O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, também conhecido pela sigla TDAH, é uma condição do neurodesenvolvimento, ou seja, que afeta a formação do cérebro e do sistema nervoso central.
Segundo dados da Associação Brasileira de Déficit de Atenção, cerca de 2 milhões de pessoas sofrem com o transtorno no Brasil. A prevalência de TDAH em crianças e adolescentes com idade entre 6 e 17 anos é de 7,6%, 5,2% entre 18 e 44 anos e 6,1% para maiores de 44 anos.
O desenvolvimento do TDAH não é causado por falhas na educação ou falta de disciplina dos pais nas crianças, mas é influenciado por uma combinação de fatores genéticos, neurológicos e ambientais.
Segundo a psicóloga Larissa Rossi, ninguém desenvolve o TDAH ao longo da vida, ou a pessoa nasce com ou a pessoa não tem. “Existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento do transtorno, que são os fatores ambientais, como por exemplo, tabagismo na gravidez, exposição a substâncias tóxicas na gravidez, um parto prematuro, baixo peso ao nascer, desnutrição, tudo isso vai influenciar no desenvolvimento do transtorno”.
Sintomas
Os sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) podem ser classificados em três categorias: desatenção, impulsividade e hiperatividade.
Desatenção:
Não prestar atenção em detalhes ou cometer erros por descuido;
Ter dificuldades de manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
Parecer não escutar quando alguém conversa com ela;
Não seguir instruções até o fim e não conseguir terminar tarefas;
Ter dificuldades em organização;
Evitar tarefas de esforço longo;
Perder coisas necessárias;
Se distrair facilmente com estímulos externos;
Esquecer de realizar as atividades cotidianas.
Hiperatividade e Impulsividade:
Levantar da carteira inapropriadamente;
Ficar se mexendo ou bater os pés e as mãos;
Correr ou subir nas coisas;
Ter dificuldade de brincar calmamente;
Falar demais;
Responder antes do término da pergunta;
Ter dificuldade de esperar a sua vez;
Interromper nas conversas dos outros;
Diagnóstico
O diagnóstico envolve uma avaliação realizada por um profissional da área de saúde qualificado, como um pediatra, psiquiatra infantil ou psicólogo. E é feito com base em critérios clínicos estabelecidos no Manual do Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais, além das observações e relatos dos pais, professores e cuidadores.
“O diagnóstico do TDAH, ele é um diagnóstico clínico, então não tem um exame, é um teste que você faz pra falar se a pessoa tem ou não TDAH. Então o diagnóstico clínico, ele acontece por observação comportamental, se for da criança, o profissional observa como que aquela criança se comporta. Conversamos com a família, com a escola, para entender como é o desenvolvimento daquela criança no dia a dia. Já em adultos, a própria pessoa pode relatar também. E com essa coleta de informações, seguimos de acordo com os critérios que tem no manual diagnóstico, que é o DSM-5TR, onde tem todos os critérios que uma pessoa precisa atingir para conseguir um diagnóstico do transtorno”, explica a psicóloga.
Um estudo de longa duração realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP e das Universidades Federais do Rio Grande do Sul e de Pelotas, foi capaz de identificar uma relação entre maus-tratos na infância e maior risco de desenvolver o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ao final da adolescência.
“Isso acontece da seguinte forma, não é que os maus tratos causam o transtorno, é um transtorno do neurodesenvolvimento, então a criança já nasce dentro dessa condição, mas existem muitos fatores que vão influenciar em como esse transtorno vai se manifestar. Um exemplo mais prático para entender é, quando a gente se coloca em situações ou enfrenta situações de perigo, que ameaçam a nossa integridade física, emocional, é liberado no nosso corpo um hormônio que chama cortisol, que é o hormônio do estresse, esse hormônio, ele afeta várias áreas do cérebro, como a memória, a atenção, a concentração, a aprendizagem. Se a criança é colocada constantemente em situações de maus tratos, consequentemente ela está com muito cortisol no corpo, que vai afetar mais ainda essas áreas por conta da liberação do hormônio. Essa liberação acontece para colocar a pessoa na situação de defesa. A questão dos maus tratos não é que causa, mas pode agravar os sintomas”, comenta a psicóloga Larissa.
Tratamento
O tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pode ser feito com uma combinação de terapias e medicamentos, dependendo da idade e das necessidades de cada pessoa.
“O tratamento mais indicado é a psicoterapia, seguindo a abordagem da terapia cognitiva comportamental e também em alguns casos, o tratamento medicamentoso. A terapia cognitiva comportamental vai ensinar a pessoa a desenvolver habilidades que hoje ela não consegue ter por conta do transtorno, como o gerenciamento de tarefas, tempo, aprender a priorizar isso. Já o tratamento medicamentoso, pode entrar como um complemento, principalmente se é um caso mais grave, como de desatenção muito grave ou de hiperatividade mais grave, a medicação pode estar ajudando”, diz a psicóloga.
O TDAH não tem cura, mas os sintomas podem ser reduzidos naturalmente na adolescência e idade adulta.