sábado, 20 abril 2024

Vítimas da lama em Mariana esperam reparação

A mesa de pebolim atravessada em uma das portas do Bar do Barbosa, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, pode-se ver os jogadores de camisa azul. O time adversário está na parte da mesa que continua coberta pela lama que destruiu o local há cinco anos com o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco – controlada pelas mineradoras Vale e BHP -, deixando 19 mortos.

Na escola municipal de Paracatu de Baixo, outro distrito do município, na prateleira de uma das estantes de metal retorcidas pela onda de lama ainda estão as caixas de giz que seriam usadas em sala de aula. Em meio ao mato que cresceu, seguem pedaços de uma cama, um sofá, um fogão.

Meia década depois do maior desastre ambiental da história do Brasil, que despejou mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério na bacia do rio Doce por uma extensão de 663 quilômetros, os moradores das comunidades no caminho da lama ainda esperam a conclusão de indenizações, o reassentamento com novas casas e justiça. Nenhuma pessoa ou empresa foi punida pelo rompimento.

Depois de aceitar a denúncia do Ministério Público Federal contra três empresas e 21 pessoas, a Justiça foi retirando réus do processo e mudou a acusação inicial de homicídio para o crime de inundação com resultado morte.

Hoje, o processo segue contra cinco pessoas e as empresas – são sete pessoas e quatro empresas se considerar outros crimes, como o despejo de rejeitos pela Vale sem informar as autoridades.

Em setembro, os Ministérios Públicos Federal e de Minas Gerais, junto com as Defensorias Públicas de Minas, do Espírito Santo e da União, pediram a retomada da Ação Civil Pública suspensa desde 2018 contra as mineradoras, a União e o estado de Minas. A ação calcula em R$ 155 bilhões as reparações.

Na tarde de 5 de novembro de 2015, Paula Geralda Alves, 41, que trabalhava em uma terceirizada da Samarco, andava de moto perto da comunidade de Bento quando ouviu em um rádio de comunicação da mineradora sobre o rompimento da barragem. Foi ela quem saiu pedindo que os moradores corressem, já que não havia sirenes.

A filha de sua prima, de 5 anos, morreu no desastre. “Eu achei que em cinco anos estaria na minha casa, mas está longe de acontecer”, diz Paula, que vive provisoriamente em Mariana, esperando reparação integral.

Sandro Sobreira, 46, se salvou indo para a parte mais alta de Bento junto com a mãe de 73 anos, que quebrou o dedo do pé na corrida. Hoje, a casa que era dos pais é um amontoado de lama, ruínas e metal retorcido na esquina contrária a escola. Da casa dele, pouca coisa ficou. O pedido de indenização pelo terreno segue na Justiça.

Nos fins de semana, ele e outros moradores, os “Loucos por Bento”, costumam dormir em uma das casas não atingidas para relembrar histórias juntos. Eles querem que o distrito seja tombado, o que está em tramitação no Compat (Conselho Municipal do Patrimônio Cultural) de Mariana.

“Dói muito quando a gente vê o estado que ficou. Se você perguntar ao meu pai hoje, a primeira coisa que ele quer é que tirem a lama da casa dele”, diz Mauro da Silva, 51, um dos participantes.

Bento é hoje uma coleção de ruínas e lama a céu aberto. Ainda se vê o fogão e uma geladeira suspensos no teto de uma casa, mostrando a violência da onda de rejeitos. A capela São Bento, construída em 1718, parte do trajeto da Estrada Real, foi destruída.

Receba as notícias do Todo Dia no seu e-mail
Captcha obrigatório

Veja Também

Veja Também