sexta-feira, 26 julho 2024

Teólogos e teologia tupiniquins

Por André Luís, teólogo e pastor
Por
André Luís
Foto: Arquivo Pessoal

Eu sou um entusiasta da teologia. Contudo, com isso, não a coloco num lugar diferenciado da pastoralidade. Na verdade, penso que um bom pastorado se dá à partir de uma boa teologia. Aliás, penso que seria o pastorado mais eficiente se o pastor, sendo teólogo, produzisse a teologia à partir das relações pastorais com sua comunidade. É nesta teologia que acredito: na que é produzida em meio aos relacionamentos com gente que sofre, que se alegra, que se frustra, que se encontra e se perde no Caminho. Aquelas teologias europeias ou americanas, embora já tenham sido essenciais em seus momentos históricos, na minha opinião, hoje são apenas pontos de partida, ou quem sabe uma pequena base, para a elaboração de novas reflexões, uma vez que o ser pós moderno, nascido e criado num solo de terceiro mundo, tem vivências muito distintas dos cultuados e sacralizados berços teológicos de primeiro mundo.

Assim, ser Pastor é um aprofundamento na vida, ora festejante ora estressante, ora celebrativa ora desalentadora, daqueles aos quais são pastoreados. Mas, engana-se aquele que pensa que tal aprofundamento é mero mergulho em informações. Na verdade, tal aprofundamento é o material que dá suporte para que o teólogo pastoral busque, reflita, traduza, facilite, e, então, aplique a revelação divina para o momento daquele que lhe presentou com confiança para adentrar em seu universo caotizado.

Assim, penso eu: cada pessoa, uma hermenêutica bíblico-teológica. O texto não é universalmente aplicado, como que um combo, para todas as pessoas. Aliás, diga-se de passagem, que o texto não fora escrito para ser universal. Num primeiro momento (Antigo Testamento), fora escrito para uma nação específica, com uma vocação específica; num segundo momento (Novo Testamento), para o povo da fé em Jesus, para o qual há, por exemplo, endereçamento (vide as cartas pastorais, gerais, apocalíptica). Portanto, é papel do teólogo pastoral fazer uma boa hermenêutica (uma ponte entre o texto e o indivíduo, ou, então, entre o texto e a comunidade da fé). Mas tal hermenêutica precisa ser personalizada, pois, caso contrário, não encontra aplicabilidade à vida pós moderna.

A imagem de Deus, distorcida por muitas pseudo-teologias (digo “pseudos” porque falam mais de uma projeção humana do que da real revelação do divino), precisa, urgentemente, ser ressignificada para que a sua revelação paternal em Cristo seja compreendia e melhor acolhida. E, para tanto, é necessário que o teólogo-pastoral, assim como Jesus, coloque os pés no mundo (tão demonizado pela religião dualista, do limitado sagrado x profano), e o coração nos seres humanos (considerados também pela religião como tão perversos que não merecem a graça que lhes é concedida pelo Cristo). Sem pés e coração não se faz teologia que seja pastoral. No máximo se produz textos muito rebuscados, distantes da cultura do povo (que são os que mais carecem da compreensão da graça), inaplicáveis, que mais exaltam o teólogo-escritor, do que o Senhor sobre o qual se pensa ter refletido.

A teologia, especialmente aqui no Brasil, infelizmente, ainda é carente de pés e coração. A semelhança do que acontecera com Jesus, todos aqueles que, de forma séria e comprometida, fincaram os pés neste solo tupiniquim e colocaram o coração na miséria deste povo sofrido, foram rotulados, difamados e perseguidos. Infelizmente, pensam alguns (ou agem assim) “é melhor não mexer com aquilo que já foi dito e está sacralizado”.

Quanto ao povo e aos cristãos brasileiros, bom, tenho compaixão , pois, infelizmente, ainda engolem os produtos e as produções (dentre elas a teologia) estrangeiras, acreditando que (assim como de Nazaré) deste solo não pode vir coisa boa.

Por mais teologia e mais teólogos pastorais tupiniquins.

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