sábado, 20 abril 2024

O poder religioso

O Tribunal Superior Eleitoral está decidindo sobre um tema que gera polêmica: o poder religioso influi no processo eleitoral? Ora, basta estudar o fenômeno do psiquismo das massas para concluir pela verdade da hipótese. Não há dúvida. Quando se trata do mercado da fé, os contingentes religiosos acabam pagando, sem questionar o preço, o ingresso para entrar no paraíso sob a esperança de serem acolhidos pelo Senhor dos Céus. Antes, porém, rememoremos o que dizem os estudiosos das mentes. 

Para Jung, as rápidas intuições que geram as decisões das pessoas são fruto de conteúdos subliminares. Explica isso pela existência das duas camadas no inconsciente: a individual, formada de lembranças apagadas ou recalcadas e de percepções estranhas à atenção (subliminares) e a superindividual ou coletiva, contendo as mais remotas imagens ancestrais, os arquétipos, que se relacionam às forças naturais, como o ciclo solar ou lunar, as ideias religiosas. 

De Felice, um historiador italiano que escreveu uma obra em 4 volumes sobre Mussolini lembra: “Os efeitos fisiológicos e psíquicos de uma gesticulação levada até o delírio são comparáveis aos de uma intoxicação. As desordens funcionais assim introduzidas no organismo provocam vertigens e, finalmente, uma inconsciência total, que permite as piores loucuras”. 

Nas experiências de Pavlov, em laboratório, para que os reflexos condicionados pudessem se formar nos cães e gerar efeitos, era preciso que certas condições se efetivassem: o meio biológico, o lugar, o tempo, as características hereditárias dos indivíduos sujeitos às experiências. A cultura nazista abrigava tais fatores. Hitler encarnava certos complexos profundos do povo alemão, principalmente da classe média. Tinha necessidade de lidar com as massas em um nível inferior, quando, trabalhando sobre as condições fisiológicas, fazia mergulhar as multidões em estados quase hipnóticos. Dominava as massas pela violência psíquica. A propaganda nazista nada mais era do que a exploração da doutrina de Pavlov sobre reflexos condicionados. 

Portanto, as mensagens formam impressões sensoriais, que vão se integrando a novos reflexos desempenhados por imagens, novas excitações auditivas e escritas, desencadeando processos múltiplos, reflexos de imitação. Pessoas fatigadas, cansadas, alquebradas, quando recebem uma ordem submetem-se passivamente à ela. O mercado da fé produz muito dinheiro. Credos e seitas multiplicam-se por todas as partes, principalmente em habitats ocupados por massas incultas e carentes. 

Resposta final: sob essa teia de conceitos, os credos tendem a fazer política para defender interesses. A bancada religiosa é uma das maiores do Congresso. É evidente que esta situação gera um poder religioso. Este consultor não tem dúvida: esse poder quer comandar o país. 

 
Escrito por: Gaudêncio Torquato | Jornalista, Professor e Consultor político 

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