Nos últimos anos, um dos profissionais que mais tem se destacado no mercado é o “coach”. O coach é o profissional que ajuda uma pessoa, por meio de orientação, conselhos e treinamento a atingir um objetivo pessoal ou profissional.
Acontece que o “coaching”, que é o sistema, forma ou processo, do treinamento tem saído do seu lugar e se estendido para dentro de outras áreas fora da sua competência, uma delas, o pastorado.
Que mal há nisso? Nenhum, desde que a Palavra de Deus seja respeitada em sua interpretação. O que tenho ouvido nas redes sociais, são homens e mulheres que fizeram formação em teologia e, depois em uma área específica de coaching, tornando o púlpito das comunidades num espetáculo performático e arrebentador das emoções humanas. Pois estes profissionais, quando querem unir ambas as teorias (teologia e coaching) humanizam o divino e divinizam o humano. E quando faço essa afirmação, a faço do lugar de alguém que tem excelentes formações em Teologia, Leader Coaching em Desenvolvimento Integral, PsicoTeologia e Psicanálise.
Não, o púlpito não é lugar de explorar o potencial das pessoas. O púlpito é o lugar de exaltar o Divino, colocar o ser humano em seu lugar, e, demonstrar que Aquele que está exaltado ama e se compadece daquele que está humilhado. Sim, humilhado. Foi nesta condição que o pecado nos colocou.
Não é possível que, sem conhecer a individualidade de cada ouvinte, um pastor suba ao púlpito e, ao invés de pregar o Evangelho da Graça que nos humaniza e por isso nos demonstra a necessidade de comunhão com Deus, construa na mente desses ouvintes ideais de que eles podem ser e fazer o que quiserem; que eles devem vencer as crenças limitantes e romperem em nome de Jesus para um vida melhor. Isso, na verdade, é teologia da prosperidade enfeitada com botox, blazer, e assessoria de imagem.
Não, você não pode fazer o que quiser! Não, você não possui todas as capacidades; sim, seres humanos têm crenças limitantes, pois são filhos de uma história, por vezes, marcada por abusos e violências de todas as ordens.
Esses discursos de púlpito que têm contribuído, e muito, para o aumento da ansiedade, depressão e, possivelmente, suicídio, distorcem o função desse lugar. O púlpito é lugar de reconciliação com Deus; é também um lugar de reconciliação das pessoas consigo mesmas, porém, esta última, começa no púlpito, quando o ouvinte, entendendo e atendendo o convite de relacionar-se com Deus, consequentemente, sabe que precisa, também, tratar de coisas em si nas quais o pecado é o grande responsável por tê-las desconstruído e, assim, inicia-se, no consultório pastoral, um processo de discipulado, acolhimento e aconselhamento: uma parceira de cuidado que se estenderá até a maturidade.
Essas falas de que as pessoas têm de romper suas crenças limitantes; de que elas estão da maneira como estão porque são procrastinadoras; de que Jesus nos libertou para uma vida esplendorosa (no sentido econômico, estético e, até, espiritual), é uma distorção do Evangelho. Fazer tais afirmações é um crime contra a teologia, a Bíblia e contra o próximo.
Cada pessoa tem a sua própria história. Crenças limitantes não são apenas frutos de uma mente meramente limitada ou desprovida de inteligência; crenças limitantes, na sua grande maioria, são frutos de angústias e dores provenientes de abusos, traumas e outros sofrimentos que, diante de tais falas que não pertencem ao púlpito, acionam gatilhos emocionais que trazem ainda mais sofrimentos aos ouvintes.
O púlpito cristão não é um lugar para o coaching gospel. Ou a pessoa é um bom teólogo-pastor, ou ela é um coach que deve atender num espaço no qual seus clientes recebam toda a estrutura que é própria de um setting terapêutico. Nenhuma Igreja, nem mesmo em nome de crescimento numérico e econômico, deveria permitir que o púlpito se tornasse num lugar de palestra motivacional em nome de Jesus. Aliás, nenhum bom pregador que se preze, que seja ético e, verdadeiramente, teólogo, deveria fazer associação entre os objetivos do Evangelho e os objetivos do processo coaching.
Com isso não estou afirmando que o processo coaching e seus profissionais, sejam algo ruim. Ao contrário, por ter formação na área, digo que é uma boa ferramenta para trabalhar os potenciais humanos para crescimentos pessoais, relacionais, profissionais e econômicos; eu mesmo conheço excelentes profissionais que são muito éticos e muito efetivos no trabalho que vendem.
Agora, enquanto pastor, aconselhador familiar e sistêmico, professor, coach de desenvolvimento integral, psicanalista, e teólogo, não posso considerar saudável e nem ético aquilo que estão fazendo com o púlpito, com as pessoas mais simples e, também, com as pessoas que estão lutando para ganhar o mundo (seja ele qual for) e, ao mesmo tempo, perdendo sua alma (por alma: a sua essência).
Por um púlpito no qual o Divino é exposto e exaltado e o humano é resgatado da sua humilhação para amar o Divino e servir ao próximo em amor.