sexta-feira, 19 abril 2024

Era uma vez a história de um reino não muito distante…

Esqueça por um instante o príncipe Harry e sua consorte, Meghan Markle. Se você realmente está interessado na tradição secular da monarquia inglesa, a melhor maneira de empregar seu tempo é ler “O Espelho e a Luz”, da romancista britânica Hilary Mantel.

Não espere, porém, um conto de fadas, nem mesmo na versão irônica e assombrada por paparazzi que transformou Markle e, bem antes dela, a princesa Diana em fenômenos midiáticos. O livro, terceira parte da série cujos volumes um e dois são “Wolf Hall” e “Tragam os Corpos”, consagra a habilidade quase clarividente de Mantel em recriar a corte de Henrique 8º, vista em toda a sua crueza e instabilidade.

Os olhos que enxergam esse cenário são os de Thomas Cromwell, um plebeu nascido num bairro pobre de Londres que acabou se tornando o mais poderoso ministro de Henrique. O braço direito de Henrique 8º é uma mistura esquisita de pragmatismo implacável e escrúpulos de decência nas pequenas coisas, inimigo do que enxerga como a corrupção inerente ao papado medieval.

Ele e seus jovens e ambiciosos assessores ajudaram Henrique 8º a fazer da protestante Ana Bolena sua rainha. Quando ela cai em desgraça diante do rei (por sua incapacidade de dar a ele um herdeiro do sexo masculino, por seu gênio irascível e pela tendência geral do soberano a se entediar com as mulheres), Cromwell engendra a prisão de Ana e a primeira execução pública de uma rainha na história da Inglaterra.

A sombra da decapitação da rainha (e de vários dos desafetos de Cromwell, arrastados ao cadafalso junto com Ana Bolena numa improvável trama de adultério e incesto com ela) pesa sobre o ministro de Henrique 8º durante toda a narrativa. As tramas de Cromwell enfim conseguem dar ao rei a mulher e o filho que ele tanto desejava. O mundo de Cromwell está separado do nosso por um abismo de tempo, mas ainda assim é um espelho capaz de refletir certa luz atemporal.

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