sexta-feira, 19 abril 2024

Romi-Isetta: legado de Santa Bárbara

Aos 81 anos, o barbarense Alberto Belan se orgulha por ter sido um dos responsáveis pela linha de montagem do primeiro automóvel brasileiro, o Romi-Isetta, que foi produzido em Santa Bárbara entre os anos de 1956 a 1961. “Só posso me sentir feliz e orgulhoso por ter feito parte deste projeto tão bonito e que significou tanto para a nossa história”. No ano do bicentenário de Santa Bárbara d’Oeste, o veículo é uma das marcas mais importantes do município.

 

Belan guarda muitas curiosidades e também fatos pitorescos e engraçados daquela época. Um deles foi justamente a participação do veículo numa corrida de carros. Ele explica que pelo fato do automóvel não ter um motor apropriado para competições, optaram em colocar éter no tanque. “Vencemos a corrida com o nosso Romi, mas, em contrapartida, isso acabou com o motor do veículo”, relembra às gargalhadas.

 

Quando o carro ia para a linha de montagem, Belan relembra que eram colocados o chicote, a lanterna e os faróis. Em seguida, os veículos saiam para os testes de verificação. “Nós colocávamos um caixão de querosene perto da direção e saíamos para dar uma volta pela Vila Romi. Se não notássemos nenhuma irregularidade, passavam para a última etapa que era a do acabamento final. Era uma alegria pilotar um daqueles carros”.

 

Outro momento que Belan se recorda com carinho foi sua relação de amizade e respeito com o ex-prefeito de Santa Bárbara, Américo Emílio Romi (na gestão de 1951), que também era proprietário das Indústrias Romi. “O meu trabalho na empresa possibilitou esse contato direto com ele que, apesar de muito exigente, sempre foi uma pessoa amável”.

 

PRODUÇÃO
Segundo Eugênio Chiti, vice-presidente do Conselho Deliberativo e herdeiro do legado do Romi, o volume de produção do veículo divulgado pelas Indústrias Romi foi de cerca de 3 mil unidades.

 

Ele conta que quando o carro começou a ser produzido no país, os compradores iam desde famílias de industriais, como os Matarazzo, até a clássica compradora: a classe média.

 

Devido às suas características e formato, o Romi-Isetta fez muito sucesso entre formadores de opinião, como artistas, músicos, atores e também pilotos.

 

Chiti aponta que parte da publicidade do carro foi endereçada ao público feminino, que iniciava suas conquistas numa sociedade eminentemente patriarcal.

 

Projetado para ser um veículo de baixo custo industrial e de manutenção, o preço de venda do Romi-Isetta sempre foi o mais baixo dentre todos os carros vendidos no Brasil. Para se ter uma ideia de valores, em 1960, a revista “Quatro Rodas” divulgou que o Romi-Isetta custava Cr$ 370 mil (ou 38 salários-mínimos de então). Já o VW Fusca custava Cr$ 540 mil, ou 56 salários-mínimos.

 

TRAJETÓRIA
O Romi-Isetta original foi introduzido na Itália pela Iso em 1953. Isetta significava literalmente “pequeno Iso” e tinha a ver com sua proposta: um carro pequeno, compacto, feito para transportar pessoas com economia e mais conforto. Na França, foi fabricado entre 1955 e 1958 pela Velam. Já na Alemanha e no Reino Unido, pela BMW que deixou de fazê-lo em 1962.

 

A chegada ao Brasil, mais precisamente em Santa Bárbara d’Oeste, aconteceu por influência da Romi, fabricante de ferramentas da cidade. A empresa acreditava que aquele era o momento perfeito para se colocar um carro nas ruas e popularizar os automóveis no país.

 

Foi então que o enteado do fundador da Romi, Carlos Chiti (italiano) propôs a ideia a Américo Emílio Romi, fundador da empresa.

 

Segundo a coordenadora do Cedoc (Centro de Documentação Histórica) da Fundação Romi, Sandra de Souza Barbosa, o acervo do Romi-Isetta é composto por cerca de 2.200 itens, incluindo fotografias, catálogos, documentos textuais, materiais gráficos, recortes de jornais, desenhos técnicos, dois exemplares do veículo.

 

“O Romi-Isetta é o primeiro carro de fabricação nacional e para a cidade a sua produção é um marco porque coloca Santa Bárbara d’Oeste na história da indústria automobilística brasileira”, disse.
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