domingo, 23 novembro 2025
SAÚDE

Uso de cigarros eletrônicos impulsiona aumento do tabagismo no Brasil, alertam especialistas

Especialistas associam o crescimento do tabagismo à falta de campanhas de conscientização e ao uso crescente de cigarros eletrônicos
Por
Nicoly Maia

A proporção de adultos fumantes nas capitais brasileiras subiu de 9,3% em 2023 para 11,6% em 2024, segundo pesquisa preliminar do Ministério da Saúde. O avanço ocorre em um cenário marcado pela expansão dos cigarros eletrônicos e pela redução de campanhas de conscientização.

Para a psicóloga Tânia Bolognesi, do programa Viver Bem da Unimed, muitas pessoas ainda enxergam o cigarro como um “companheiro” emocional, o que reforça o ciclo do vício. O tabagismo é reconhecido como doença crônica e psiquiátrica pela Organização Mundial da Saúde, geralmente iniciada na adolescência, entre 14 e 16 anos.

A nicotina é uma substância altamente viciante que atua no cérebro liberando dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e alívio emocional. Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

Vapes impulsionam nova geração de dependentes
O cirurgião torácico Dr. Aurílio Garcia afirma que a alta no número de fumantes está relacionada à falta de campanhas de prevenção e ao crescimento do uso de cigarros eletrônicos entre jovens. Ele ressalta que a percepção de que os vapes seriam menos prejudiciais “não é verdadeira”, citando estudos que apontam migração de jovens dos eletrônicos para o cigarro tradicional.

Tânia explica que os dispositivos têm alta concentração de nicotina, podendo corresponder a até 100 cigarros por unidade. Segundo estimativas citadas pela psicóloga, mais de um milhão de produtos à base de nicotina são consumidos por mês apenas na cidade de São Paulo.

Segundo dados citados pelos especialistas, 16% dos casos de câncer de pulmão relacionados ao tabagismo atingem fumantes passivos. Foto: Reprodução

Como age a nicotina no organismo
A nicotina atua no cérebro liberando dopamina, neurotransmissor associado ao prazer. O uso contínuo gera tolerância e dependência física e psicológica. Na ausência da substância, surgem sintomas como irritabilidade, dor de cabeça, ansiedade e insônia.

Danos provocados pelo cigarro tradicional
O Dr. Aurílio alerta que o cigarro compromete vários sistemas do corpo. As substâncias tóxicas lesionam vasos sanguíneos e aumentam o risco de infarto, AVC e trombose. O tabagismo também está ligado ao enfisema pulmonar, com destruição de alvéolos e perda de capacidade respiratória. Nos casos mais graves, pode haver necessidade de oxigênio suplementar.

A inflamação crônica e as mutações celulares aumentam o risco de tumores. Mais de 70% dos casos de câncer de pulmão têm relação direta com o tabagismo. Há ainda associação com tumores de boca, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, intestino e colo do útero.
Já fumantes passivos representam 16% dos casos de câncer de pulmão relacionados ao tabagismo, além de apresentarem maior risco de doenças cardiovasculares e pulmonares.

Cigarro eletrônico provoca danos mais rápidos
Segundo o médico, os cigarros eletrônicos têm causado lesões aceleradas nos pulmões, com aumento de casos entre jovens. “Elas provocam uma inflamação que pode evoluir para fibrose pulmonar. Nós já estamos verificando casos de pacientes jovens.” A fibrose é irreversível e reduz rapidamente a capacidade respiratória, já que os produtos químicos entram diretamente nos pulmões.

Profissionais de saúde relatam pacientes jovens com perda significativa de função pulmonar e episódios de escarro com sangue, prejudicando estudo, trabalho e rotina.

Dependência psicológica e gatilhos do vício
Além da dependência química, Tânia destaca o vínculo emocional do cigarro com situações cotidianas, como dirigir, tomar café ou enfrentar problemas. Muitos fumantes descrevem o cigarro como “um amigo”. A psicóloga recomenda estratégias como definir uma data para parar, reduzir o acesso ao cigarro, usar um “kit de fissura”, beber água, respirar profundamente, manter alimentação leve e buscar apoio profissional.

O Dr. Aurílio reforça que parar de fumar envolve dois processos: cessar a dependência química e romper o hábito. “Em cerca de uma semana, o cérebro praticamente deixa de pedir nicotina. Mesmo sem precisar quimicamente, o hábito faz o cérebro continuar pedindo o cigarro.”

Benefícios de parar de fumar
Os efeitos positivos surgem nas primeiras semanas, com melhora da respiração e redução da ansiedade. Em um ano, o risco de doenças cardiovasculares cai pela metade. Em dez anos, o risco de câncer reduz 50%. Após 20 anos, aproxima-se do índice de quem nunca fumou.

A recuperação pulmonar, porém, tem limites. O tecido destruído não se regenera, mas parar de fumar impede a progressão dos danos. “A decisão de parar de fumar é difícil, mas os benefícios aparecem — e aparecem rápido”, afirma o especialista.

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