segunda-feira, 17 novembro 2025
LEVANTAMENTO

Educação interrompida: maioria dos envolvidos com o tráfico deixa a escola antes do ensino médio

Dado faz parte de pesquisa do Instituto Data Favela em 23 estados
Por
Redação
A falta de acesso à educação e a oportunidades de trabalho de qualidade ajuda a explicar por que entre seis e sete em cada dez entrevistados não conseguem ultrapassar a renda de dois salários mínimos. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A conclusão do ensino médio é realidade para apenas dois em cada dez entrevistados em um estudo divulgado nesta segunda-feira (17), que ouviu quase 4 mil pessoas envolvidas com o tráfico de drogas. Para mais da metade, a trajetória escolar termina antes dessa etapa.

Os dados integram a pesquisa Raio-X da Vida Real, realizada pelo Instituto Data Favela, da Cufa (Central Única das Favelas).

Baixa Escolaridade e Arrependimentos
O levantamento analisou respostas de 3.954 pessoas ouvidas pessoalmente entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025, em favelas de 23 estados brasileiros. A escolaridade declarada foi a seguinte:

  • Ensino médio completo: 22%
  • Ensino médio incompleto: 16%
  • Ensino fundamental completo: 13%
  • Ensino fundamental incompleto: 35%
  • Sem instrução: 7%

Quando perguntados “Olhando para trás, o que você teria feito de diferente?”, 41% responderam que teriam estudado ou se formado, reconhecendo a educação como fator que poderia ter mudado suas trajetórias.

Segundo Marcus Vinícius Athaye, copresidente da Data Favela e presidente da Cufa Global, muitos entendem que estudar teria sido decisivo para alterar o rumo de suas vidas. Ele defende que programas de renda e empregabilidade devem vir acompanhados de ações efetivas em educação.

O curso superior mais desejado pelos entrevistados seria Direito (18%), seguido de Administração (13%), Medicina/Enfermagem (11%), Engenharia/Arquitetura (11%) e Jornalismo/Publicidade (7%).

Mercado de Trabalho e Renda Baixa
A falta de acesso à educação e a oportunidades de trabalho de qualidade ajuda a explicar por que entre seis e sete em cada dez entrevistados não conseguem ultrapassar a renda de dois salários mínimos.

Segundo a pesquisa, fatores como baixa remuneração, alcoolismo, uso de drogas e violência doméstica também influenciam a entrada no crime.

Arranjos Familiares e Laços Afetivos
O estudo revela diversidade nos arranjos familiares:

  • 35% cresceram em famílias tradicionais
  • 38% em famílias monoparentais — sendo 79% lideradas por mulheres, alinhado aos dados do Censo IBGE 2022
  • As pessoas mais importantes na vida dos entrevistados são a mãe (43%), os filhos (22%), a avó (7%) e o pai (7%). Outros 4% afirmam não ter ninguém importante.

Sonhos de Consumo e Perspectivas
O maior sonho de consumo é ter uma casa própria (28%). Outros 25% gostariam de comprar uma casa para a família, desejo ainda mais forte entre jovens de 22 a 26 anos (35%).

Para a CEO da Data Favela, Cléo Santana, esse desejo é semelhante ao da população brasileira em geral: “O sonho da casa própria também é o principal sonho das pessoas que estão em situação de crime.”

Saúde Mental: Insônia e Ansiedade em Alta
A pesquisa identificou índices elevados de problemas de saúde mental:

  • Insônia: 39%
  • Ansiedade: 33%
  • Depressão: 19%
  • Alcoolismo: 13%
  • Crises de pânico: 9%

Entre os que sofrem ansiedade, 70% ganham até um salário mínimo. A condição é ainda mais comum entre os que iniciaram, mas não concluíram, o ensino superior (72%).

Bruna Hasclepildes, coordenadora da pesquisa, afirma que a vida no crime é reflexo de desigualdades estruturais e da ausência histórica de políticas públicas nas periferias.

Quando perguntados se sentem orgulho do que fazem, 68% disseram que não, desmontando a ideia de que há glamour ou orgulho pela atividade criminosa.

Percepção dos Problemas do Brasil
Os maiores problemas do país, segundo os entrevistados, são:

  • Pobreza e desigualdades: 42%
  • Corrupção: 33%
  • Violência: 11%
  • Falta de acesso à educação: 7%
  • Falta de acesso à saúde: 4%

*Com informações de Agência Brasil

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