sábado, 20 abril 2024

Estamos no automático

Por Marcos Barbosa

Com a variável dos dias, a melancolia toma conta da gente. Quanto mais o tempo passa, mais tomamos consciência de que algumas coisas permanecerão apenas em nosso imaginário. Talvez seja pessimismo ou até mesmo sobre perder a esperança. Ser adulto é matar dia a dia o brilho dos dias e o encanto que a vida demonstrava ter na infância. Quando vejo crianças imitando adultos ou dizendo querer crescer, lamento por elas. Ninguém nos prepara para esse momento.

No início de tudo somos mimados ao extremo e postos em uma redoma de vidro. Nos tornamos intocáveis e somos cobertos de amor e carinho ilimitados.

Com o tempo, indo à escola e vivenciando a adolescência somos obrigados a confrontar tal realidade. Nos deparamos com dificuldades e a necessidade do conhecer para nos tornarmos “alguém na vida”. Aí está, inclusive, uma expressão que sempre ouvi e que não sustenta sentido algum. Ainda é sobre ter e não ser.

Nessa jornada da vida adulta nos deparamos com pessoas boas, gente que se propõe a te ajudar e estar com você, mas também as más, que te sugam e querem o seu pior.

Nos ensinam sobre a história do mundo, frações e sentenças gramaticais, mas não nos ensinam a lidar com os acontecimentos e os impactos emocionais que eles nos causam.

Falamos muito sobre avanços tecnológicos, robôs e sequer notamos que fazemos parte desse processo de sistematização e automatização.

É bem como diz a música da Pitty, Admirável Chip Novo: “Pense, fale, compre e beba. Leia, vote e não se esqueça. Use, seja, ouça e diga. Leia, malhe, gaste e viva!”. São mandamentos que seguimos veemente e que não ousamos refutar.

Ninguém fala sobre dias ruins ou sobre o que fazer quando não se sentir bem emocionalmente. Tampouco sobre equilíbrio emocional e a ajuda psicológica. Avançamos tanto por um lado e por outro ainda julgamos como “loucos” ou “doentes mentais” aqueles que detém problemas psíquicos. Nos tornamos os robôs que tanto falam e nem tomamos nota. Nossos sentimentos não são priorizados, nosso corpo é maltratado e a mente então, nem se fale. A vida adulta é um misto de gastar, se desgastar com outras pessoas, sexo para aliviar o estresse e pagar boletos. Sorte daquele que através do amor desenvolve uma relação e cria assim um refúgio. É um oásis mesmo ter alguém pra dar todo o apoio e suporte. Reconhecer a importância do outro é tão preciso quanto dizer a ele. Aliás, aí está algo que pouco fazemos: reconhecer o valor do outro e dizer o quanto o estima. Ligamos o piloto automático e seguimos sem pausa.

Negamos a acreditar em arrependimentos. Certeza tenho que lá pelos 70 ou 80 anos, revisitando as memórias, notaremos nossos erros, mas não poderemos mais corrigi-los. Olhe para si e hoje! Não espere o entardecer da vida para que abra os olhos. Note o quanto antes para que o brilho em seus olhos reaviva. Sim, aquele mesmo da infância. 

Que possamos nos emocionar e munir a sensibilidade de enxergar o outro e ser um pouco mais disponível. Quem não tem muito a contribuir que substancie com o mínimo. E é bobagem dizer que não se tem nada a oferecer, todos nós temos. É um processo de autoresgate. Pode demorar, mas aos poucos conseguimos. Que a vida adulta não seja bege, cinza e sem cor, sabor. Não estamos aqui apenas para consumir e pagar a fatura do cartão de crédito, mas sim para acrescentar à vida do outro. Então, que tal começar agora?

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