Amanda Nunes foi superior -não à toa recuperou o título após decisão unânime- e machucou mais a adversária em Dallas (EUA)
“Precisava de cinco rounds, precisava não finalizá-la, precisava provar para ela que sou melhor do que ela. Foi muito importante. Tiveram muitos momentos que eu poderia ter finalizado e eu segurei”. A frase de Amanda Nunes ao ‘Combate’ explica bem por que os rostos da brasileira e da americana Julianna Peña ficaram irreconhecíveis após a luta do último sábado (30), que valia o cinturão do peso-galo (até 61,2 kg) no UFC.
Amanda Nunes foi superior -não à toa recuperou o título após decisão unânime- e machucou mais a adversária em Dallas (EUA). Peña saiu do octógono direto para o hospital para averiguar a gravidade das lesões, mas descartou cirurgia plástica e pediu uma trilogia. A Leoa, que segurou o ímpeto em certos momentos e arrastou o combate, também saiu deformada.
Durante o disputadíssimo duelo, Amanda Nunes levou 54 golpes no rosto, enquanto Julianna Pena tomou 67, de acordo com o “UFC Stats”. A reportagem ouviu cirurgiões plásticos para entender as consequências de uma luta sangrenta como a revanche no peso-galo feminino, quais são as lesões mais comuns entre atletas do MMA, o quanto pode ser perigoso e se é preciso um tempo de recuperação.
“A gente tem sempre que classificar o tipo de lesão. Lesão em partes moles, lesão em partes ósseas e lesões neurológicas. Falando das neurológicas, podem ser agudas ou crônicas. Neurológica aguda é quando você tem um traumatismo craniano intenso em que você tem repercussões cerebrais. Isso é raro você ver hoje em dia nesse tipo de luta, porque eles usam as luvas e acabam se protegendo”, afirmou o dr. Wendell Uguetto, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein.
“Lesões crônicas repetidas têm um aumento de lesões cerebrais como o Alzheimer. Paciente que tem muita contusão cerebral repetida vai ter um Alzheimer precoce, acrescentou Wendell Uguetto. O médico usou o boxeador Muhammad Ali como exemplo. “Era incrível, mas tomava tanta pancada que teve Parkinson precoce.”
Já o Dr. Leonardo Sauerbronn Muniz, cirurgião plástico em uma clínica no Rio de Janeiro, explica que a gravidade das lesões varia de acordo com a profundidade dos cortes.
“Existem graus de complexidade das feridas abertas que variam de acordo com a profundidade da ferida, quantidade de tecido perdido e danos a estruturas associadas. Feridas mais superficiais, sem perda de tecido e sem lesão de estruturas associadas, são mais facilmente manejadas do que feridas profundas associadas a fraturas ósseas e de vasos sanguíneos e nervos, por exemplo”, afirmou o médico, que também é faixa preta em jiu-jitsu.
“O CONSELHO É PARA SE RECUPERAR BEM”
A dúvida mais comum é sobre quanto tempo uma atleta de alto nível, como Amanda e Julianna Peña, demora para retomar a forma e voltar à ativa. Leonardo Sauerbronn Muniz afirmou que o prazo de recuperação varia, mas disse que ‘lesões no rosto tendem a cicatrizar mais rapidamente do que feridas nos pés e nas mãos’.
Já o médico do Albert Einstein ressaltou que muitas vezes os atletas aceleram o retorno ao octógono e isso acaba sendo prejudicial.
“Tem que dar um tempo para o corpo dela se recuperar, cicatrizar, as fraturas se consolidarem, para voltar melhor”, começou Wendell Uguetto. “Muitas vezes você não faz o seu tratamento de forma adequada porque você quer correr para lutar novamente e aí as lesões podem ser muito mais graves. Você faz uma fratura em cima de uma fratura e isso traz muitos prejuízos lá para frente”, explicou.
“O conselho é para se recuperar bem, voltar a treinar e retomar a atividade física quando estiver bem recuperada. Depois, pede a revanche”, disse Uguetto.
Ele pontuou que cortes em partes moles do rosto exigem suturação, e revelou que fraturas no nariz são as lesões mais comuns entre lutadores.
“Algumas lacerações de partes moles, que vai precisar de sutura, e uma fratura nasal que você vai precisar reduzir os ossos nasais, vão exigir que você fique um tempo com uma tala cirúrgica, com tampão. Uma semana depois, essas talas são retiradas e o paciente precisa ficar pelo menos dois meses sem trauma na região para não desalinhar esses ossos que foram colocados em posição.”