domingo, 8 dezembro 2024

RELIGIÃO

Por
Reverendo André Luiz Pereira
Foto: Reverendo André Luiz Pereira

Marx, Freud, e muitos outros pensadores afirmaram que a religião é o reduto dos fracos. Eu sei que, dentro do ambiente religioso, tais pensadores não são bem quistos, são tratados como inimigos da Igreja ou inimigos de Cristo. Porém, na perspectiva de Jesus, ao que me parece, essa afirmação que nos parece tão ascética é considerada.
No famoso Sermão da Montanha Jesus exalta os fracos, os pequeninos, e aqueles que, em seu tempo, eram marginalizados. Noutro sermão, ele convida a virem a ele todos os cansados e sobrecarregados. Ou seja, o que o Evangelho indica em suas linhas afirmativas é que, especialmente a fé no Cristo, é um convite ao vulneráveis e à vulnerabilidade.
Essa fé mais elitizada foi tomando forma a partir do ano 360 d.C, quando Constantino a levou para dentro do governo e da sociedade. Até então, a fé no Cristo, o homem pobre de Nazaré, estava estabelecida, especialmente, entre a gentalha à margem da sociedade. Poucos eram os de boa classe social que entendiam, acolhiam e suportavam a mensagem de Jesus.
Desta forma, aquelas pessoas que mais careciam de assistência é que se aproximavam de Jesus ou, após sua morte, buscavam apoio dos Apóstolos. No livro dos Atos dos Apóstolos, no desenvolvimento e estruturação da Igreja chamada Primitiva, os mais abastados vendiam suas propriedades excedentes para ajudar aos que nada tinham. Ali, por conta dos valores do Evangelho de Jesus, os fracos, os desclassificados, os descendentes de castas servis, encontravam acolhimento. Portanto, sim, podemos dizer que a religião, especialmente aquela cristã primitiva, era o reduto dos fracos.
Na minha perspectiva, as declarações dos filósofos, doutores catedráticos, e de grandes personalidades que consideraram a religião como um reduto de fracassados, não se faz ofensa, mas elogio. É uma pena que tal afirmação só pode ser feita nos séculos passados, visto que em nossos dias, com a elitização da religião, os fracos, fracassados, sobrecarregados e cansados, têm de ficar do lado de fora, pois o mau cheiro, a bebedice, os problemas da vida, não cabem mais dentro dos suntuosos templos.
Atualmente, os oficiais diáconos, que no passado eram os responsáveis pela assistência social, tornaram-se guardadores de veículos de luxo, e, também, seguranças a postos nas portas dos templos para filtrar o público que entra.
Cantaria Gal Costa: “velhos tempos, belos dias”, aqueles nos quais a religião era o recôndido dos fracos e oprimidos. É uma pena que não seja mais, pelo menos não na mesma intensidade.

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