A flexibilização da jornada de trabalho -definida em medida provisória do governo federal para atenuar os prejuízos da pandemia no mercado de trabalho – incide diretamente na massa salarial da RMC (Região Metropolitana de Campinas). Nos 20 primeiros dias de vigor da regra, quando 8% das empresas já haviam aderido ao programa, o impacto sobre os salários já superava R$ 100 milhões nas 20 cidades da região.
E se, hipoteticamente, 70% das empresas adotem a mesma estratégia, o montante pode chegar a R$ 857 milhões por mês. Cerca de 640 mil trabalhadores vão sofrer uma redução no próprio poder de consumo. E, sem demanda, empresas tendem a quebrar.
Em números absolutos, a massa salarial da RMC, que hoje se aproxima de R$ 3 bilhões, cairia para R$ 2,1 bilhões. Uma redução de quase 30%.
As projeções são da economista Eliane Rosandiski, responsável por um estudo técnico publicado pelo Observatório PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica).
Os impactos da flexibilização são refletidos mais intensamente nos maiores salários: o valor do seguro-desemprego pago pela União não compensa a redução salarial.
Um exemplo: se o funcionário ganha R$ 4.000, pela regra ele passa a receber (se reduzida sua jornada em 50%). R$ 2 mil da empresa e R$ 906,52 do governo. Sua remuneração final. R$ 2.906,52, 27,3% menor que a original.
Os trabalhadores do setor industrial, avalia a professora, que possuem renda média de R$ 4.105,69 na RMC, também devem sentir as consequências no bolso.
Na hipótese da redução da jornada chegar a 70%, a massa salarial cairia pela metade, segundo dados do Observatório. Considerando-se, no caso, a preservação de todos os empregos (e o que, na prática, não deve acontecer).
RISCO IMINENTE
Mesmo estando em vigou a MP que injeta R$ 76,9 milhões à massa de rendimentos da RMC com o pagamento de auxílio emergencial a cerca de 150 mil famílias, os efeitos a longo prazo da flexibilização de jornada são inevitáveis, na avaliação da professora.
Os riscos iminentes da queda de demanda, provocados pelo encolhimento do poder de consumo da classe trabalhadora e pela possibilidade futura de aumento nas taxas de desemprego vão impedir a retomada do crescimento econômico.
Muitas empresas, avalia o estudo, vão falir no pós-pandemia, em especial às dedicadas ao atendimento de serviços para a classe média.
O relatório aponta que o manejo da política fiscal e a abertura de crédito para suporte às empresas são as soluções imediatas para manutenção dos empregos e agilização da retomada da economia.