sexta-feira, 19 abril 2024

Saúde masculina: a importância de uma cultura preventiva

O contágio do novo coronavírus não só impactou a rotina do mundo todo, como afetou intensamente a atividade médica. Parte expressiva dos profissionais de saúde passou a dedicar-se exclusivamente à atenção dos pacientes infectados. Unidades hospitalares tiveram que adaptar seus ambulatórios e enfermarias para atender aos acometidos pela doença. Estas mudanças diminuíram de forma drástica a capacidade da rede de saúde em prestar atendimento às pessoas portadoras de outras patologias que tiveram postergadas suas consultas, tratamentos e cirurgias. 

No Brasil, houve uma queda de 70% nas cirurgias oncológicas e uma redução de até 90% das biópsias enviadas para análise. Estima-se que ao menos 50 mil brasileiros deixaram de receber diagnóstico de câncer nos dois primeiros meses de pandemia, ou seja, entre março e maio deste ano, de acordo com dados levantados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e Sociedade Brasileira de Patologia junto aos principais serviços de referência do país, nas redes pública e privada 

Outro dado, o do ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), estimou uma redução de 50% no número de diagnósticos de câncer no País e que, só no mês de abril, 70% das cirurgias para tumores malignos foram adiadas naquela instituição. Acrescente-se a esse quadro a insegurança da população que evitou procurar os serviços de saúde. Esta situação acabou resultando no retardamento do diagnóstico de doenças cujo sucesso do tratamento depende muito de uma identificação precoce. 

Já o INCA (Instituto Nacional do Câncer) estima que, em 2020, ocorram no Brasil cerca de 65.840 casos novos de câncer de próstata. Esse valor corresponde a um risco estimado de aproximadamente 63 casos novos a cada 100 mil homens. Utilizando-se os dados do ICESP referentes à redução da detecção de câncer neste período, é provável que mais de 30.000 homens deixaram de ter o diagnóstico de câncer de próstata neste período. 

É preocupante para uma patologia cuja cura está diretamente ligada à sua identificação precoce. O câncer de próstata é o segundo tumor maligno mais comum entre os homens, perdendo somente para o câncer de pele não melanoma. É a segunda maior causa de óbito oncológico no sexo masculino, sendo o sexto tipo de câncer mais frequente no mundo. Estima-se que quase 25% dos portadores de câncer de próstata morrem devido à doença. 

Neste momento em que ainda temos motivos para nos preocupar com a pandemia, devemos, mais do que nunca, aproveitar o Novembro Azul para incentivar os homens a vencer a barreira do preconceito. E é importante que os médicos entendam que a avaliação periódica da próstata não se encerra em si mesma, mas também representa uma oportunidade única para que os homens sejam investigados, orientados e tratados de outros problemas que possam estar comprometendo sua saúde. 

 
Escrito por: Geraldo Faria  | Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia 

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