Um guarda municipal de Cosmópolis foi baleado e um casal, morto, em operação realizada pela Delegacia de Cosmópolis e a DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Americana na Rua Jundiaí, nas Chácaras Recreio, em Nova Odessa, às 6h30 desta quinta-feira (30). O casal recebeu os policiais a tiros, que revidaram e mataram os envolvidos em esquemas fraudulentos de venda de lotes, compra de cheques, notas promissórias, lavagem de dinheiro e possível venda de veículos em sites de leilões criados para dar golpes.
“Houve tentativa de negociação para a rendição dos moradores do imóvel, contudo sem sucesso. Vários disparos continuavam sendo efetuados contra os investigadores, mesmo após o policial ser baleado”, relatou a delegacia especializada, em nota. O casal movimentava milhões com as 15 empresas envolvidas no esquema de negociações “no mínimo suspeitas”, segundo o delegado de Cosmópolis, Fernando Fincatti Periolo.
A operação movimentou a área de chácaras de alto padrão em uma região nobre e muito valorizada, situada às margens da Represa de Salto Grande. Entraram em confronto com a polícia João Dias Junior e sua mulher, Lucimares Monteiro Dias, ambos com 55 anos, que foram mortos no local.
Até mesmo o delegado Periolo, que também acumula o 4º Distrito Policial de Americana, ficou surpreso com a reação do casal. A intenção da polícia era cumprir mandado de busca e apreensão de computadores, celulares e documentos para apurar uma denúncia de um empresário vítima de estelionato, em Cosmópolis, que teve um desfalque de R$ 40 mil, aplicado pelo acusado que foi morto. O falecido havia vendido um imóvel e não repassado o valor ao empresário.
Nem mesmo os policiais esperavam uma reação tão violenta. O casal foi informado pelo porteiro, na frente da chácara, que a polícia havia forçado a entrada no imóvel. Assim que chegaram na frente da residência, os policiais foram recebidos à bala e revidaram.
Havia sinais de tiros na frente da casa principal e no quarto do imóvel. Projéteis estavam espalhados pelo chão. O casal morreu dentro da residência. No confronto, um guarda, que estava com colete à prova de balas, levou um tiro no ombro, passou por cirurgia no Hospital Municipal de Americana e passa bem, segundo o delegado.
Periolo disse que o casal estava envolvido em negócios nebulosos fechados em Limeira, Nova Odessa e Cosmópolis. Estavam envolvidos até mesmo em apropriação indébita de venda de lotes. Também há conexão do casal com venda de veículos em leilões fajutos anunciados pela internet, em sites falsos, que fizeram vítimas em Cosmópolis e Americana. E pode haver conexão com investigação em andamento na DIG (Leia mais ao lado).
BUSCA
A intenção era apenas fazer buscas e apreender os equipamentos em cumprimento a ordem judicial, informou o delegado. Seria o início da investigação do casal sobre lavagem de dinheiro e pelos outros crimes. O homem já tinha passagem por estelionato e porte de arma. Há alguns anos, João Dias já havia sido alvo de investigações da DIG e também do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), ligado ao Ministério Público, informou o delegado da especializada, José Donizeti de Melo.
A quantidade de documentos, computadores e celulares apreendidos era enorme e encheu duas viaturas. Toda essa documentação com somas milionárias foi apreendida no escritório montado na propriedade com mais de 20 mil metros quadrados (Leia mais abaixo).
No local também havia uma máquina retroescavadeira, cuja origem está sendo investigada. Até mesmo um veículo Land Rover blindado usado pelo casal foi apreendido. Três quadriciclos também constam na lista.
Dois revólveres usados – um sem registro e outro com a numeração suprimida – usados pelo casal para atirar contra os policiais também foram apreendidos. Doze munições calibre 38, seis munições calibre 36 e cinco rádios comunicadores foram apreendidos.
O porteiro e dois funcionários que prestavam serviços à chácara foram ouvidos em depoimento e liberados porque não estavam envolvidos no esquema fraudulento.
Como houve morto em intervenção policial, o caso será apurado pela Corregedoria da Polícia Civil e pelo delegado da DIG, que também participou da coletiva de imprensa no final da tarde desta quinta.
Também prestaram apoio diversas viaturas da Polícia Militar de Americana e Sumaré, Guarda Municipal de Americana e Nova Odessa e helicóptero Águia.
Casal movimentava milhões
O delegado José Donizeti de Melo, titular da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Americana, disse que o casal movimentava milhões com os esquemas em que estavam envolvidos.
Falou isso com base na papelada apreendida no escritório da chácara. O patrimônio declarado ao imposto de renda chegava a R$ 15 milhões.
Entre a documentação, havia várias notas promissórias assinadas com valores acima de R$ 1 milhão. Pela análise preliminar da documentação apreendida, os contratos somavam ao menos R$ 30 milhões, informou o delegado da DIG.
A chácara que foi a cena do confronto deve valer, pelo menos, R$ 5 milhões. “Fica à beira da represa. É um lugar espetacular”, disse o delegado Donizeti.
Informações da vizinhança dão conta de que o casal morava há bastante tempo no local.
Segundo o delegado Fernando Fincatti Periolo, a chácara tem mais de 20 mil metros quadrados, localizada de frente para a represa.
Empresas também são investigadas
O casal que foi morto na operação policial tinha pelo menos 15 empresas em seus nomes, que supostamente estavam envolvidas no esquema de fraudes. Duas dessas empresas são de leilões virtuais de veículos, que estão sendo investigadas pela DIG por vendas fraudulentas.
A DIG está apurando pelo menos 70 boletins de ocorrência registrados na região e em outros estados por causa da venda de veículos em sites falsos. Inclusive, no dia 3 de julho, prendeu três homens em Santa Bárbara d’Oeste envolvidos no esquema milionário, com ramificações em vários estados.
Agora, informou o delegado José Donizeti de Melo, as investigações continuam para apurar se o casal morto participava deste esquema que vendia carros inexistentes. As vítimas depositavam o dinheiro da compra dos carros e laranjas eram usados para sacar ou transferir as quantias para os integrantes da organização criminosa.
GUARDAS
Dois guardas municipais de Cosmópolis participaram da operação e um deles, que teve a identidade preservada, foi alvejado no ombro, mas passa bem, segundo o delegado Fernando Fincatti Periolo. O guarda foi cedido pela prefeitura.