sábado, 16 agosto 2025
SISTEMA DE SAÚDE SOBRECARREGADO

SUS sob pressão: filas invisíveis, lentidão e falta de transparência na regulação de vagas pela CROSS

Pacientes aguardam por meses, até anos, por procedimentos essenciais, mesmo com ordens judiciais
Por
Andressa Oliveira

Milhares de pacientes enfrentam diariamente um calvário silencioso no Sistema Único de Saúde (SUS), aguardando por consultas, exames, cirurgias e tratamentos. A espera se dá, muitas vezes, em filas invisíveis, sem qualquer previsibilidade ou informação clara sobre a posição dos usuários. O centro das críticas é a Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS), responsável por intermediar os encaminhamentos entre unidades básicas e serviços de média e alta complexidade.

“A oferta é menor que a demanda”, diz coordenadora da regulação em Americana

A coordenadora da Central de Regulação do município de Americana, Mariana Danielle da Silva, reconhece que há um gargalo estrutural. “Temos várias filas, as maiores demandas são ortopedia, oftalmologia e cardiologia. Nós inserimos os dados dos pacientes, mas quem regula e agenda é o Estado, e a Unicamp já está sobrecarregada”, afirmou.

A espera se dá, muitas vezes, em filas invisíveis, sem qualquer previsibilidade ou informação clara sobre a posição dos usuários. Foto:Governo de SP

Segundo Mariana, o paciente só consegue acompanhar sua posição por meio da equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS), pois o sistema não permite acesso direto à fila. “Hoje o paciente só sabe da fila por nós da UBS. Ele vê se está aguardando municipal ou regional. O Estado estuda permitir isso via projeto de lei, mas ainda não está disponível”, completou.

A coordenadora da Central de Regulação do município de Americana, Mariana Danielle da Silva, reconhece que há um gargalo estrutural. Foto:Reprodução/TV TodoDia

Falta de transparência e centralização excessiva geram críticas no Legislativo

A deputada estadual Ana Perugini, que coordena uma Frente Parlamentar sobre o tema, tem percorrido diversas cidades com audiências públicas para ouvir relatos da população e apresentar propostas. “A ideia de fila é sofrimento, via-sacra. É uma fila sem visibilidade, um calvário. Nada justifica uma central única que retira pacientes de um município para outro sem diálogo regionalizado”, criticou.

Perugini defende a regionalização com recursos, referências e transparência, além de maior fiscalização por parte do Tribunal de Contas e do Ministério Público. “Só regionalização não basta. Precisamos de projetos que listem prioridades, tragam clareza sobre a ordem das filas e permitam controle social. Temos iniciativas tramitando para isso”, disse.

Ana Perugini defende a regionalização com recursos, referências e transparência, além de maior fiscalização por parte do Tribunal de Contas e do Ministério Público. Foto:Reprodução/TV TodoDia

Casos que escancaram o colapso

O drama vivido por pacientes como João e Samara representa a face mais dura do problema. João esperou dias por uma cirurgia para evitar a amputação de um membro. Samara aguarda há mais de um ano por um procedimento quadril, mesmo após uma ordem judicial. “O ponto é esse: tem sido um verdadeiro calvário para pessoas no SUS. O problema hoje se chama CROSS. Há uma ineficiência evidente, e isso compromete vidas”, destacou a deputada.

O que diz a CROSS

Em nota, a Central de Regulação informou que não cria vagas, mas apenas intermedeia a busca por leitos e serviços compatíveis com a necessidade dos pacientes. O sistema funciona 24 horas por dia, priorizando os casos mais graves e urgentes.

Sobre os casos ambulatoriais, a CROSS afirmou que as vagas são disponibilizadas aos municípios, que definem a ordem conforme a urgência. “A CROSS realiza treinamento dos profissionais que utilizam a plataforma, conforme solicitação dos municípios”, finalizou a nota.

Caminhos possíveis: transparência e gestão regionalizada

A proposta da Frente Parlamentar coordenada por Ana Perugini mira em um novo modelo de regulação que envolva decisão regional, ampliação de recursos locais e transparência no sistema, com acesso público às filas e tempo de espera estimado. “Nada justifica o que está acontecendo hoje. É preciso resolver o problema da CROSS com seriedade, porque estamos falando da vida das pessoas. A transparência não pode ser um privilégio. É um direito”, concluiu a deputada.

Esperança nas possíveis mudanças

Enquanto isso, milhares de brasileiros seguem aguardando em filas que não podem ver por procedimentos que muitas vezes são urgentes.

A pressão aumenta, o sistema sobrecarrega, e o colapso silencioso no acesso ao SUS continua. A esperança agora está no avanço das propostas por regionalização, descentralização e transparência real, para que essa longa via-sacra possa, enfim, chegar ao fim.

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