sábado, 20 abril 2024

RMC tem quase 10 mil motoristas estrangeiros

Dirigem diariamente pelas ruas e estradas das 20 cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas) 9.963 estrangeiros, de mais de 70 países diferentes, de acordo com dados de novembro do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo). Devido à presença de imigrantes e também de refugiados no estado, o órgão tem aumentando a divulgação sobre como esse público pode tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) para dirigir no Brasil.

O agendamento precisa ser feito pelo site do Detran. É necessário ter a habilitação do seu país de origem há mais de um ano e dentro da validade, com tradução juramentada da mesma, além de outros documentos (confira no quadro nesta página). A tradução juramentada só é dispensável para países de língua portuguesa.

Os exames médico, psicológico e prático também são obrigatórios para países que fazem parte da Convenção de Viena ou têm o princípio de reciprocidade com o Brasil. A validade da CNH para os estrangeiros pode ser de até cinco anos, dependendo do exame médico. Para motoristas acima de 65 anos, a validade máxima é de três anos.

“O Estado de São Paulo atrai muitos estrangeiros. Por isso é importante divulgarmos essas informações para que eles tenham total acesso aos nossos serviços, como qualquer outro cidadão”, afirmou o diretor-presidente do Detran-SP, Maxwell Vieira.

TRADUÇÃO
A designer gráfica e professora Renāte Albrecht, 33, se mudou da Letônia para Nova Odessa há cinco anos, mas só deu entrada no pedido neste ano. Por trabalhar em home office, dirigir não era uma necessidade até então. “Nos primeiros seis meses, quando você entra no país, pode dirigir. Eu quero tirar (a carteira) agora porque tenho uma filha pequena, que vai começar a ir à creche. Antes, como eu só trabalhava de casa, não tinha muita necessidade”, explicou Renāte.

Entretanto, no caso dela, há uma dificuldade. Não existe no Brasil um tradutor juramentado para traduzir a habilitação do leto para o português. “Vou entrar com a documentação e ver se aceitam. Tenho uma carta do cônsul (da Letônia no Brasil) explicando que não existe esse tradutor. Essa é a minha dificuldade, mas a tradução está correta”, disse.

CHOQUE CULTURAL
Já a professora de língua japonesa Yoshiko Muto, 57, está em Holambra desde 1999. Ainda no Japão, ela se casou com um brasileiro, com quem teve dois filhos. Quando a família decidiu se mudar para o Brasil, Yoshito se viu “forçada” a tirar habilitação, ainda em seu país de origem.

“Eu não dirigia porque a gente morava na região metropolitana de Tokyo, onde não precisa de carro. Lá é trem e metrô, tudo conectado, até de madrugada. Quando entrei na faculdade eu falei que nunca ia dirigir nessa vida. Só que, já pensando em me mudar para o Brasil, que precisa de carro, tive que tirar. O maior sacrifício da minha vida, e tinha que fazer as aulas em câmbio manual. No Japão, praticamente todos os carros já eram automáticos (na época)”, contou.

Em Holambra, Yoshiko fez algumas aulas de direção na autoescola para se ambientar. O maior choque, no entanto, veio no dia a dia. “Eu estava parando em uma placa de ‘Pare’ numa rotatória, aqui em Holambra, e meu marido falou para eu não parar porque o carro atrás não ia reduzir e acabaria batendo. (…) Se a gente (estrangeiros) tentar seguir todas as regras vamos correr riscos”, opinou.

“Lá (no Japão) eu posso dizer que basicamente todo mundo respeita as leis e trânsito. E aqui, mesmo em cidade de interior, pequena, o povo não para, não dá seta para virar. No Japão, se virar uma vez sem dar seta já vai ser multado”, contou.

‘Aqui no Brasil, 80 não é 80’
Para o professor de engenharia civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em trânsito e transporte, Creso de Franco Peixoto, existe uma “questão cultural forte” no Brasil em não respeitar as leis de trânsito. O especialista conduziu uma medição do excesso de velocidade na rodovia Rio-Santos, entre Ubatuba e Rio de Janeiro, que é usada praticamente como uma avenida, e os resultados surpreenderam.

“Nessa pesquisa, onde acompanhamos algumas centenas de veículos, zero veículos respeitaram o limite onde era 40 km. Onde o limite era 60 km, a respeitabilidade foi de 30%, 40%. E perto do radar os motoristas freiam, respeitam. (…) Aqui no Brasil, 80 (km) não é 80, tende a ser 100. Há uma interpretação de que é um ‘absurdo’ andar tão devagar. Não adianta só colocar radar, é uma questão cultural forte e temos de mudar para controle de velocidade por percurso, mas é algo que ainda está em estudos”, explicou Peixoto.

Esse tipo de característica do trânsito brasileiro faz com que um estrangeiro tenha dificuldades para se adaptar, na visão do professor. “Imagina que o motorista (estrangeiro) vem para o Brasil, vê a placa de 80 km e quase nenhum motorista respeita. (…) Na Baviera, na Alemanha, se o motorista invade o semáforo vermelho, só isso já é suficiente para ele ir para a escolinha, ter a carteira suspensa”, comentou.

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