sexta-feira, 26 abril 2024

Duas em cada 10 cidades podem ter surtos causados pelo Aedes

Duas em cada dez cidades brasileiras estão com alta infestação de Aedes aegypti, situação que as coloca sob maior risco de registrarem surtos de doenças como dengue, zika e chikungunya. Outras 4 em cada 10 estão em patamar de alerta para possível aumento dessas doenças neste ano. Os dados são da mais recente edição do LirAa (Levantamento Rápido de Aedes aegypti), monitoramento realizado pelo Ministério da Saúde junto a municípios e que verifica o índice de infestação do mosquito em imóveis comerciais e residenciais.

O balanço foi feito entre janeiro e março deste ano. Ao todo, 5.214 municípios participaram do levantamento. Desse total, 994, ou 19% das cidades participantes, apresentaram alta infestação de Aedes, o que ocorre quando mais de 4% dos imóveis apresentam focos do mosquito. Trata-se de cidades com alto risco de surtos ou que já apresentam aumento de casos das doenças transmitidas pelo Aedes. Entre elas, está a capital de Mato Grosso, Cuiabá.

Outros 2.160 municípios, ou 41% do total, apresentaram índice de infestação entre 1% e 3,9%, que aponta alerta para um possível avanço da dengue, da zika e da chikungunya. Na contramão, 1.804 têm índices satisfatórios, com focos em menos de 1% dos imóveis. Para o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, o resultado acompanha o aumento de casos de dengue registrado neste ano no país. Também indica a necessidade de aumentar ações de controle do mosquito transmissor para evitar novo avanço ao longo do ano.

Balanço do Ministério da Saúde aponta que, desde janeiro até 13 de abril, foram registrados 451.685 casos de dengue, um aumento de 339% em relação ao mesmo período do ano passado, quando houve 102.681 registros. O número de mortes também cresceu: passou de 66 para 123. Apesar do aumento, Oliveira nega que o país esteja sob epidemia. Atualmente, a taxa de incidência de dengue é de 216 casos por 100 mil habitantes, parâmetro considerado moderado.

O coordenador-geral dos programas nacionais de prevenção da malária e doenças transmitidas pelo Aedes, Rodrigo Said, diz que a incidência atual está dentro do esperado para a série histórica. Ele ressalta, porém, que pode haver ocorrência de epidemias localizadas em alguns estados e municípios. Atualmente, sete estados e o Distrito Federal apresentam incidência em patamar que pode configurar epidemia – o que ocorre, entre outros fatores, quando há aumento de registros em relação a anos anteriores e proporção de casos acima de 300 a cada 100 mil habitantes.

São eles: Tocantins (com 799 casos a cada 100 mil habitantes), Mato Grosso do Sul (697 casos a cada 100 mil habitantes), Goiás (631 casos a cada 100 mil habitantes), Minas Gerais (585), Acre (515), Espírito Santo (407), São Paulo (349) e Distrito Federal (303). “Se levarmos em consideração o aumento de casos em relação à incidência, é possível falar em epidemia para essas localidades. Mas em algumas, não significa que seja o estado todo, mas regiões. É a situação em São Paulo, em que não posso falar em epidemia na região metropolitana”, afirmou.

SÃO PAULO

Dados de boletim epidemiológico apontam que, em São Paulo, foram registrados até agora 158.963 casos. No mesmo período de 2018, foram 5.796 registros -alta de 2.649%. Segundo Said, diferentes fatores explicam o avanço da doença. “Desde o ano passado, as condições ambientais foram propícias ao aumento da densidade do vetor, com aumento das temperaturas em todo o país e regime de chuvas mais prolongado.”

Outro motivo, diz, é a maior circulação no país do subtipo 2 do vírus que causa a doença -entre quatro possíveis. Nos últimos anos, o subtipo predominante foi o 1, seguido do 4 em algumas regiões. Neste ano, dados de análises feitas na rede de saúde mostram que 85% dos casos de dengue registrados são do subtipo 2. Frequente em análises no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, esse subtipo circulou com maior força pela última vez em 2008, o que indica a possibilidade de haver pessoas suscetíveis ao vírus atualmente em circulação.

A boa notícia é que, pelo histórico recente, o maior período de transmissão da dengue vai até meados de maio. Em seguida, a tendência é de queda. O padrão, porém, varia conforme a região. “Na região Sudeste, o momento já se configura para uma queda. Mas as regiões Norte e Nordeste ainda são marcadas pelo período de chuvas. Isso pode favorecer novos casos até o mês de junho, e por isso temos que manter o acompanhamento.”

Além de Cuiabá, em risco para surtos, 16 capitais apresentaram, no levantamento, parâmetros de infestação de Aedes que indicam alerta para o aumento de casos das doenças associadas ao mosquito. São elas: Fortaleza, Porto Velho, Palmas, Salvador, Teresina, Recife, Belo Horizonte, Campo Grande, Vitória, São Luís, Belém, Macapá, Manaus, Maceió, Aracaju e Goiânia. O levantamento também aponta o armazenamento de água no nível do solo, como em tonéis e barris, como o principal tipo de criadouro de Aedes encontrado neste ano.

EM QUEDA

Enquanto a dengue avança no país, dados do Ministério da Saúde apontam queda ou números similares de zika e chikungunya neste ano no país em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a abril, foram registrados 3.085 casos de zika, padrão similar a 2018, quando houve 3.001 casos na mesma época. Destes, 20% ocorreram no Tocantins. Também foram registrados 24.120 casos de chikungunya, o que indica queda de 36% em relação a 2018, quando foram registrados 37.874 casos.

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