quarta-feira, 9 outubro 2024

Advogada diz ter sido agredida em Delegacia da Mulher em Barueri

Ela formalizou a denúncia, na manhã desta sexta-feira (28), na Corregedoria da Polícia Civil

Fachada da DDM de Barueri onde ocorreu o fato e o hematoma da possível agressão (Foto: Divulgação/GESP/Arquivo Pessoal)

 Uma advogada de 25 anos afirma ter sido agredida por um delegado da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Barueri, na Grande São Paulo, nesta quinta-feira (27), quando foi ao distrito buscar uma medida protetiva para uma cliente vítima de violência doméstica. Ela formalizou a denúncia, na manhã desta sexta-feira (28), na Corregedoria da Polícia Civil.

A reportagem solicitou entrevista com o delegado, mas segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), “a autoridade policial não tem interesse na entrevista”.

A advogada, que pediu para não ter o nome divulgado, afirmou à reportagem que tudo começou no último dia 21, quando uma cliente tentou, sem sucesso, registrar um boletim de ocorrência de violência doméstica na DDM. Um pedido de medida restritiva também teria sido negado na ocasião.

No caso defendido pela advogada, sua cliente, de 38 anos, afirma ser vítima de violência doméstica, sendo impedida de acessar suas contas bancárias e de autorizar a entrada de pessoas no condomínio onde mora, pois seu companheiro teria orientado os porteiros do local para isso. Ela foi casada por 12 anos com o suspeito, que teria “surtado” ao receber um documento de divórcio, no dia 21. Segundo registrado pela polícia, o homem só não agrediu fisicamente a vítima porque o funcionário do escritório de advocacia, que portava o papel do divórcio, impediu.

Na quarta (26), a advogada foi com a cliente ao distrito com o objetivo de formalizar um boletim de ocorrência e solicitar a medida de proteção à vítima.

A defensora diz que os policiais a atenderam sem atenção na ocasião, tentando desestimular o registro do caso.
Em uma das tentativas para formalizar o crime, a advogada entra na sala de um delegado, para falar sobre o caso da cliente, gravando em vídeo a conversa, com seu celular. O policial não deixa a advogada falar, segundo o registro, e sugere falar com a vítima. Mas a defensora argumenta que não quer deixar a cliente passar por uma situação ruim novamente.

De repente, o delegado ordena para que a advogada saia da sala, mas quem sai do local é ele, fechando a porta e deixando a defensora sozinha no recinto. O policial vai até a vítima, que está desacompanhada, sentada em um banco de espera em um corredor. A advogada se aproxima empunhando o celular e, ao ver que está sendo filmado, o delegado argumenta que a advogada não está sendo profissional. Ele é referendado por outra delegada da DDM, que aparece no registro de vídeo posteriormente.
Quando são questionados pela advogada sobre terem afirmado que, somente em caso de morte, fariam a medida protetiva, ambos os policiais negam.

Após mais de quatro horas de espera, a advogada afirmou ter conseguido registrar o boletim de ocorrência e formalizar o pedido de medida protetiva. No dia seguinte, ela precisou retornar ao distrito para pegar o documento que garante a segurança da vítima.
A defensora afirmou à reportagem que os dois delegados que aparecem no vídeo de quarta a esperavam com o documento, em uma sala. Antes de entregá-lo, ela disse que os policiais a ofenderam ao comentar a forma como se veste, com salto alto e vestido.
A advogada afirmou que os policiais teriam mencionado sobre o vídeo que ela fez na quarta, em que o delegado não dá ouvidos à defensora.

Ao perceberem que ela gravava a conversa, o delegado, segundo ela, partiu para cima dela, apertando seu braço. Fotos encaminhadas à reportagem mostram dois hematomas e arranhões em um dos braços dela. Ela diz ter chegado a chorar de dor.
Após alguns instantes, a advogada disse ainda que seu celular caiu, por causa da suposta investida do delegado, e foi pego e apreendido pelos policiais da delegacia especializada. Nele, segundo a advogada, estão os vídeos das supostas agressões sofridas na quinta-feira.

A defensora afirma ter sido mantida na DDM até por volta das 20h de quinta, não podendo, com isso, ir ao Instituto Médico-Legal (IML) realizar exame de corpo de delito. Na manhã desta sexta, as marcas dos apertões já estavam mais amenas, acrescentou. No período da tarde, ela se submeteu à perícia. Ao finalizar o exame no IML, a defensora foi informada de que a medida protetiva, conquistada após as supostas agressões denunciadas, foi aceita pela Justiça.

A 2ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça, em Barueri, determinou nesta sexta-feira que o suspeito de agredir a cliente da advogada saia de casa. A mulher não dispõe de fonte de renda fixa. Além disso, segundo decisão assinada pelo juíz Fabio Calheiros do Nascimento, o homem deve manter distância mínima de 200 metros da mulher, além de ficar sem a guarda das duas filhas. Ele também deverá pagar um terço de seu salário como auxílio à vítima e às crianças, de 1 e 2 anos.

POLÍCIA NÃO COMENTA
A SSP afirmou que advogados da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acompanharam a defensora, após ela ser mantida na delegacia por conta do desentendimento com os policiais. No distrito foi registrado um boletim de ocorrência de desacato contra a advogada.

A pasta acrescentou que a advogada deve direcionar à Corregedoria a queixa sobre a postura profissional dos policiais da DDM “para a devida apuração dos fatos”. A apreensão do celular da advogada, relatada por ela, não foi comentada pela polícia, que também se negou a dar entrevista acerca do caso. A OAB lamentou o ocorrido, acrescentando que “as devidas providências foram cumpridas.”

A entidade acrescentou que membros da Comissão de Direitos e Prerrogativas, da Subseção Barueri e da OAB São Paulo, permaneceram ao lado da advogada das 13h às 20h de quinta-feira.A OAB afirmou estar à disposição da defensora, acrescentando “não admitir nenhum tipo de violência, principalmente em se tratando de mulheres”.

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