Nasce e começa a ganhar volume no Brasil a nova direita, uma das estacas que compõem o bloco bolsonarista. O que vem a ser essa tendência, que perfis a integram e qual é a possibilidade de esse grupamento vir a se transformar em força decisiva no arco partidário nacional? Para começo de conversa, essa nova direita não escolheu o país como seu principal habitat. Designa um partido criado em 1918 em Israel, expande-se na Europa e finca raízes no seio da maior democracia ocidental, os Estados Unidos, e na América Latina, sob uma imensa teia de fenômenos, como o autoritarismo, o nacionalismo, o conservadorismo, o populismo e a xenofobia, principais eixos de sua identidade.
A nova direita, por aqui, é bem diferente da direita clássica que esteve por trás do golpe militar de 64, apesar de agregar parcela dos remanescentes daquele período. Mas não é uma direita comprometida com golpes, viradas bruscas de mesa, reimplante de ditadura militar. Pode até reunir uma ala que ainda pensa nisso, mas a nova direita elege o conservadorismo como seu obelisco, a par de traços de populismo e autoritarismo, que podem ser adotados tanto por um ex-integrante das Forças Armadas – Jair Bolsonaro – como por um civil identificado com essas tendências. Portanto, o importante é o Que, não o Quem.
Nos Estados Unidos e na Europa, certamente contribuem para consolidar o fenômeno a defesa nacionalista, incorporada ao pensamento dos produtores rurais e de outros segmentos que se sentiram prejudicados pela invasão do seu território por “alienígenas”, outras culturas, outros centros mundiais de produção barata, como a China, imigrantes que desformam culturas locais com suas novas formas de pensar e de viver. Nos EUA, encontraram alguém que incorporou o ideário, Donald Trump, eleito pelo voto conservador. Na Europa, alguns países se retraem ante o fracasso de governantes de esquerda e dos impactos da globalização, que definiram novos posicionamentos, como o Brexit no Reino Unido.
Na Hungria, Victor Orban é um bastião contra migrantes e refugiados, defendendo, inclusive, uma cerca de arame farpado para evitá-los. Na Alemanha, três partidos de direita se formaram sob a lembrança da bandeira que lembra o nazifascismo.
No Brasil, constata-se um estado geral de insatisfação que nasce no topo da pirâmide social e se desdobra até as margens. Mas essas continuam a eleger seus governantes por meio da equação custo/benefício. No meio, há contingentes que agem sob o império da mudança: “não aguentamos mais, não suportamos essa carga de impostos, serviços precários, corrupção deslavada, dinheiro para alguns, escassez para outros”.
Portanto, o amanhã será aberto com um sol brilhante ou sob nuvens plúmbeas. A escuridão abrigará a continuidade da polarização e dos extremos do arco ideológico. A claridade revitalizará nossa democracia e trará os ventos do bom senso. A angústia trazida pela pandemia precisa ser aliviada.
Escrito por: Gaudêncio Torquato | Jornalista, Professor e Consultor Político