sexta-feira, 26 abril 2024

Dia da Consciência Negra é “hipocrisia, vitimismo e divisão racial”, diz vereador em Santa Bárbara

Pronunciamento de Felipe Corá na Câmara nesta terça-feira gera polêmica entre parlamentares; parlamentar diz que prefere lideranças como a Princesa Isabel do que Zumbi dos Palmares 

Vereador Felipe Corá falou nesta terça contra o Dia da Consciência Negra e teve pronunciamento rebatido por colegas negros em plenário (Foto: Divulgação)

O vereador Felipe Corá (Patriota) afirmou na sessão da Câmara desta terça-feira (23) em Santa Bárbara d’Oeste que o feriado da Consciência Negra, celebrado no último sábado (20), seria “o dia da hipocrisia, do vitimismo e da divisão racial”.

O comentário do vereador aconteceu depois que a vereadora Esther Moraes (PL) leu uma carta escrita por movimentos sociais da região sobre a data, abordando problemas enfrentados atualmente pela população negra.

A carta faz menção ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a crise ocasionada pela pandemia da Covid-19.
“A vereadora Esther defendeu o Dia da Consciência, respeito aqueles que pensam diferente, mas vou colocar o meu pensamento. Até porque consciência não tem cor. Eu sou totalmente contra o feriado. Eu sou a favor da consciência humana. Esse feriado nada mais é do que um dia que a turma da ‘lacrolândia’ gosta de fazer média com as minorias do país, dividir o Brasil e fazer proselitismo político com os segmentos desse país. O dia 20 de novembro nada mais é que um projeto para causar divisão racial no Brasil. É uma hipocrisia falar que um dia no ano vai combater o racismo”, disse Corá.
O vereador, bolsonarista, ressaltou ainda que prefere “se ater a lideranças, como a princesa Isabel, que liberou os escravos, do que a Zumbi dos Palmares, que perseguia os negros e vendia escravos para os europeus”.
“Eu acredito na competência e no mérito das pessoas. Caráter, competência, não existe distinção de cor. Nós somos todos iguais”, comentou.
O presidente da Câmara, o vereador Joel Cardoso, o Joel do Gás (PV), e o vereador Júlio César Santos da Silva, o Kifú (PL), autodeclarados negros, discordaram da fala de Corá.
“Bom seria se nós não tivéssemos diariamente, semanalmente atos de racismo, mortes devido ao racismo, ações de preconceito e injuria racial. Bom seria se fosse mero vitimismo, mas não é. Bom seria se o dia 20 de novembro fosse uma dia de luta para combater o racismo, mas não é um ato para reflexão. Não queríamos um feriado desse, se não tivéssemos um motivo, como o racismo. Somente quem é preto, quem é negro para entender um pouco o que é. Nós tivemos uma largada na nossa história e o negro foi colocado bem depois. Os brancos começaram a correr e o negro começou bem depois, então é uma corrida desigual. É um momento, sim, muito importante e necessário para reflexão”, disse Kifú.
“Muitas vezes quem não vive na pele do negro não entende o que acontece no dia a dia. Nos dias de hoje o negro é hostilizado por todos os lugares que passa. Temos que educar os nossos filhos para terem respeito. É uma data que tem que ser lembrada. Se a gente achar que é insignificante, num futuro, não muito longe, vão voltar a escravizar e calar o negro”, completou Joel.
De acordo com a professora de História Patrícia Carvalho, a afirmação sobre Zumbi dos Palmares não tem nenhum fundamento histórico. Ela classificou a fala como “absurda”.
“A desinformação tem se acentuado no país nos últimos anos, principalmente quando é para tentar descredibilizar a luta de movimentos sociais históricos, como é o caso do movimento negro. Por conta disso, é comum encontrar pessoas que usam argumentos de textos opinativos ou de estudos sem validação científica para tentar tumultuar o debate em torno de pautas importantes”, opina.

POLÊMICAS
Essa não é a primeira vez que o vereador Felipe Corá se envolve em polêmicas. Em agosto deste ano, o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) determinou que o vereador retirasse de suas redes sociais publicações em que ofende a vereadora Professora Juliana (PT), de Americana.

Em abril, o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) propôs uma ação civil pública por improbidade administrativa depois que o vereador tentou entrar em áreas restritas a pacientes de Covid-19 no Pronto-Socorro Dr. Edison Mano, em janeiro. O órgão pede que Corá seja condenado a pagar R$ 20 mil pelo episódio.
Questionado sobre o processo, o TJ informou que a última atualização do caso é do último dia 4, quando o processo se tornou “concluso para decisão”.
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