Milhares de pacientes enfrentam diariamente um calvário silencioso no Sistema Único de Saúde (SUS), aguardando por consultas, exames, cirurgias e tratamentos. A espera se dá, muitas vezes, em filas invisíveis, sem qualquer previsibilidade ou informação clara sobre a posição dos usuários. O centro das críticas é a Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS), responsável por intermediar os encaminhamentos entre unidades básicas e serviços de média e alta complexidade.
“A oferta é menor que a demanda”, diz coordenadora da regulação em Americana
A coordenadora da Central de Regulação do município de Americana, Mariana Danielle da Silva, reconhece que há um gargalo estrutural. “Temos várias filas, as maiores demandas são ortopedia, oftalmologia e cardiologia. Nós inserimos os dados dos pacientes, mas quem regula e agenda é o Estado, e a Unicamp já está sobrecarregada”, afirmou.

Segundo Mariana, o paciente só consegue acompanhar sua posição por meio da equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS), pois o sistema não permite acesso direto à fila. “Hoje o paciente só sabe da fila por nós da UBS. Ele vê se está aguardando municipal ou regional. O Estado estuda permitir isso via projeto de lei, mas ainda não está disponível”, completou.

Falta de transparência e centralização excessiva geram críticas no Legislativo
A deputada estadual Ana Perugini, que coordena uma Frente Parlamentar sobre o tema, tem percorrido diversas cidades com audiências públicas para ouvir relatos da população e apresentar propostas. “A ideia de fila é sofrimento, via-sacra. É uma fila sem visibilidade, um calvário. Nada justifica uma central única que retira pacientes de um município para outro sem diálogo regionalizado”, criticou.
Perugini defende a regionalização com recursos, referências e transparência, além de maior fiscalização por parte do Tribunal de Contas e do Ministério Público. “Só regionalização não basta. Precisamos de projetos que listem prioridades, tragam clareza sobre a ordem das filas e permitam controle social. Temos iniciativas tramitando para isso”, disse.

Casos que escancaram o colapso
O drama vivido por pacientes como João e Samara representa a face mais dura do problema. João esperou dias por uma cirurgia para evitar a amputação de um membro. Samara aguarda há mais de um ano por um procedimento quadril, mesmo após uma ordem judicial. “O ponto é esse: tem sido um verdadeiro calvário para pessoas no SUS. O problema hoje se chama CROSS. Há uma ineficiência evidente, e isso compromete vidas”, destacou a deputada.
O que diz a CROSS
Em nota, a Central de Regulação informou que não cria vagas, mas apenas intermedeia a busca por leitos e serviços compatíveis com a necessidade dos pacientes. O sistema funciona 24 horas por dia, priorizando os casos mais graves e urgentes.
Sobre os casos ambulatoriais, a CROSS afirmou que as vagas são disponibilizadas aos municípios, que definem a ordem conforme a urgência. “A CROSS realiza treinamento dos profissionais que utilizam a plataforma, conforme solicitação dos municípios”, finalizou a nota.
Caminhos possíveis: transparência e gestão regionalizada
A proposta da Frente Parlamentar coordenada por Ana Perugini mira em um novo modelo de regulação que envolva decisão regional, ampliação de recursos locais e transparência no sistema, com acesso público às filas e tempo de espera estimado. “Nada justifica o que está acontecendo hoje. É preciso resolver o problema da CROSS com seriedade, porque estamos falando da vida das pessoas. A transparência não pode ser um privilégio. É um direito”, concluiu a deputada.
Esperança nas possíveis mudanças
Enquanto isso, milhares de brasileiros seguem aguardando em filas que não podem ver por procedimentos que muitas vezes são urgentes.
A pressão aumenta, o sistema sobrecarrega, e o colapso silencioso no acesso ao SUS continua. A esperança agora está no avanço das propostas por regionalização, descentralização e transparência real, para que essa longa via-sacra possa, enfim, chegar ao fim.