terça-feira, 30 abril 2024

Máscara adaptada por engenheiro de Campinas espera liberação da Anvisa

Observando a falta de equipamentos para tratamento de casos graves de Covid-19, um engenheiro de Campinas, Marco Aurélio Fernandes, teve a iniciativa de adaptar, para uso hospitalar, máscaras usadas na indústria para manipulação de produtos químicos e por bombeiros no controle de emergências com produtos químicos perigosos. Aprovadas, elas só aguardam a liberação da Anvisa para serem distribuídas em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva).

A experiência começou no mês passado. Fernandes – que há 30 anos trabalha em uma empresa de manutenção de equipamentos de proteção respiratória – ficou inconformado de ver no noticiário que médicos denunciavam a situação desesperadora de hospitais que não estavam equipados para enfrentar uma demanda tão grande para casos urgentes.

Ele conta que se inspirou em uma experiência italiana, onde um engenheiro ajudou os médicos a adaptar uma máscara de mergulho para aplicação hospitalar. Por que não aqui? Ele decidiu então adequar os equipamentos que a empresa fornecia para abastecer brigadistas no controle de emergências.

Ele usou na experiência máscaras que pudessem ser aplicadas no tratamento de oxigenoterapia não invasiva, com controle de pressão, nos pacientes de Covid-19.

“Há vários modelos e marcas de máscaras certificadas por organismos governamentais nacionais e internacionais. Separei as mais confortáveis, contam com vedação impecável e adaptáveis às anatomias distintas de cada rosto. Além disso, elas são resistentes nos procedimentos de higienização e desinfecção”, diz.

Elas foram testadas por um pulmão mecânico, respirava (inalando e exalando) na máscara, simulando o uso por um usuário, como mandam as regras de segurança internacional.

Foram integrados à máscara equipamentos de uso médico-hospitalar como traqueias, conectores para fornecimento de oxigênio, filtros e válvula para manter a pressão positiva dentro da peça facial.

“Efetuamos o teste de vedação, o que garante que a peça facial está estanque e que o vírus não irá escapar por ela. O vírus exalado pelo paciente não vai contaminar o pessoal do corpo médico”, explica.

Um dos modelos adaptados, por sinal, será usado por médicos e enfermeiros, que estão sendo muito atingidos por falta de proteção adequada.

De acordo com o engenheiro, a máscara facial inteira (full face) possibilita efetuar o tratamento no paciente com pressão positiva ampliada. O oxigênio aos alvéolos inflamados do paciente melhora a superfície pulmonar para a troca gasosa, o que ajuda na sua recuperação.

“Se o paciente chegar ao hospital com o início da dificuldade respiratória e for colocado em uma máscara que trabalhe com pressão controlada – com ar enriquecido por oxigênio e sistema de filtragem tanto na entrada quanto na saída do ar -, existe grande chance de o paciente não ter necessidade de ser entubado”, diz Marco Aurélio.

A patente já foi requerida junto ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) assim como o registro da máscara na Anvisa.

Mas existe sim um obstáculo. O custo. Com as peças necessárias para a adaptação, cada uma vai custar cerca de R$ 1,4 mil. E a solução, diz, será buscar doações.

Ele citou, por exemplo, a Decathlon, que doou 30 mil máscaras de mergulho para a adaptação realizada na Itália. “Empresas que possam adquirir essas máscaras e doá-las aos hospitais ajudarão a salvar vidas”, diz.

EFICIENTE

Não existe no mercado, nem no meio hospitalar, uma máscara que reúna pressão positiva dentro da peça facial, que seja Full Face, e que tenha sistema de captação do ar exalado para filtragem, evitando a contaminação do corpo médico.

“Com essa adaptação, o tratamento não invasivo pode ser realmente eficiente”, afirma Fernandes.

E, segundo o engenheiro, a inovação deve garantir o apoio de patrocinadores ao projeto. O especialista, ouvido pelo TodoDia, afirma que o preço não é alto se comparado ao de outros equipamentos essenciais como o respirador mecânico, que chega a custar R$ 200 mil.

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