Resistência, luta e trabalho são três palavras que estão na história do novo apresentador do #RedeBBB, o humorista Rhudson Victor, 23. Nascido e criado na periferia do Rio de Janeiro, ele decidiu seguir carreira na comédia aos 14 anos e após muito trabalho, hoje ele diz que “a favela está vencendo”.
“Foi no momento certo, no momento que eu de fato precisava”, afirmou, em entrevista à reportagem, sobre o convite para apresentar o programa. O comediante explicou estar em um momento que precisava de um trabalho, já que a comédia não dava tanto retorno financeiro. “A minha felicidade foi gigantesca, eu pulei a casa toda, tudo bem que aqui em casa só tem dois cômodos, então foi até fácil mesmo”, brincou.
Rhudson decidiu cedo que a comédia era o seu lugar. Ele conta que após algum tempo, seu pai conseguiu o presentear com um computador, e com a ajuda da internet discada do vizinho, ele passava madrugadas esperando os vídeos de shows de standup comedy carregarem para poder assistir, mas o humorista queria mesmo assistir os espetáculos de comédia ao vivo.
Para ver as apresentações ao vivo, sua mãe disse que ele teria que fazer um colégio técnico. “Passei num colégio técnico para estudar administração, mas não adiantou de muita coisa. Tive que esperar praticamente três anos para arrumar um trabalho, que foi num açougue”, relembra Rhudson.
Junto de seu trabalho em uma rede de supermercados carioca, ele também começou a fazer faculdade de história, porém Rhudson decidiu trancar a matrícula. “Vi que estava faltando várias aulas na faculdade para fazer shows de comédia”, explica. Sua família não aceitou a decisão, “aí que entra a pior coisa que eu fiz: falar para os meus pais eles que eu ia estudar para o concurso militar”, conta.
O comediante até chegou a de fato estudar para o concurso, mas viu que não era o que queria. Então decidiu sair da casa dos pais, sem estrutura alguma, para seguir seu sonho. Ele conta que viveu do seguro desemprego por alguns meses e também trabalhou com aplicativos de entrega. “Tiveram dias em que eu trabalhei por 12 horas e ganhei R$ 3, de uma única entrega”, afirmou. E foi então que ele decidiu se mudar para São Paulo.
“Eu pensei: ‘quer saber? Estou sem trabalho, sem dinheiro, vou me mudar para São Paulo’, então me fui e fiz shows por um tempo, aí que as oportunidades foram acontecendo”, comentou. Rhudson afirmou também que seus pais começaram a dar mais apoio após sua saída de casa, quando eles perceberam que a comédia era o seu caminho. “Hoje minha mãe é a minha maior incentivadora”.
Apesar de nunca ter pensado em ser apresentador, o comediante diz que “conseguiram enxergar em mim algo que eu mesmo não consegui enxergar”. Para ele, estar na televisão é a confirmação de seu sonho e trabalho, apesar todas as dificuldades que ele e a família já passaram. “Sei que tenho muita gente para representar, então vou continuar a fazer meu trabalho e abrir espaço para novas pessoas”.
Agora, durante a pandemia do coronavírus, ele voltou a morar no Rio de Janeiro. O apresentador conta que agora vive com leveza, e que fica feliz em poder ser um exemplo para tantas pessoas que estão em lugares que ele já esteve. “Eu sou preto favelado e periférico”, diz, “ter essa representatividade me alegra demais. Saber que pessoas podem se espelhar em mim me alegra demais”.
“Imagina quantos talentos existem na favela. Lá não é um lugar de vitrine, mas precisamos olhar como uma produtora de talentos, quantas pessoas de favela não tem uma estrutura, mas poderiam ser ótimos jogadores de futebol, comunicadores, jornalistas, ótimos tudo!”, comenta.
Rhudson fala que no futuro quer ser um realizador de sonhos. Quer dar lugar para pessoas que vieram de realidades como a dele: “A favela tem talentos que precisam só de um estalo, de uma pessoa para falar ‘vem cá comigo que eu sei onde você vai estar, e é um lugar de destaque'”. Além disso, ele também quer ter um programa próprio de comédia e conseguir viajar muito com seus shows.
O comediante passa a mensagem de que é possível, e que apesar de dificuldades, nossos sonhos devem ser seguidos. “O sistema tenta nos afundar de todas as formas e por nossos sonhos no cimento. Então estou bastante feliz com essa vitória”, explica. “A favela está vencendo, e eu só sou mais um”, completa Rhudson.