terça-feira, 16 abril 2024

O assédio moral velado

Por Marcos Barbosa

Há 10 meses eu tomei uma decisão que mudou minha vida. Entre certo e errado, havia um receio muito grande sob o incerto. Não é fácil tomar grandes decisões quando você não tem quem o apoie financeiramente. De qualquer forma, dar certo dependia apenas de mim e do meu desempenho. Como nunca fui de fazer corpo mole, agarrei a oportunidade e segui meu caminho.

Eu precisava de paz. Apesar de ainda relutar sobre o que passei ao longo desse período, quase 10 anos, por tudo o que vivi, todas as oportunidades geradas, amizades e a gratidão que sinto, preciso reconhecer que convivi com o assédio moral. Infelizmente acredito que a maioria dos trabalhadores enfrentem isso em suas jornadas, e enxergo que somente pessoas que passaram por isso são capazes de se tornarem bons líderes, não replicando tais atitudes.

É inconcebível sua força de trabalho ser julgada pelo seu gênero, cor ou outro fator. Já ouvi que eu era sensível demais para lidar com certas situações, quando, no fundo, somente eu posso delimitar o que é delicado ou não a mim. Já ouvi que eu era pior que prostituta, e que antes de receber pelo meu trabalho precisava mostrar serviço. Já fui subjugado, menosprezado e também diminuído na frente de outras pessoas em reuniões. Fazia tudo o que um gerente fazia. Na verdade, meu trabalho era essencial, lidava com infraestrutura e de quebra era a cara da empresa nas mídias digitais, mas eu era novo demais para ter o registro em carteira.

Tratei sempre com muito respeito todos que tiveram oportunidade de comigo conviver. Sempre fui gentil, consciente da importância do meu papel ali, e por muito tempo encarei o trabalho como minha segunda casa. Era como se aquele espaço e a empresa fossem parte de mim também.

Em meu último ano, apesar de todo o estresse advindo de uma pandemia que castigou quem trabalhou com infraestrutura e teve que lidar com a ida repentina de pessoas para o home office, me sentia satisfeito como profissional. Novos projetos vinham a compor meu cotidiano e isso me deixava radiante. Até que o castelo ruiu! De um dia pro outro foram minando os trabalhos, e a mim também, até porque era somente eu quem tomava conta daquelas tarefas. Resultado: o mercado me notou e aceitei fazer uma experiência em outro lugar. Sem pretensões e de peito aberto ao novo. Já que era pra mudar que fosse como um todo. Senti um choque de cultura e relacionamento em um primeiro momento, já que são ambientes totalmente distintos, mas encontrei o primordial: respeito. Principalmente enquanto profissional que sou e o papel que desempenho.

Em pouco tempo, não só fiquei a cargo de uma equipe, como fui reconhecido como gerente. Isso me fez repensar alguns aspectos, mas deixou evidente de que talvez eu já não coubesse mais mesmo naquela oportunidade anterior.

Precisava respirar novos ares e me desenvolver. E por mais que eu gostasse muito de onde estava, e vinha sim sofrendo psicologicamente com tudo o que estava lidando, precisava partir. Hoje tenho plena consciência de que problemas existem em todos os lugares, afinal, a relação de trabalho também é um relacionamento. Mas compreendo também que respeito e ética são fatores imprescindíveis.

O recado que deixo hoje é pra não ter medo de arriscar. Ninguém merece sofrer injustamente, sabendo que não merece passar por aquilo. Oportunidades estão aí ao seu encontro, dê uma chance, pode valer a pena! 

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