉGIA
Enquanto aguarda respostas do governo federal, o setor se move. Na região, a Acic passou a disponibilizar gratuitamente, pelas redes sociais, grande parte dos seus conteúdos de qualificação. São orientações jurídicas, econômicas e de gestão. O objetivo é criar uma grande rede de informações precisas para que cada empreendedor encontre a solução que melhor se encaixa no seu modelo de negócio.
Além disso, o pequeno lojista é incentivado a promover vendas pelas redes sociais e por telefone, por exemplo, e entregar mercadorias por delivery. “Deve-se encontrar uma alternativa criativa para satisfazer o cliente, dentro de cada realidade”, afirma.
O empreendedor também precisa negociar os encargos trabalhistas. Recorrer ao teletrabalho quando possível, antecipar férias individuais, conceder férias coletivas, utilizar o banco de horas.
As empresas já contam com os benefícios disponibilizados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que promete dar suporte a 150 mil empresas e preservar 2 milhões de empregos.
As empresas não precisam depositar o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) de abril, maio e junho nas datas corretas. Os valores podem ser parcelados sem multa nem juros a partir de julho.
Na esfera estadual, o Banco do Povo concedeu R$ 25 milhões em linhas de microcrédito para que os pequenos negócios possam suportar os impactos da pandemia.
AS AÇÕES REIVINDICADAS
Tópicos do documento da Facesp entregue ao governo federal
1 – Garantir renda aos trabalhadores com o aumento do número de parcelas do seguro-desemprego para os demitidos.
2 – Usar recursos do seguro-desemprego para pagar parte dos salários dos trabalhadores que seguem empregados.
3 – Isentar parte da carga tributária da atividade, para que possa ser enfrentado o momento de restrição da demanda.
4 – Postergar o recolhimento das contribuições sobre a folha, tanto patronal como dos trabalhadores, com carência e parcelamento posterior.
5 – Facilitar o crédito com condições e prazos compatíveis com as dificuldades do momento.
6 – Montar com urgência um programa de investimentos públicos em infraestrutura e construção civil, com a retomada das obras paralisadas.
7 – Suspender/diferir/isentar o recolhimento de impostos das pequenas e médias empresas que são as que mais empregam e que em não tendo capital para sustentar essa crise, deverão encerrar suas atividades.
8 – Criar medidas que beneficiem os trabalhadores informais, os mais vulneráveis da roda econômica.