FOLHAPRESS
SÃO PAULO
A Prefeitura de São Paulo vai adiantar os próximos cinco feriados a partir de sexta-feira (26) na tentativa de diminuir a circulação de pessoas na cidade e, assim, tentar frear a disseminação da Covid-19 na capital paulista.
A medida, que será anunciada no início da tarde desta quinta-feira (18) pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), é vista por técnicos da prefeitura como uma das poucas alternativas para tentar evitar o colapso do sistema de saúde nas próximas semanas.
Os feriados que devem ser antecipados ainda serão anunciados, mas devem ser Corpus Christi (3 de junho) e outros recessos municipais.
A antecipação dos recessos mira as indústrias e algumas empresas que ainda seguem em funcionamento nessa fase emergencial do Plano São Paulo. A prefeitura ainda deve definir se a medida terá adesão de bancos e outros serviços.
Na manhã desta quinta-feira (18), Covas afirmou, em entrevista à Globo News que a cidade de São Paulo atingiu taxa de ocupação de 88% dos leitos de UTI para o atendimento de pacientes com Covid-19. “A gente vê colapsando todo o sistema de saúde”, afirmou.
Segundo o prefeito, a capital registrou a primeira morte de paciente à espera de uma vaga de UTI em um hospital municipal. Para Covas, se houver continuidade do aumento de casos, “a gente vai ver ampliar esses casos de pessoas que não conseguem um leito de UTI.”
Em 2020, a prefeitura já havia antecipado os recessos para tentar frear a alta de casos na cidade. Foram antecipados os feriados de Corpus Christi, que é em junho, para 20 de março (quarta-feira), e do Dia da Consciência Negra, celebrado em novembro, para 21 de março (quinta-feira). Na sexta (22), foi decretado ponto facultativo.
Na mesma ocasião, o governador João Doria (PSDB) antecipou o feriado da Revolução Constitucionalista, de julho, para 25 de março (segunda-feira), formando assim um megaferiado.
No primeiro dia do feriado prolongado de 2020, o isolamento social na capital chegou a 51%, ante 49% registrado no dia útil anterior. Já no último dia, quando a antecipação do recesso vigorava para todo o estado, esse índice chegou a 53% na cidade e 51% no estado.
SEM LOCKDOWN
Mesmo diante do pior momento da pandemia, com registro da primeira morte de um paciente com Covid-19 na fila de espera por um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), a cidade de São Paulo não deve decretar lockdown.
Segundo o prefeito Bruno Covas (PSDB), a medida, que foi implantada nas maiores capitais europeias na primeira onda da pandemia e se alastra agora pelas cidades do interior paulista, é inviável na metrópole paulistana.
O motivo: falta de estrutura de fiscalização. “A gente tem mil GCMs [guardas-civis metropolitanos] por dia na cidade. Com esse efetivo é inviável fiscalizar se as pessoas estão saindo ou não de suas casas”, disse o prefeito.
A afirmação de Covas dada em entrevista à GloboNews, na manhã desta quinta-feira (18), contraria o que especialistas da saúde disseram à Folha sobre o tema.
Os profissionais da área da saúde afirmaram que o lockdown, mesmo considerado extremo, é a única saída para São Paulo frear a transmissibilidade do vírus, que ganhou força e tem impactado a saúde dos mais jovens.
“Diante da emergência sanitária em que estamos, só nos resta fechar tudo. Isso já deveria ter sido feito, pois o resultado só poderá ser sentido em duas a três semanas”, afirmou o infectologista Renato Grinbaum.
Por causa do ciclo de contaminação do coronavírus, que leva de 10 a 14 dias, o resultado de quaisquer medidas restritivas só começa a aparecer em cerca de duas semanas.
Para Grinbaum, um lockdown cumprido à risca pode ajudar a retomar algumas atividades econômicas em um tempo menor, evitando o “abre e fecha” que tem desgastado, na opinião do infectologista, a sociedade e a economia.
Além da falta de estrutura de fiscalização, Covas culpa as grandes dimensões da cidade e as regiões de divisa com outros municípios que dificultam o cumprimento do lockdown.
“São 1.700 ruas que começam na cidade de São Paulo e terminam em outra cidade. Ou que o lado esquerdo da via é da cidade de São Paulo e o direito de uma cidade da região metropolitana”.
Por isso, avalia o virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, o lockdown precisa ser, no mínimo, executado em âmbito estadual para ter boa eficácia.
“Temos medidas municipais e até regionais no interior do estado de São Paulo, mas quando uma cidade próxima não adere à restrição, põe a perder o esforço das demais”.
Para Covas, a medida mais viável no momento é antecipar os feriados, a exemplo do que foi feito em 2020, para manter a população dentro de casa.
“Se a gente conseguir nos próximos 15 dias que as pessoas voltem a cumprir os índices de isolamento que tivemos no início da pandemia, a gente já vai sentir uma melhora no número de casos e internações”, afirmou Covas.